Times
Mercado em 5 minutos

Mercado na expectativa pelas decisões do Fed e do Copom amanhã; veja o que esperar e os destaques desta terça (21)

Confira os temas mais quentes do mercado financeiro e das principais economias do mundo nesta terça-feira, 21 de março

Por Matheus Spiess

21 mar 2023, 09:26 - atualizado em 21 mar 2023, 09:26

Imagem representando os juros simples, mostrando uma pessoa calculando juros em uma calculadora. mercado

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em alta nesta terça-feira, seguindo as indicações amplamente positivas dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores reagindo aos mais recentes esforços para lidar com a turbulência no setor bancário global, incluindo a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, apoiada pelo governo suíço, e a união do Fed a outros bancos centrais globais para tomar ações coordenadas para melhorar o acesso dos bancos aos acordos de linha de swap de liquidez em dólares americanos, aprimorando a liquidez geral. 

Nesta manhã, os mercados europeus e os futuros americanos sobem, na expectativa para a conclusão da política monetária do Fed amanhã — os futuros indicam uma chance implícita de mais de 80% para uma alta de 25 pontos-base. Os investidores estrangeiros também aguardam pela decisão do Banco da Inglaterra, na quinta-feira, e pelo testemunho da secretária do Tesouro, Janet Yellen, perante o Congresso americano, na quarta e quinta-feira. O Brasil repercute os riscos globais, enquanto aguarda o Copom e a apresentação do arcabouço fiscal. 

A ver… 

· 00:51 — Qual será o argumento? 

Por aqui, começa hoje o Comitê de Política Monetária (Copom), que deverá manter a taxa de juros inalterada em 13,75% na conclusão da reunião amanhã. A dúvida fica por conta do comunicado, que pode apresentar um tom um pouco mais flexível para a possibilidade de queda dos juros no próximo encontro de maio. Ele ainda vai gerar atritos com a ala política do governo, mas pelo menos já direciona as expectativas para uma queda da Selic, com diligência e responsabilidade, se valendo principalmente do balanço de risco internacional (a chance de uma crise de crédito doméstico existe). 

As lideranças de Brasília já começam a debater a nova regra fiscal, que está na mão de Lula. O problema é que não houve apresentação do arcabouço fiscal antes do Copom, como esperado. Isso pode prejudicar a sinalização de queda. Hoje, a atenção fica para a reunião da Junta de Execução Orçamentária, a entrevista de Lula pela manhã e para o seminário de Haddad no BNDES. Ontem, Haddad foi aos presidentes das casas legislativas pedindo apoio das lideranças contra os ataques do PT — sim, a Fazenda, comandada por uma petista, quer se defender do próprio PT. Esquizofrenia coletiva severa. 

· 01:50 — Os ruídos americanos 

Nos EUA, o pânico bancário está finalmente mostrando alguns sinais de contenção. Enquanto as ações do First Republic Bank, o banco regional com sede em São Francisco, caíram novamente, acumulando perda de mais de 90% desde o começo de fevereiro, o setor bancário em geral se manteve razoavelmente bem na segunda-feira.  

Os investidores podem estar ficando mais otimistas sobre o setor bancário, uma vez que o UBS concordou no fim de semana em adquirir o Credit Suisse. O acordo aliviou a preocupação de que o problema do Credit Suisse se espalhasse para outros bancos. Adicionalmente, a notícia de possibilidade de expansão do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, uma espécie de Fundo Garantidor de Crédito dos EUA) também ajuda. 

Os movimentos vêm aliviando os temores de contágio, reduzindo significativamente as preocupações das contrapartes dos bancos dos EUA. Com base no VIX, o índice do medo, a resposta aos problemas bancários foi bastante moderada e certamente não indicou que um pânico mais amplo está tomando conta dos mercados. 

Agora, hoje e amanhã serão dominados pelo Federal Reserve, que considera sua próxima mudança de taxa em sua reunião do Federal Open Market Committee. Não será uma reunião fácil, uma vez que o Fed está preso entre a cruz e a espada: continuar a enfrentar a inflação ou combater a chance de uma crise bancária. 

· 02:52 — Vibrações europeias 

Na Europa, a presidente do BCE, Christine Lagarde, falará hoje ao mercado, podendo reforçar seu discurso duro da semana passada. No contexto da recente volatilidade bancária, os comentários de Lagarde provavelmente serão observados de perto, com expectativa que a autoridade comente um pouco sobre os próximos passos do BCE. 

Enquanto isso, depois de toda a tensão dos bancos, ficamos hoje também com a pesquisa de opinião ZEW, da Alemanha, sobre o sentimento empresarial. Comparativamente com o que pensávamos para a Europa na segunda metade de 2022 as coisas estão melhores, mas não o suficiente para evitar frustrações com o indicador. 

· 03:22 — Dados coreanos 

Na Ásia, os dados de exportação da Coréia do Sul no início de março mostraram uma queda bastante grande nas exportações, liderada pela fraqueza relativa da China, que ainda não liberou todo seu potencial depois da reabertura pós-Covid. O fato de que os consumidores das economias desenvolvidas têm priorizado os gastos do setor de serviços em detrimento dos gastos com bens está bem estabelecido. 

Isso prejudica a parte da equação do PIB relacionada com exportações líquidas, algo que também afeta o Brasil, mas pela ótica das commodities, uma vez que uma percepção mais arrefecida para a atividade global impacta os preços das matérias-primas, como vem acontecendo com o petróleo. Precisamos entender a profundidade e duração da crise que se aproxima, ainda bastante indefinida. 

· 04:01 — Não estamos em 2008 

Existem algumas diferenças importantes entre a saga bancária da atualidade e o que aconteceu em 2008. Por um lado, a crise de 2008 foi causada por ativos (como títulos lastreados em hipotecas) que eram difíceis de avaliar, tornando difícil para os bancos determinar quanto eles valiam. Desta vez, os ativos que causam problemas para os bancos (títulos privados e títulos do Tesouro dos EUA) são fáceis de avaliar e vender. Isso também torna a intervenção do governo muito mais eficaz. 

Adicionalmente, o governo federal americano interveio cedo para garantir os depósitos dos clientes e restaurar a confiança no sistema bancário dos EUA. O FDIC, que mencionamos acima, garante aos depositantes até US$ 250 mil, podendo ser expandido em breve, e grandes bancos dos EUA têm dinheiro para enfrentar uma eventual crise. Em outras palavras, comparativamente a 2008, o sistema é mais transparente, com uma base mais sólida, e o governo identificou os problemas remanescentes e implementou programas para lidar com eles.   

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.