Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos caíram nesta sexta-feira, após uma semana predominantemente saudável na região. Os investidores refletem agora sobre as preocupações persistentes com o setor bancário, o que joga contra as esperanças de que os bancos centrais possam estar chegando ao fim de seu ciclo de alta nas taxas de juros. Promessas de autoridades para fornecer apoio a credores e depositantes com problemas forneceram estabilidade para agentes preocupados com o fato de que o colapso de dois bancos americanos e a aquisição do Credit Suisse poderiam inaugurar uma nova crise financeira em nível global, o que eu ainda entendo como difícil.
Os mercados europeus e os futuros americanos caem nesta manhã, mesmo com a mudança do plano de jogo de política monetária do Federal Reserve e de outros bancos centrais para evitar mais problemas no setor financeiro. Ao mesmo tempo, as preocupações de que os aumentos das taxas de juros por vários bancos centrais possam desacelerar o crescimento econômico também estão pesando nos mercados. O Brasil acompanha a dinâmica mais pessimista global, mas pressionado por problemas internos, em especial o atrito entre Poder Executivo e Banco Central, que deverá continuar a acontecer ao longo das próximas semanas.
A ver…
· 00:53 — Vai ser difícil melhorar
Por aqui, os investidores absorveram com péssimo humor a abordagem mais conservadora do ponto de vista técnico do Banco Central. Como já vimos entre quarta e quinta-feira, as críticas de Lula e de sua ala política a Roberto Campos Neto devem se aprofundar, criando fissuras institucionais que prejudicam a percepção do mercado. O contexto é tão ruim que o Ibovespa perdeu os 100 mil pontos e o dólar alcançou os R$ 5,30 (sem falar na curva de juros, que voltou a embutir prêmios gordos).
O grande fiel da balança será o arcabouço fiscal, que só será apresentado em abril. Se houver esgarçamento da regra que sequer conhecemos, o humor pode piorar ainda mais — o governo se perde na discussão semântica para chamar gasto com educação e saúde de investimento, criando uma das maiores perdas de tempo da história da presidência. O correto era que a regra viesse dura e fosse eventualmente flexibilizada marginalmente no Congresso, mas parece que o PT já quer esgarçar a regra antes.
Para piorar, há um conflito político entre Lira e Pacheco pelas Medidas Provisórias, o que prejudica o cronograma do governo. Mais problemas institucionais que se traduzem em desvalorização dos ativos locais. Deixando a política de lado, vale acompanhar hoje a prévia da inflação oficial, o IPCA-15 de março, que será apresentada hoje, devendo mostrar uma desaceleração para algo como 0,67% na comparação mensal. Eventuais surpresas para cima devem pressionar os ativos locais.
· 01:56 — Suavizou o discurso
Nos EUA, as ações de tecnologia lideraram a alta da quinta-feira. Ainda assim, os ganhos de ontem não foram óbvios. Todo mundo está nervoso com os bancos no momento. O que aliviou o sentimento foi o depoimento da secretária do Tesouro, Janet Yellen, perante um comitê da Câmara dos EUA. A autoridade afirmou que fortes ações foram tomadas para garantir que os depósitos dos americanos estejam seguros e que estaríamos preparados para tomar medidas adicionais, se justificado.
O mercado também está tentando digerir o último aumento de 25 pontos-base nas taxas do Federal Reserve, anunciado na quarta-feira. Embora pareça que o Fed está perto de encerrar seu programa de aperto, é incerto quando o Fed poderá começar a cortar as taxas. Particularmente, duvido que corte os juros neste ano, devendo ainda elevar em mais 25 pontos na próxima reunião. Tudo depende dos dados da economia americana. Por isso, vale acompanhar hoje as encomendas de bens duráveis.
· 02:38 — O petróleo está desabando
As cotações do petróleo estão sendo pressionadas nas últimas semanas, com o Brent já negociando ao redor de US$ 73 por barril. Ocorre que o mercado está mais cauteloso com a economia global depois que o Fed elevou os juros mais uma vez, tendo mostrado adicionalmente que um corte de taxa não faz parte de seu cenário-base. Não apenas o Fed, mas muitos outros bancos centrais continuaram a política monetária.
Na semana passada tivemos o BCE, da Zona do Euro, e ontem tivemos o BoE, do Reino Unido, sem falar do Banco Central da Suíça. Todos subiram os juros, apesar de reconheceram que houve uma elevação no grau de incerteza quanto ao desempenho da economia mundial. Com isso, apesar da oferta mais restrita de Rússia e Opep+, o temor com o nível de atividade pressiona a cotação do petróleo. Entendo que o único vetor que poderia amortecer o movimento seria a reabertura chinesa.
· 03:19 — Diplomacia chinesa
Depois da visita de estado à Rússia nesta semana, Xi Jinping agora deve se reunir com mais dignitários enquanto tenta criar impulso para a proposta de cessar-fogo chinesa, que visa interromper a guerra da Rússia na Ucrânia. Aliás, a invasão da Rússia deve ser um tema de discussão quando o presidente brasileiro Lula visitar a China nos próximos dias. Com isso, após a visita a Moscou, Xi Jinping também deverá falar com o líder ucraniano Volodymyr Zelenskiy, mesmo que seja por link de vídeo, no que seria sua primeira conversa com o líder ucraniano desde a invasão da Rússia.
A enxurrada de negociações é um tanto promissora para Xi Jinping. Muitas nações em desenvolvimento querem que a guerra termine devido à escassez de produtos (commodities alimentícias, por exemplo) e à inflação que a acompanha. Isso sugere, por exemplo, por que o líder chinês pode estar tentando influenciar o Brasil em seu plano de 12 pontos para um cessar-fogo. Ainda assim, os obstáculos para uma aceitação mais ampla ainda são imensos, sendo que os líderes ocidentais, em sua maioria, já rejeitaram a proposta de Pequim.
· 04:07 — A situação dos bancos
Em sua coletiva de imprensa, na quarta-feira, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que as ações de emergência do Fed e de outros reguladores nas últimas semanas foram eficazes em combater a recente turbulência no setor bancário dos EUA, sendo que o Fed continua monitorando de perto a situação. Adicionalmente, ele minimizou as questões como sendo limitadas a um pequeno número de bancos.
A impressão que fica é de que o sistema bancário é robusto e resiliente. Em outras palavras, o episódio do Silicon Valley Bank parece ser atípico. Ainda assim, por conta dele, a autoridade monetária promete revisão de sua supervisão sobre bancos; afinal, o Fed é um dos principais reguladores financeiros dos EUA e tinha a responsabilidade de supervisão do Silicon Valley Bank.
Powell disse que o vice-presidente de supervisão do banco central, Michael Barr, está conduzindo uma investigação sobre como a falha aconteceu e o que o banco central pode ter perdido. Mesmo assim, os reguladores americanos agiram rapidamente e mostraram que possuem as ferramentas para proteger os depositantes e garantir a estabilidade do sistema financeiro dos EUA, aumentando a confiança nos bancos.
Um abraço,
Matheus Spiess