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Mercado em 5 minutos

Cancelamento da viagem de Lula à China pode antecipar discussão do arcabouço fiscal; veja os destaques do dia

Confira os temas mais quentes do mercado financeiro e das principais economias do mundo nesta segunda-feira, 27 de março

Por Matheus Spiess

27 mar 2023, 09:12 - atualizado em 27 mar 2023, 09:12

lula vs banco central china - mercado em 5 minutos

Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas fecharam mistas nesta segunda-feira, em um começo de semana cauteloso, com os investidores ainda avaliando o impacto dos problemas bancários nos EUA e na Europa. Na sexta-feira, o Deutsche Bank encerrou a semana vendo a queda de suas ações listadas nos EUA, depois que o CDS (uma espécie de seguro contra calote para credores) do banco alemão alcançou patamares elevados, aumentando os temores de contágio da turbulência observada no setor bancário. 

Os mercados europeus e os futuros americanos sobem nesta manhã, com alguns investidores esperançosos com a recuperação depois que as autoridades financeiras tomaram medidas destinadas a prevenir o contágio do colapso dos credores regionais. Mas o sentimento piorou após as decisões dos bancos centrais dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Suíça de aumentar as taxas de juros. No Brasil, diante do cancelamento da viagem de Lula, renascem as expectativas pelo arcabouço fiscal. 

A ver… 

· 00:44 — Vai sair ou não? 

Por aqui, a semana será importante para o mercado, porque além da possibilidade de voltarmos a discutir a nova regra fiscal, já que Lula cancelou sua viagem para a China por causa de uma pneumonia, temos também a ata do Copom, prevista para amanhã, e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), na quinta-feira, com direito à coletiva de imprensa do Roberto Campos Neto na sequência. A ideia é que o Banco Central possa se valer das duas oportunidades para suavizar, ainda que marginalmente, o tom duro do comunicado da semana passada, que gerou ruído com o Executivo. 

Enquanto isso, o cronograma do Congresso está travado por conta do racha entre o presidente da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Lula vem tentando desde o final da semana passada construir uma ponte entre os dois, mas ainda sem sucesso. É problemático porque o arcabouço fiscal vai precisar passar pela mão dos dois. Com o circo armado, dificilmente teremos alguma celeridade na aprovação de pautas importantes. Ao mesmo tempo, Lira e Pacheco podem servir de contenção para uma regra muito flexível, que dê muito poder ao Lula. 

· 01:41 — Alguns dados americanos para ficarmos acompanhando 

Nos EUA, um dos presidentes regionais do Federal Reserve dos EUA, Neel Kashkari, observou que os riscos de recessão aumentaram após a volatilidade recente no sistema financeiro. Apesar de ser uma realidade com a qual já lidamos há algum tempo, o reconhecimento de uma autoridade sempre é importante para o mercado. De qualquer forma, pode-se argumentar que o Fed já apertou bastante a sua política (o aperto monetário pode desacelerar a inflação, mas causa danos no processo). 

Para os próximos dias, vale acompanhar as falas de autoridades como o vice-presidente do Fed para supervisão, Michael Barr, e o presidente da Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC, na sigla em inglês, que funciona como um fundo garantidor), Martin Gruenberg, ambos na quarta-feira perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA — eles discutirão os colapsos do Silicon Valley Bank e do Signature Bank. Fora isso, teremos alguns dados sobre o consumo e o mercado imobiliário. 

· 02:35 — A situação dos bancos 

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e autoridades europeias tentaram acalmar os investidores. Mais recentemente, as preocupações foram desencadeadas pelo Deutsche Bank. Tanto é verdade que o chanceler alemão, Olaf Scholz, assegurou aos investidores que o Deutsche Bank é seguro e lucrativo depois que as ações do banco caíram 14 por cento (fecharam em queda de 8,5% na sexta-feira). 

Vale lembrar que o banco alemão voltou à saúde financeira em 2022, após uma grande reestruturação após anos de problemas. Entendemos que seja improvável que o governo alemão permita que o Deutsche Bank entre em colapso ou enfrente uma nova reestruturação. Ainda assim, a situação mostra a pressão contínua e crescente sobre o sistema bancário entre as principais economias ocidentais. 

Afinal, nenhum banco está imune ao clima atual.  

· 03:24 — E a demanda por petróleo? 

A demanda mundial por petróleo está a caminho de atingir o patamar mais alto já registrado, graças à recuperação da demanda chinesa. A procura por essa commodity por parte da China vai crescer ao longo do ano e acelerar a demanda por algumas centenas de milhares de barris agora no primeiro trimestre, crescendo à medida que entramos no terceiro e quarto trimestre. 

Com isso, a demanda global de petróleo em 2023 deve atingir um recorde. Não somente na China, mas a demanda da Ásia deve crescer ao longo de 2023, podendo servir de suporte para os preços do barril, que sofreram bastante nas últimas semanas, com o contrato Brent negociado por volta de US$ 75 por barril e o WTI próximo de US$ 70. Uma sustentação mais firme pode ajudar a balança comercial brasileira. 

· 04:01 — Mas afinal, a recuperação chinesa está acontecendo? 

Segundo a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, a China está mostrando sinais de recuperação econômica robusta. Em comentários proferidos no Fórum de Desenvolvimento da China de 2023, a previsão de janeiro do FMI coloca o crescimento do PIB da China em 5,2% neste ano, um aumento considerável de mais de 2 pontos percentuais em relação à taxa de 2022. Teria sido ótimo se a visita da comitiva brasileira tivesse acontecido como esperado. Uma pena. 

Isso é importante para a China e é importante para o mundo, uma vez que o país deve responder por cerca de um terço do crescimento global em 2023. A análise do FMI também observou que um aumento de um ponto percentual no crescimento do PIB na China pode levar a um aumento de 0,3 ponto percentual no crescimento de outras economias asiáticas, em média. Com uma recuperação tão robusta, a China agora pode aproveitar o momento positivo e permanecer no caminho do crescimento rumo à convergência com as economias avançadas.   

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.