Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria dos mercados asiáticos subiu nesta terça-feira, com o sentimento melhorando frente aos temores de uma crise bancária iminente, embora as ações chinesas tenham ficado atrás de seus pares, já que uma série de resultados fracos gerou dúvidas sobre uma rápida recuperação econômica neste ano. Mesmo assim, sigo acreditando que a China deve dar um impulso significativo à economia mundial, respondendo por cerca de um terço do crescimento global em 2023.
Os mercados europeus sobem timidamente nesta manhã, enquanto os futuros americanos caem. Há certa expectativa por algumas falas de autoridades dos EUA hoje, como a do vice-presidente de supervisão do Fed, Michael Barr, que pode dar mais detalhes sobre o risco de contágio da crise dos bancos regionais que temos acompanhado nas últimas semanas. No Brasil, finalmente chegou o dia da ata do último Copom, que pode flexibilizar marginalmente o comunicado da semana passada.
A ver…
· 00:44 —Há espaço para flexibilizar o tom?
Por aqui, toda a atenção dos investidores estará sobre a apresentação da ata do último Comitê de Política Monetária (Copom) agora pela manhã. O resto do dia dará tempo para que haja a devida digestão do documento, que poderá suavizar, ainda que marginalmente, o tom duro do último comunicado — ao que tudo indica, Roberto Campos Neto teria ligado para Haddad logo depois do comitê para explicar devidamente os motivos do movimento (ele sabe que marcou posição).
Além da informação de hoje, ainda contamos com o Relatório Trimestral de Inflação na quinta-feira, acompanhado da coletiva de imprensa do presidente do BC. Com os dois eventos, podemos ter mais fundamento para nivelar nossas expectativas para a taxa Selic, que deverá começar a cair apenas em junho, se é que vai recuar já neste semestre. Uma renovação do texto duro da semana passada, no entanto, poderá criar um humor menos propício no mercado, aumentando a chance de novos atritos em Brasília.
· 01:31 — Tentando solucionar a crise
Nos EUA, houve um certo otimismo depois do comunicado à imprensa de que o First Citizens BancShares assumiria todos os ativos e passivos do Silicon Valley Bank. Isso tira a pressão do setor e possibilita um maior otimismo com a economia americana, bem como com o sistema financeiro do país.
O First Citizens é um banco regional com sede em Raleigh, na Carolina do Norte, que era o trigésimo maior banco dos EUA em ativos, pelo menos até antes dessa transação. O Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC, ou uma espécie de fundo garantidor) compartilhará até 50% das perdas com empréstimos comerciais do SVB superiores a US$ 5 bilhões com o First Citizens.
Os investidores certamente gostaram do negócio do ponto de vista da First Citizens. Tudo isso não quer dizer que os investidores pensem que é o fim da história e que os danos ao setor bancário foram totalmente desfeitos. Continue esperando alguma volatilidade diária contínua nas próximas semanas. Para sabermos mais sobre a temperatura econômica, vale acompanhar hoje o índice de confiança do consumidor.
· 02:24 — E os europeus?
No velho continente, atenção para o índice de preços nas lojas do Reino Unido, que subiu devido aos preços dos alimentos. As más colheitas e os preços do açúcar foram os culpados. Isso é problemático em uma realidade na qual ainda se busca combater a inflação — o presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, disse que mais aumentos nas taxas de juros aconteceriam se a inflação persistisse. Em outras palavras, temos caminho livre para mais aperto monetário no Reino Unido.
O problema é que o impacto dos aumentos de taxas sobre a inflação vigente é mais lento e mais fraco, uma vez que não se trata única e exclusivamente de uma inflação impulsionada pela demanda, de maneira similar ao que acontece no Brasil hoje. Por isso, não acredito em um pivô das principais autoridades monetárias globais, levando à conclusão de que as taxas devem permanecer em patamares elevados por mais tempo se quisermos combater estruturalmente a inflação que testemunhamos agora.
· 03:19 — Continuamos a falar sobre os bancos
Desde o susto com o Deutsche Bank, não tivemos novidades negativas no mercado bancário. Antes dele, o que chamava a atenção era a aquisição do Credit Suisse pelo rival UBS. O risco de novos bancos acabarem colapsando ainda existe, o que deixa os investidores bem cautelosos. Será que o Deutsche Bank pode voltar a estressar?
Vamos com calma. Embora ambos os bancos estejam em modo de reestruturação, o Deutsche Bank conduziu com sucesso seu navio para águas mais calmas, tendo acabado de sair de seu ano mais lucrativo desde 2007 e não registrou uma saída recente de depósitos como o Credit Suisse.
É por isso que a queda confundiu muitos especialistas. Os analistas chamaram a situação de “mercado irracional” e sugeriram que as “manchetes” poderiam estar assustando os depositantes dos bancos. Em suma, há certa irracionalidade adicional no mercado neste momento, o que é prejudicial e pode levar os investidores a cometerem erros.
· 04:01 — Sobre o risco de estagflação
Existe uma ala de economistas que acredita que a estagflação, a combinação de alta inflação e enfraquecimento da economia, pode voltar. Como a maioria do mercado espera uma recessão em algum momento deste ano e projeta que a inflação permanecerá acima de 4%, o contexto de estagflação não parece tão distante.
Como? Bem, a inflação permanecerá em patamares elevados, com as autoridades monetárias se mostrando ineficazes em converter o crescimento dos preços para patamares saudáveis no curto prazo. Para que isso aconteça entre 2024 e 2025, uma recessão será necessária entre 2023 e 2024. O momento não é trivial.
Um abraço,
Matheus Spiess
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