Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas subiram nesta quarta-feira, na contramão das perdas em Wall Street, lideradas por ganhos consideráveis da gigante chinesa de tecnologia Alibaba, depois que a companhia anunciou que se dividiria em seis grupos de negócios. Sediada em Hangzhou, a Alibaba é uma das empresas de tecnologia mais proeminentes da China, com operações que abrangem computação em nuvem, comércio eletrônico, logística, mídia e inteligência artificial. Ideia é que as mudanças desbloqueiem valor para o acionista e promovam competitividade do mercado.
Os investidores podem ficar entusiasmados com os efeitos positivos no curto prazo. Afinal, o plano de reestruturação societária da Alibaba também pode levar outras empresas de tecnologia, como a Tencent, a seguirem o exemplo. Acompanhando o movimento positivo, os mercados europeus e os futuros americanos sobem nesta manhã, apesar do debate sobre inflação e juros, que voltou a ser central nas decisões do mercado financeiros — não sabemos qual será o próximo passo do Fed. Por aqui, as discussões ainda são sobre a política monetária e o arcabouço fiscal.
A ver…
· 00:51 — Um arcabouço fiscal crível que parece crível
No Brasil, todos aguardam a divulgação do novo arcabouço fiscal de Haddad, que deverá ser apresentado ainda nesta semana (talvez possa ser hoje, inclusive). Com a formação de expectativa, temos acompanhado a queda dos yields e a retomada dos 101 mil pontos no Ibovespa, em um típico movimento de propensão ao risco. Parte do nervosismo, porém, derivou da ata do Copom, que não suavizou tanto o tom do comunicado da semana passada como o mercado esperava — complementarmente, podemos ficar de olho amanhã no Relatório Trimestral de Inflação (RTI).
Como podemos avaliar no documento de ontem, apesar do reconhecimento dos esforços da fazenda, a desancoragem das expectativas parece ser central na decisão da autoridade monetária, tornando o debate do arcabouço fundamental para que possamos seguir em frente (não tem crise de crédito no Brasil ou no mundo que faça o BC mudar de ideia). Em outras palavras, tal como a mulher de César, que não basta ser séria, tem que parecer séria, o nosso arcabouço não basta ser crível, tem que parecer ser também, de modo a acomodar as expectativas de inflação.
· 01:45 — E a atividade americana?
Nos EUA, após o pânico que se espalhou pelos mercados financeiros durante grande parte de março, vivemos uma estranha calmaria. Os principais índices foram pouco movimentados na terça-feira, mas acabaram caminhando para um viés de queda. O motivo? O índice de confiança do consumidor subiu ligeiramente em março para 104,2 pontos, acima das expectativas. O ganho reflete uma perspectiva melhor para os consumidores com menos de 55 anos e para as famílias que ganham US$ 50 mil ou mais. Claro que isso mostra robustez na economia americana, dando espaço para mais um ajuste adicional na próxima reunião do Fed.
Dito e feito. A precificação de mais um aperto promoveu o ajuste das posições. Condições financeiras mais rígidas ainda não afetaram materialmente a confiança dos consumidores sobre a economia. Em outras palavras, a disponibilidade de empregos e o baixo desemprego mais do que compensaram o impacto negativo das recentes crises bancárias. Assim, com as estimativas de lucros caindo e os rendimentos dos títulos subindo, a atração pelas ações continua a recuar — o prêmio de risco das ações está no nível mais baixo em 15 anos nos EUA, rodando por volta de 4% ao ano, dependendo de como você avaliar (em 2020, esse prêmio estava próximo de 8%).
· 02:47 — Avaliando os preços europeus
No velho continente, os supermercados suecos estão cortando os preços dos alimentos, após crescentes preocupações sobre a extensão da inflação. O movimento não gera apenas uma inflação mais lenta, mas uma deflação total, com aumentos de preços sendo revertidos. Os suecos acompanharam movimentos semelhantes da Noruega, realizados no mês passado. Neste contexto, os preços poderiam cair mais rapidamente na Europa, mas sabemos que nem todos os países vão adotar o comportamento nórdico (o padrão é cultural e não pode ser exportado tão facilmente).
Ao mesmo tempo, depois de serem surpreendidos com preços acelerando novamente acima do esperado no Reino Unido, os investidores ficam hoje com os dados de crédito ao consumidor britânico de fevereiro. É provável que os dados de crédito recebam muito mais atenção nos próximos meses, à medida que os investidores se concentram nos padrões de empréstimo em um ambiente de juros mais elevados. Os dados desta manhã vieram mistos, mas predominantemente com tom negativo. Como poderíamos pressupor, o aperto monetário já começa a surtir efeito na economia real.
· 03:39 — Atritos franceses
A escalada da violência nas cidades da França está criando caos no governo de coalizão do presidente Emmanuel Macron, com alguns dos principais apoiadores preocupados com o fato de a situação estar saindo do controle. Tudo começou quando Macron “tratorou” uma reforma da previdência na Câmara francesa. Ainda dentro da constituição, tal ação que gerou revolta popular e dos parlamentares.
Hoje, os aliados de Macron na Assembleia Nacional ainda estão apoiando sua polêmica reforma previdenciária, mas muitos estão pedindo que ele encontre uma maneira de aliviar o calor das manifestações. Sabemos a tradição francesa e reformas desse calibre inevitavelmente acabariam por gerar insatisfação. Resta saber se a segunda principal economia da União Europeia vai conseguir se estabilizar em breve.
· 04:14 — Debatendo questões geopolíticas
As tensões geopolíticas podem receber alguma atenção dos mercados depois que Pequim sugeriu que a visita da presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, aos Estados Unidos seria vista como uma provocação séria. Com isso, os chineses alertaram sobre retaliação não especificada se Tsai se encontrar com o presidente da Câmara dos EUA, Kevin McCarthy. Sabemos que Pequim tem alguns bons motivos para agir com mais moderação do que no ano passado, tendo em vista o que aconteceu com a Rússia depois da invasão ao território ucraniano, mas ainda assim chama a atenção. E este ano as apostas são maiores, com Taiwan se preparando para uma eleição no início de 2024 que pode determinar mais proximidade com os EUA.
A reunião com McCarthy provavelmente acontecerá na próxima semana, quando Tsai para em Los Angeles no caminho de volta para Taiwan. Embora Pequim certamente reaja, o presidente chinês Xi Jinping também deve pensar cuidadosamente se deseja replicar os exercícios militares sem precedentes que ordenou depois que a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi visitou Taiwan em agosto passado. Esses exercícios, nos quais a China disparou mísseis sobre Taiwan e simulou um bloqueio naval de toda a ilha, que Pequim reivindica como parte de seu território nacional, apenas aumentaram o apoio ao partido de Tsai.
Um abraço,
Matheus Spiess