Times
Mercado em 5 minutos

Dados econômicos e digestão do arcabouço fiscal na pauta do mercado nesta sexta (31); veja os destaques do dia

Confira os temas mais quentes do mercado financeiro e das principais economias do mundo nesta sexta-feira, 31 de março

Por Matheus Spiess

31 mar 2023, 08:59 - atualizado em 31 mar 2023, 08:59

Imagem representando um investidor qualificado, mostrando um investidor analisando dados financeiros em uma mesa. arcabouço fiscal

Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas seguiram Wall Street e fecharam o dia em alta nesta sexta-feira, antes da atualização da inflação dos Estados Unidos hoje, que os investidores esperam que possa levar o Federal Reserve a conter os planos para mais aumentos nas taxas de juros. Xangai, Tóquio, Hong Kong e Sydney avançaram, enquanto os preços do petróleo caíram. Os dados industriais da China também ajudaram, com o PMI superando as expectativas para março e abrindo espaço para mais otimismo com a recuperação da economia chinesa — o próprio premiê da China, Li Qiang, afirmou que a retomada econômica está ganhando cada vez mais corpo. 

No Ocidente, os mercados europeus e os futuros americanos estão subindo nesta manhã, dando sequência à alta de ontem, ao passo que as preocupações com o sistema financeiro global diminuíram após o colapso de dois bancos nos EUA e um na Suíça. A grande expectativa do dia na agenda internacional fica por conta da medida de gastos (PCE, na sigla em inglês) com consumo nos EUA. No Brasil, o mercado está tentando entender os prós e contras da nova regra fiscal apresentada por Haddad, que agora tem um tipo de “banda diagonal endógena” (em homenagem a Chico Lopes) para zelar — em outras palavras, um jabuti típico da política brasileira. 

A ver… 

· 00:57 — O convite implícito ao aumento da carga tributária 

Por aqui, além dos dados econômicos, como resultado fiscal e taxa de desemprego, ainda digerimos hoje a nova regra fiscal apresentada por Fernando Haddad, que conferiu uma reação positiva pelo mercado, ajudado por um contexto internacional ontem pouco impeditivo. A proposta, que foi apenas genericamente apresentada (o texto formal veio apenas em abril), teve a função de limpar um pouco da incerteza no radar dos investidores, o que é fácil quando se tem uma Bolsa tão barata como a brasileira. 

Precisamos ver o texto completo para entendermos as especificidades da regra, bem como as suas excepcionalidades. Além disso, temos a tramitação no Congresso. Provavelmente, ainda poderemos aprovar o arcabouço neste semestre, mas alterações podem ser feitas. A ideia indicada tem méritos, como o planejamento no estabelecimento de metas de superávit (em uma espécie de Lei de Responsabilidade Fiscal 2.0) e limitação das despesas a 70% da receita. Mas muito dificilmente conseguiremos trabalhar sem que haja um aumento de impostos. 

Se a regra nova vai conseguir influenciar as expectativas suficientemente e alterar a postura do Banco Central é outra história, até mesmo porque a autoridade monetária não se enxerga como dura — no Relatório Trimestral de Inflação de ontem disse que a taxa de juros deveria ser de 26,5% para atingir a meta de 2023 (3,25%), algo completamente fora da realidade. Em outras palavras, a regra veio, ótimo. Ela vai conseguir alterar a trajetória da Selic? A ver. Por enquanto, vemos que há espaço para manutenção do otimismo, ainda que com correções pontuais. 

· 01:55 — O aprimoramento das expectativas 

Nos EUA, as ações tiveram ganhos saudáveis pelo segundo dia consecutivo na quinta-feira, sendo que o Dow Jones Industrial Average já subiu por sete dos últimos nove dias de negociação, enquanto o Nasdaq obteve ganhos em 10 dos últimos 14 pregões, refletindo a melhora do sentimento em relação às ações de tecnologia, especialmente nomes de grande valor de mercado. 

Nota-se que a recente turbulência em torno do setor bancário tenha diminuído no momento, ela teve um impacto nas negociações de quinta-feira. Ao mesmo tempo, aguardamos cautelosamente para saber sobre o provável aumento da regulamentação após várias falências de bancos importantes, incluindo o Silicon Valley Bank. Por enquanto, não acredito que haja um problema de solvência em escala maior. 

Sim, existem alguns problemas específicos e há uma desaceleração acontecendo, mas em termos de falências bancárias em massa e generalizadas, onde os depositantes correm grande risco, não acredito que seja o caso. Por enquanto, vale acompanhar hoje o índice de preços de gastos de consumo pessoal, o medidor preferido do Fed, que deve aumentar 4,7% na comparação anual. Surpresas cobrarão seu preço. 

· 02:50 — Dados de inflação em todo lugar 

Nem só nos EUA iremos nos preocupar hoje com índices de preços. A França e a Itália também estão divulgando os dados de preços ao consumidor de março. Como a Espanha e a Alemanha ontem, os preços da energia fazem manchetes, mas ao passo em que os preços franceses vieram acima das expectativas, os italianos ficam abaixo — a primeira onda de inflação pós-pandêmica (inflação de demanda) já está em desinflação, enquanto segunda onda (de oferta) está gradualmente arrefecendo. 

O problema é que a ressaca da segunda inflação costuma ser dolorosa, sendo mais difícil normalizar unilateralmente os índices de preços, como vimos entre ontem e hoje. Contudo, devemos ver ao longo de 2023 as medidas de inflação convergindo para algo que já está acontecendo em algumas localidades, como em Tóquio, no Japão, onde a medida de inflação desacelerou, como esperado — o processo de normalização da política monetária ao redor do mundo só deverá vir depois de preços razoáveis. 

· 03:33 — Bons sinais de atividade econômica na China 

A rápida recuperação econômica da China permaneceu robusta em março, destacada pelo sentimento dos negócios nos setores de serviços e construção atingindo o patamar mais elevado em 12 anos, sugerindo que a segunda maior economia do mundo está no caminho certo após sua reabertura. 

O índice oficial de gerentes de compras (PMI) da indústria superou as expectativas, mas ainda caiu para 51,9 em março, ante 52,6 em fevereiro. O PMI não-manufatureiro oficial, por sua vez, que mede o sentimento empresarial nos setores de serviços e construção, subiu para 58,2 em março, ante 56,3 em fevereiro. 

Depois de se expandir pelo terceiro mês consecutivo, o PMI não-manufatureiro atingiu seu nível mais alto desde maio de 2011, com os subíndices de serviços e construção também atingindo recordes. As sinalizações de crescimento da economia chinesa podem servir de suporte para a economia global. 

· 04:10 — Mais regulação vem aí 

De volta aos EUA, em retrospectiva, está claro que o sistema regulatório geral, os supervisores e a administração do banco falharam em supervisionar o Silicon Valley Bank. Foi o que disse o próprio vice-presidente de fiscalização do Fed, Michael Barr, perante o painel de Serviços Financeiros da Câmara. 

No verão de 2022, Barr observou que o SVB não era tão bem administrado, embora sua classificação de liquidez fosse satisfatória. Agora, o Fed está analisando se esses padrões eram suficientemente rigorosos, se a empresa deveria ter sido rebaixada antes e se outras medidas de supervisão deveriam ter sido tomadas. 

A declaração de abertura de Barr foi idêntica à da audiência de terça-feira no Senado, onde ele culpou a queda do SVB na má gestão do credor da taxa de juros e risco de liquidez e controles internos inadequados. Provavelmente, os EUA conviverão nos próximos anos com mais regulação sobre o setor financeiro.   

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.