Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas seguiram Wall Street e fecharam o dia em alta nesta sexta-feira, antes da atualização da inflação dos Estados Unidos hoje, que os investidores esperam que possa levar o Federal Reserve a conter os planos para mais aumentos nas taxas de juros. Xangai, Tóquio, Hong Kong e Sydney avançaram, enquanto os preços do petróleo caíram. Os dados industriais da China também ajudaram, com o PMI superando as expectativas para março e abrindo espaço para mais otimismo com a recuperação da economia chinesa — o próprio premiê da China, Li Qiang, afirmou que a retomada econômica está ganhando cada vez mais corpo.
No Ocidente, os mercados europeus e os futuros americanos estão subindo nesta manhã, dando sequência à alta de ontem, ao passo que as preocupações com o sistema financeiro global diminuíram após o colapso de dois bancos nos EUA e um na Suíça. A grande expectativa do dia na agenda internacional fica por conta da medida de gastos (PCE, na sigla em inglês) com consumo nos EUA. No Brasil, o mercado está tentando entender os prós e contras da nova regra fiscal apresentada por Haddad, que agora tem um tipo de “banda diagonal endógena” (em homenagem a Chico Lopes) para zelar — em outras palavras, um jabuti típico da política brasileira.
A ver…
· 00:57 — O convite implícito ao aumento da carga tributária
Por aqui, além dos dados econômicos, como resultado fiscal e taxa de desemprego, ainda digerimos hoje a nova regra fiscal apresentada por Fernando Haddad, que conferiu uma reação positiva pelo mercado, ajudado por um contexto internacional ontem pouco impeditivo. A proposta, que foi apenas genericamente apresentada (o texto formal veio apenas em abril), teve a função de limpar um pouco da incerteza no radar dos investidores, o que é fácil quando se tem uma Bolsa tão barata como a brasileira.
Precisamos ver o texto completo para entendermos as especificidades da regra, bem como as suas excepcionalidades. Além disso, temos a tramitação no Congresso. Provavelmente, ainda poderemos aprovar o arcabouço neste semestre, mas alterações podem ser feitas. A ideia indicada tem méritos, como o planejamento no estabelecimento de metas de superávit (em uma espécie de Lei de Responsabilidade Fiscal 2.0) e limitação das despesas a 70% da receita. Mas muito dificilmente conseguiremos trabalhar sem que haja um aumento de impostos.
Se a regra nova vai conseguir influenciar as expectativas suficientemente e alterar a postura do Banco Central é outra história, até mesmo porque a autoridade monetária não se enxerga como dura — no Relatório Trimestral de Inflação de ontem disse que a taxa de juros deveria ser de 26,5% para atingir a meta de 2023 (3,25%), algo completamente fora da realidade. Em outras palavras, a regra veio, ótimo. Ela vai conseguir alterar a trajetória da Selic? A ver. Por enquanto, vemos que há espaço para manutenção do otimismo, ainda que com correções pontuais.
· 01:55 — O aprimoramento das expectativas
Nos EUA, as ações tiveram ganhos saudáveis pelo segundo dia consecutivo na quinta-feira, sendo que o Dow Jones Industrial Average já subiu por sete dos últimos nove dias de negociação, enquanto o Nasdaq obteve ganhos em 10 dos últimos 14 pregões, refletindo a melhora do sentimento em relação às ações de tecnologia, especialmente nomes de grande valor de mercado.
Nota-se que a recente turbulência em torno do setor bancário tenha diminuído no momento, ela teve um impacto nas negociações de quinta-feira. Ao mesmo tempo, aguardamos cautelosamente para saber sobre o provável aumento da regulamentação após várias falências de bancos importantes, incluindo o Silicon Valley Bank. Por enquanto, não acredito que haja um problema de solvência em escala maior.
Sim, existem alguns problemas específicos e há uma desaceleração acontecendo, mas em termos de falências bancárias em massa e generalizadas, onde os depositantes correm grande risco, não acredito que seja o caso. Por enquanto, vale acompanhar hoje o índice de preços de gastos de consumo pessoal, o medidor preferido do Fed, que deve aumentar 4,7% na comparação anual. Surpresas cobrarão seu preço.
· 02:50 — Dados de inflação em todo lugar
Nem só nos EUA iremos nos preocupar hoje com índices de preços. A França e a Itália também estão divulgando os dados de preços ao consumidor de março. Como a Espanha e a Alemanha ontem, os preços da energia fazem manchetes, mas ao passo em que os preços franceses vieram acima das expectativas, os italianos ficam abaixo — a primeira onda de inflação pós-pandêmica (inflação de demanda) já está em desinflação, enquanto segunda onda (de oferta) está gradualmente arrefecendo.
O problema é que a ressaca da segunda inflação costuma ser dolorosa, sendo mais difícil normalizar unilateralmente os índices de preços, como vimos entre ontem e hoje. Contudo, devemos ver ao longo de 2023 as medidas de inflação convergindo para algo que já está acontecendo em algumas localidades, como em Tóquio, no Japão, onde a medida de inflação desacelerou, como esperado — o processo de normalização da política monetária ao redor do mundo só deverá vir depois de preços razoáveis.
· 03:33 — Bons sinais de atividade econômica na China
A rápida recuperação econômica da China permaneceu robusta em março, destacada pelo sentimento dos negócios nos setores de serviços e construção atingindo o patamar mais elevado em 12 anos, sugerindo que a segunda maior economia do mundo está no caminho certo após sua reabertura.
O índice oficial de gerentes de compras (PMI) da indústria superou as expectativas, mas ainda caiu para 51,9 em março, ante 52,6 em fevereiro. O PMI não-manufatureiro oficial, por sua vez, que mede o sentimento empresarial nos setores de serviços e construção, subiu para 58,2 em março, ante 56,3 em fevereiro.
Depois de se expandir pelo terceiro mês consecutivo, o PMI não-manufatureiro atingiu seu nível mais alto desde maio de 2011, com os subíndices de serviços e construção também atingindo recordes. As sinalizações de crescimento da economia chinesa podem servir de suporte para a economia global.
· 04:10 — Mais regulação vem aí
De volta aos EUA, em retrospectiva, está claro que o sistema regulatório geral, os supervisores e a administração do banco falharam em supervisionar o Silicon Valley Bank. Foi o que disse o próprio vice-presidente de fiscalização do Fed, Michael Barr, perante o painel de Serviços Financeiros da Câmara.
No verão de 2022, Barr observou que o SVB não era tão bem administrado, embora sua classificação de liquidez fosse satisfatória. Agora, o Fed está analisando se esses padrões eram suficientemente rigorosos, se a empresa deveria ter sido rebaixada antes e se outras medidas de supervisão deveriam ter sido tomadas.
A declaração de abertura de Barr foi idêntica à da audiência de terça-feira no Senado, onde ele culpou a queda do SVB na má gestão do credor da taxa de juros e risco de liquidez e controles internos inadequados. Provavelmente, os EUA conviverão nos próximos anos com mais regulação sobre o setor financeiro.
Um abraço,
Matheus Spiess