As ações da Natura (NTCO3) operam com alta volatilidade no pregão desta terça-feira (4), depois que a companhia anunciou a assinatura de um contrato vinculante para vender a Aesop para a L’Oréal.
O papel chegou a subir mais de 8% no período da manhã, mas a valorização foi revertida e a ação opera em queda de 1,30% por volta das 16h.
Na visão da analista Larissa Quaresma, da Empiricus Research, a venda da Aesop é positiva para a Natura. Em primeiro lugar, ela destaca o valor da transação: US$ 2,52 bilhões, ou R$ 12,8 bilhões na conversão atual.
“Consideravelmente acima do que estávamos esperando, que era uma venda no valor de R$ 9 bilhões. A venda corresponde a mais de 70% do valor de mercado da Natura, que fechou a última segunda-feira (3) valendo R$ 18 bilhões. Até acho que por isso a ação abriu subindo tanto”, afirmou Larissa.
Um outro ponto positivo é o ganho de capital expressivo que a Natura teve com a Aesop como investimento. A empresa foi comprada em 2013 por US$ 100 milhões. Portanto, a venda por US$ 2,52 bi representa um retorno de mais de 25 vezes sobre o capital investido.
Por que a companhia vendeu sua marca mais rentável?
Larissa explica que o principal objetivo da Natura com a venda foi a redução da alavancagem financeira.
A companhia fechou o ano de 2022 com o índice Dívida Líquida/EBITDA de 7,8 vezes. “É muita alavancagem. Para se ter noção, consideramos que a situação financeira começa a ficar mais apertada acima de 3,5 vezes a Dívida Liquida/EBITDA. A Natura estava mais que o dobro disso, é uma situação muito perigosa no ponto de vista de solvência da empresa”, explica.
A dívida bruta da Natura é estimada em R$ 13,4 bilhões de reais. Portanto, com os fundos levantados com a venda, a companhia consegue quitar a dívida quase integralmente, o que reduz o risco financeiro associado à tese.
Por outro lado, a Aesop era a marca de melhor performance do grupo, que tem as marcas Natura, Avon e The Body Shop. “Ela tinha posicionamento mais premium, vendia produtos mais caros, com melhor margem e para um público mais seleto. Era uma marca bem rentável para o grupo”, apontou Larissa.
Sendo assim, embora a venda tenha sido positiva do ponto de vista de estrutura de capital, o ponto de vista estratégico ainda deixa a analista com o pé atrás.
“Sobraram as três marcas que trabalham com camadas mais baixas na pirâmide de renda, o que torna o business mais vulnerável neste momento de desaceleração global. A gente tem dúvida se vai ser uma empresa de sucesso, ainda mais para atravessar esse momento difícil que temos no curtíssimo prazo”, analisa.
Hora de comprar NTCO3?
É claro que a prioridade da Natura no momento é pagar as dívidas e mitigar os riscos da alta alavancagem que possui. A venda da Aesop deverá ser concluída apenas no 3T23, quando a companhia poderá destinar o dinheiro ao pagamento de passivos e programar os próximos passos.
“A empresa tem dívidas de curto prazo que são muito caras, e dívidas de longo prazo que são mais baratas. Essa dívida de curto prazo deve pressionar muito o fluxo de caixa da companhia no dia a dia. A redução de custo, geração de caixa e racionalização do portfólio do ponto de vista estratégico, vem mais no final do ano”, explica Larissa.
Por isso, a recomendação da Empiricus Research para NTCO3 é neutra. Na visão da analista, o momento é de observar como a Natura se comporta sem o desempenho de sua melhor marca para, então, reavaliar a tese.
Confira os comentários de Larissa Quaresma sobre NTCO3 na íntegra no programa Giro do Mercado: