Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria das moedas e ações asiáticas subiram nesta terça-feira (11), antes de dados importantes da inflação nos EUA, os quais podem dar mais clareza sobre o caminho de aumento da taxa de juros do Federal Reserve — ontem (10), um dos representantes do Fed, John Williams, disse que espera que a inflação diminua rumo aos 3,75% este ano e provavelmente caia para a meta de 2% do banco central até 2025 —, e depois da inflação chinesa ter desacelerado para a mínima em 18 meses.
Os mercados europeus voltam hoje do feriado em alta, enquanto os futuros dão prosseguimento para o tom mais otimista do final do pregão de segunda-feira. Internacionalmente, ainda contamos com o segundo dia da Reunião de Primavera do FMI e Banco Mundial, com várias sinalizações relevantes de diferentes autoridades globais, inclusive brasileiras. Por aqui, paralelamente à viagem de Lula ao gigante asiático, aguardamos ansiosamente pelos dados oficiais de inflação em março.
A ver…
· 00:47 — Só espere mais um pouquinho, até sexta-feira…
No Brasil, os desafetos de Brasília viajam para fora do país. Enquanto Roberto Campos Neto embarca para Washington, Lula e sua comitiva vão para a China, em uma viagem que deveria ter acontecido ainda dentro dos 100 primeiros dias, mas que foi postergada por questões de saúde. Enquanto estiver fora, Lula contará com Alckmin, seu vice, e Tebet, sua ministra do Planejamento e Orçamento, para enviar ao Congresso o texto formal do novo arcabouço fiscal junto do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024. O envio deverá se dar até sexta-feira (14) e poderá balizar muito as expectativas do mercado a depender do que foi escrito no detalhamento da proposta.
Ainda ontem, Haddad havia garantido que nada de relevante do que foi apresentado seria alterado, mas há relatos conflitantes. O pior deles está relacionado ao desejo de Lula de vincular os pisos previstos na Constituição Federal para aplicação de recursos do Orçamento nas áreas de saúde e educação a uma regra de gasto por habitante. A depender do resultado, teremos efeitos diretos sobre a curva de juros e, consequentemente, as ações. Até lá, podemos nos debruçar sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que sai hoje e deve mostrar alta de 0,77% na base mensal, ou de 4,7% no ano (uma bela desaceleração de 5,60%).
· 01:53 — Compasso de espera
Nos EUA, as ações começaram uma grande semana com pequenos movimentos. Os investidores ainda discutiam o relatório de empregos de março da última sexta-feira, quando o mercado estava fechado. As conclusões para os investidores são variadas. Um lento declínio nas contratações deixa a porta aberta para um “soft landing” econômico (elevar juros sem provocar uma recessão). Mas a alta oferta de empregos, a taxa de desemprego em 3,5% e nenhuma catástrofe econômica à vista sugerem que o Federal Reserve tem espaço para continuar apertando a política monetária.
Essa incerteza, sem dúvida, pesa sobre o sentimento dos investidores e pressiona os valuations das empresas. Agora, os investidores trabalham em compasso de espera para os relatórios de inflação na quarta-feira, que devem mostrar um aumento de 5,2% em relação ao ano anterior, contra um aumento de 6% até fevereiro. Na sequência, ainda temos o índice de preços ao produtor de março na quinta-feira. Quanto mais a inflação acelerar, mais fácil será para o Fed justificar um fim de aperto monetário. Sim, ainda devemos ter mais 25 pontos de ajuste, mas deverão ser os últimos.
· 02:48 — Vai manter o ritmo
No Japão, o novo governador (presidente) da autoridade monetária indicou que espera manter sua política de taxas de juros baixas sem mudanças drásticas. O movimento dialoga com nossa temática de ontem, quando comentamos sobre o novo comandante do Banco do Japão, Kazuo Ueda. Segundo ele, uma revisão de longo prazo, que visa promover um crescimento econômico mais forte, mantendo a inflação perto da meta de 2%, pode eventualmente ser necessária, mas o plano de voo geral será mantido.
O resultado é que o governador Ueda não está apenas fazendo um esforço temporário para não abalar o barco da política, mas está, na verdade, alterando o rumo da política no momento. Os riscos crescentes de uma desaceleração global junto com os atrasos da política monetária significam que o BoJ está ciente de que qualquer aperto agora pode ser pego de surpresa por uma recessão das economias desenvolvidas. Isso é importante para os mercados centrais e para as moedas fortes.
· 03:35 — A inflação chinesa
Os dados de inflação da China em março desaceleraram ainda mais. O índice mostrou uma alta de 0,7% em março na comparação anual, contra 1% em fevereiro (e abaixo da expectativa do mercado de 1%). Parece que, ao contrário de algumas economias desenvolvidas, a China não está experimentando uma inflação elevada, o que deveria mudar com o processo de reabertura ao longo de 2023. A diferença é que, diferentemente do Ocidente, a reabertura por lá não está sendo acompanhada por tantos estímulos — por aqui, o excesso de dinheiro fez parte do processo inflacionário.
Agora, se a inflação baixa na China provocar uma resposta de estímulo político, isso é algo que pode ter implicações internacionais — os gastos com infraestrutura, por exemplo, tendem a ser mais intensivos em commodities. Isso dependerá da posição dos formuladores de política monetária da China — se eles enxergam a inflação baixa como consequência da demanda fraca. Ao mesmo tempo, a baixa inflação dá mais margem para estímulos do governo caso haja um entendimento de que passaremos por uma recessão muito duro no Ocidente. Em sendo o caso, poderá ajudar o Brasil.
· 04:31 — Afetando os russos
Demorou um pouco, mas a economia da Rússia está finalmente começando a sentir os efeitos das duras sanções ocidentais. Durante grande parte do ano passado, houve uma aparente desconexão entre o estado da economia da Rússia e o escopo das medidas punitivas impostas a Moscou pelos EUA e seus aliados. Mas a lenta queima de sanções, muitas das quais só entraram em vigor nos últimos meses, após longas negociações entre aliados, agora finalmente está sendo sentida pela economia russa.
Os altos preços globais da energia durante o primeiro semestre de 2022 manteve a economia da Rússia viva, e seu produto interno bruto caiu pouco, quando muitos analistas inicialmente anteciparam uma contração de até 15% vinculada às sanções (os gastos do governo também ajudaram muito, mas o destino dos recursos era predominantemente militar). Além disso, demorou um pouco para a Europa largar o gás natural russo.
Agora, a receita de energia do Kremlin caiu quase pela metade nos primeiros dois meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2022. O déficit orçamentário do país também está aumentando à medida que Putin continua injetando dinheiro em seu complexo militar-industrial e no Irã. Enquanto isso, a fuga de talentos como resultado de profissionais russos que fogem gradualmente da autocracia do Kremlin também está prejudicando a produção econômica.
Até mesmo a elite política da Rússia agora diz que as coisas parecem sombrias, oligarcas alertando que o país pode ficar sem dinheiro no ano que vem, a menos que países amigos interfiram para ajudar — China e Índia continuam comprando grandes quantidades de petróleo russo, mas com um desconto significativo. Isso não muda, porém, a realidade difícil para os russos, que devem ver o país ficando cada vez mais atrasado frente às outras nações.
Um abraço,
Matheus Spiess