Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam mistos nesta quinta-feira (13), depois que o Federal Reserve disse ontem em sua ata que seus economistas esperam uma “recessão leve” neste ano. Xangai, na China, e Hong Kong caíram enquanto Tóquio e Seul avançaram. O contexto é reflexo de uma quarta-feira mais tensa ao final do pregão nos EUA, com os investidores vendo uma probabilidade crescente de pelo menos uma breve recessão nos EUA após aumentos nas taxas de juros para reduzir a inflação.
Os mercados europeus também não possuem uma única direção nesta manhã, enquanto os futuros americanos conseguem sustentar uma modesta alta. A agenda global repercute os dados fortes da balança comercial da China, bem como a inflação ao consumidor americano. Para hoje, temos inflação ao produtor nos EUA, que ocupará a cabeça dos investidores e poderá definir ainda mais as expectativas para a próxima reunião do Fed. Falas de autoridades monetárias também possuem relevância.
A ver…
· 00:42 — Um horizonte menos opaco
No Brasil, em dia de agenda local esvaziada, ainda sentimos as vibrações de um arcabouço fiscal não explosivo e de um IPCA abaixo do esperado. O Ibovespa flerta com os 108 mil pontos e o dólar voltou para baixo de R$ 5,00 — o fluxo tem ajudado bastante, claro, mas nota-se um aprimoramento do ambiente, que provoca propensão ao risco nas movimentações dos agentes de mercado. A boa dinâmica para as commodities também ajuda, principalmente depois da forte balança comercial chinesa.
A devolução dos prêmios sobre a curva de juros também continua acontecendo, apesar da manutenção do tom cauteloso de Roberto Campos Neto, presidente do BC, em evento em Washington. A autoridade vem reconhecendo os esforços da ala econômica do governo e os avanços, ainda que marginais, nas medições de inflação. Mesmo assim, o discurso segue duro, tratando a Selic elevada como o remédio correto para tratar a inflação e a desancoragem das expectativas. Resta saber a dose certa.
· 01:26 — Os produtos americanos
Nos EUA, os investidores digeriram ontem o último relatório de preços ao consumidor, que mostrou uma inflação caindo para 5% na comparação anual em março, abaixo da estimativa de 5,2% e da taxa de 6% de fevereiro — o componente de alimentos do índice ficou estável no mês, enquanto “comida em casa” caiu 0,3%, sua primeira queda desde setembro de 2020. Os sinais são positivos.
Claro, ainda possuímos alguns pontos de atenção, como o chamado núcleo da inflação (exclui as categorias mais voláteis de alimentos e energia), que acelerou um pouco, com crescimento anual de 5,6% contra 5,5% no mês anterior. Ainda assim, o avanço foi perceptível, com a inflação podendo estar esfriando de acordo com algumas métricas. As ações reagiram bem até a ata do Federal Reserve, que virou um pouco o jogo.
O documento do Fed sugeriu que alguns membros achavam que aumentar implacavelmente as taxas sem nunca parar para entender as consequências pode não ser a melhor estratégia possível. Tanto é verdade que a visão de “recessão leve” dos economistas da equipe ganhou contornos mais relevantes no último encontro — depois de um aperto monetário como o atual, seria natural uma recessão, ainda que leve.
Complementarmente, hoje teremos a divulgação do índice de preços ao produtor de março. Estima-se que o IPP (ou PPI na sigla em inglês) aumentará 3,1% em relação ao nível do ano anterior, o menor desde fevereiro de 2021, enquanto o núcleo do PPI aumentará 4,3%. Isso compara com ganhos de 4,6% e 4,4%, respectivamente, em fevereiro. Números ainda mais benignos podem estimular os mercados internacionais.
· 02:39 — China com balança comercial forte
Na China, as ações não reagiram tanto aos bons dados da balança comercial, os quais mostraram que as exportações do país se recuperaram inesperadamente em março, sinalizando alguma melhora na fraca demanda offshore que afetou o setor manufatureiro do país.
O superávit de US$ 88,19 bilhões em março da balança foi mais que o dobro do esperado pelos agentes de mercado (US$ 41 bilhões) — as exportações cresceram 14,8% na base anual, enquanto as importações caíram 1,4% (esperava-se queda das exportações e um número bem pior nas importações).
Entende-se que o governo central da China enfatizou recentemente a importância do crescimento das exportações, o que pode ter mudado as prioridades das autoridades locais. Ao mesmo tempo, vemos que a recuperação chinesa acontece intensamente, servindo de amortecedor para a economia mundial, o que é positivo.
· 03:16 — O conflito pelos semicondutores
As consequências econômicas dos conflitos geopolíticos envolvendo os semicondutores estão sendo vistas em muitos setores, à medida que a China busca promover uma nova ordem mundial. O Japão agora está restringindo as exportações de 23 tipos de equipamentos usados para fabricar semicondutores em um movimento que provavelmente afetará empresas como Nikon e Tokyo Electron.
A batalha começou quando os EUA procuraram isolar a China de uma das tecnologias mais importantes do futuro, fazendo lobby com seus aliados no exterior para tomar medidas, bem como a aprovação do “Chips Act” na frente doméstica e implementando sérios controles de exportação próprios. Os chineses, que estão bem atrasados nesta frente, não estão nada satisfeitos com os movimentos americanos.
Para piorar, a Holanda também concordou anteriormente com um pedido americano para impor restrições de exportação à China, limitando chips poderosos e ferramentas de litografia profunda da empresa holandesa ASML. No centro disso tudo? Taiwan, responsável pela produção de 90% dos semicondutores mais avançados. Os atritos neste segmento só começaram e devem se aprofundar muito na próxima década.
· 04:04 — O final do aperto monetário
Será que os aumentos das taxas do banco central dos países centrais estão chegando ao fim? Provavelmente sim. O Banco Central da Austrália interrompeu seu ciclo de aperto agressivo, mantendo as taxas inalteradas pela primeira vez em quase um ano — a taxa oficial foi mantida em 3,60%, dando um tempo importante para avaliar os últimos acontecimentos envolvendo a turbulência financeira decorrente do colapso do Silicon Valley Bank, Credit Suisse e outros.
Os eventos no sistema bancário também podem contribuir para um aperto significativo nas condições de crédito ao longo do tempo e, em princípio, isso significa que a política monetária pode ter menos trabalho a fazer. Em outras palavras, as preocupações com o crescimento e a estabilidade financeira podem em breve superar as ameaças de inflação em termos de prioridades de outros bancos centrais ao redor do mundo, como o próprio Fed — ainda que suba mais uma vez em maio, pode parar na sequência.