Hoje (25), antes da abertura do mercado, o Santander Brasil divulgou seus resultados operacionais do 1T23, que vieram em linha com a expectativa – embora ajudado por uma reversão de provisão para contingência tributária. O lucro líquido foi de R$ 2 bilhões, com retorno sobre patrimônio líquido (ROE) de 10,6%. Sem a reversão de provisão, estimamos que o banco teria entregue um prejuízo de R$ 2,6 bilhões.
A carteira de crédito ampliada cresceu 12% na comparação anual, para R$ 586 bilhões. A alta foi puxada pelos segmentos de grandes empresas (+19%), com destaque para comércio exterior (+43%). Diferentemente dos trimestres anteriores, o crescimento veio de linhas mais conservadoras, que têm menor inadimplência, mas, também, menores spreads.
A margem com clientes (receita de empréstimos menos o custo de captação) ficou em R$ 14,3 bilhões, crescimento anual de 3% e com spread médio de 10,6% (-0,8p.p. na comparação anual). Já a margem com o mercado, que reflete o resultado da tesouraria, foi um prejuízo de R$ 1,2 bilhão, dado que a curva de juros subiu e o banco tem uma exposição negativa a ela. Com isso, a margem financeira total foi de R$ 13,1 bilhão, queda anual de 6%.
A inadimplência, por sua vez, segue sua trajetória de alta: o índice de empréstimos atrasados há mais de 90 dias atingiu 3,2% da carteira de crédito total (+0,2p.p.). A deterioração foi causada, mais uma vez, pelos segmentos de pessoa física (+0,5p.p.) e pequenas e médias empresas (+0,6p.p.). Além da piora na inadimplência, o banco decidiu fazer uma provisão adicional para perdas de crédito no valor de R$ 4,2 bilhões, o que levou a provisão total para R$ 11,0 bilhões (+123% anualmente). Com isso, a margem financeira após inadimplência total fica em R$ 2,1 bilhões (-77% ano contra ano).
As receitas de prestação de serviços cresceram 2% anualmente, para R$ 4,7 bilhões. A alta foi puxada pelas operações de crédito (+16%) e conta corrente (+4%). A principal linha de serviços, a de tarifas de cartões, teve um crescimento modesto, de 2%, confirmando a tendência de desaceleração no consumo.
Por sua parte, as despesas gerais atingiram R$ 5,9 bilhões, crescimento de 7% na comparação anual. A alta foi causada pelas despesas de pessoal (+11%), pressionadas pela inflação do período. Isso levou a uma piora do índice de eficiência (que relaciona as despesas com a receita total), subindo para 40,8% (+4,8p.p.).
Não fosse uma reversão de provisão para riscos tributários, de R$ 4,2 bilhões, a companhia teria entregue um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, na nossa estimativa. Esse efeito vem da disputa judicial envolvendo a cobrança de PIS/Cofins sobre receita financeira, tributos que os bancos entendem ser devidos somente sobre receitas de produtos e serviços. Com isso, o lucro líquido final ficou em R$ 2,0 bilhões (-48%), com ROE de 10,6% (-10p.p.).
Recomendação neutra para Santander Brasil (SANB11)
Do nosso lado, fica claro que a inadimplência segue pesando (e muito) sobre o resultado do Santander, que tem uma carteira de crédito mais arriscada. Além disso, consideramos que o já baixo ROE, de 11%, embute uma baixa qualidade de resultado, ajudado por efeitos não recorrentes. Considerando o valuation já descontado (1x valor patrimonial), temos uma recomendação neutra para Santander Brasil (SANB11).
Se quiser conferir uma visão aprofundada do balanço trimestral, te convido a assistir ao Giro do Mercado de hoje (25), em que comento mais sobre o resultado trimestral do banco: