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Mercado em 5 minutos

Fed e Copom iniciam reuniões para decidir juros, First Republic Bank comprado pelo JP Morgan e mais; veja os destaques desta terça (2)

Fed deve anunciar amanhã última alta de 25 pontos-base, enquanto Selic deve permanecer inalterada. Mais recente falência bancária nos EUA preocupa mercado

Por Matheus Spiess

02 maio 2023, 09:00 - atualizado em 02 maio 2023, 09:00

Imagem representando como declarar Juros sobre Capital Próprio no Imposto de Renda, mostrando uma pessoa calculando quando recebeu de JCP no ano anterior. selic mercado

Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas terminaram a terça-feira (2) sem uma única direção, com alguns mercados fechados e investidores mostrando uma reação silenciosa à mais recente falência bancária histórica dos EUA. Em solo americano, o First Republic Bank foi adquirido, ressuscitando a preocupação constante de que os problemas bancários sejam sistêmicos e não pontuais. Pelo menos o movimento de compra do JP Morgan foi recebido com certo alívio, reduzindo riscos de um contágio imediato. 

Os mercados europeus caem nesta manhã, assim como os futuros americanos. No Ocidente, o grande tema da semana é a reunião de política monetária do Federal Reserve, que começa hoje e será concluída na quarta-feira (3), devendo elevar em 25 pontos-base a taxa de juros nos EUA — poderá ser a última alta deste ciclo de aperto monetário. No Brasil, voltando do feriado de segunda-feira, os investidores também ficam de olho na reunião do Copom, que deverá manter a Selic inalterada em 13,75%. 

A ver… 

· 00:47 — Novos métodos de arrecadação 

Em uma semana com menos indicadores econômicos, a atenção se volta à temporada de resultados e à reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). O encontro começa hoje e tem sua conclusão amanhã, devendo manter inalterada a taxa de juros em 13,75% ao ano, mas já dando os primeiros sinais de flexibilização do tom utilizado pela autoridade monetária, podendo realizar um corte na taxa na reunião de junho e ou, mais provavelmente, no encontro de agosto. As quedas, quando começarem, devem ser graduais e marginais, uma vez que a inflação ainda está elevada. 

Em paralelo, também chamou a atenção a decisão do governo de taxar os rendimentos no exterior das pessoas físicas residentes no Brasil. A ideia é compensar a elevação da faixa de isenção para dois salários-mínimos (R$ 2.112) — na prática, ficam isentos os trabalhadores que recebem até R$ 2.640 por mês. Com isso, estima-se que 13,7 milhões de pessoas serão beneficiadas já neste mês, com um impacto fiscal de R$ 3,2 bilhões neste ano, em R$ 5,88 bilhões em 2024 e em R$ 6,27 bilhões em 2025. Para a tributação das contas no exterior, a norma só vale a partir de janeiro de 2024. 

A taxação dos rendimentos sobre capital investido no exterior será com alíquotas progressivas, de 0% a 22,5% — a isenção vai até R$ 6 mil, com a alíquota máxima sendo aplicada a partir de R$ 50 mil. O movimento, em linha com a regra recomendada pela OCDE (já usada na Alemanha, no Canadá, no Japão, na França e no Reino Unido, por exemplo), pode gerar certo estresse no curto prazo, mas provoca um bom alívio fiscal, podendo arrecadar aos cofres públicos até R$ 6,75 bilhões em 2025. Mais iniciativas arrecadatórias devem ser observadas em breve (fundos exclusivos). 

· 01:54 — Estresse na semana do Fomc 

Nos EUA, os índices de ações tiveram uma segunda-feira bem volátil, encerrando o dia com perdas modestas, já que outro capítulo da turbulência bancária de 2023 parece terminar. As maiores notícias surgiram no fim de semana. O JPMorgan Chase assumiu os ativos e depósitos do First Republic Bank (FRB) em um acordo intermediado pelo Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC), que interveio sobre o credor problemático. 

Todos os depósitos estão sendo protegidos, sejam eles segurados ou não. O JPMorgan e o FDIC compartilharão as perdas e quaisquer recuperações da transação. Os investidores não terão muito tempo para se debruçar sobre os detalhes dessa saga, uma vez que temos outra grande semana da temporada de resultados do primeiro trimestre, com mais de 150 empresas do S&P 500 prestes a divulgar seus números. 

Adicionalmente, na quarta-feira, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) anunciará sua decisão de política monetária. A ideia é de que tenhamos mais um aumento de 25 pontos-base, colocando os juros entre 5,00% e 5,25% ao ano, o patamar mais alto desde a crise financeira global de 2008. A decisão acontece entre a compra do JP Morgan e os dados de emprego de sexta-feira, elevando a tensão para amanhã. Isso sem falar dos problemas envolvendo o teto da dívida do governo. 

· 02:50 — A questão bancária 

Quando a crise bancária dos EUA eclodiu há quase dois meses, 11 grandes bancos dos EUA mergulharam para salvar o First Republic Bank (FRB) injetando US$ 30 bilhões para fortalecer a confiança dos investidores. Mas o péssimo resultado trimestral do banco mostrou que o resgate apenas interrompeu temporariamente o sangramento. Com isso, o FRB se tornou a segunda maior falência de um banco dos Estados Unidos. 

Agora, os 84 escritórios da First Republic serão assumidos pelo JPMorgan, que disse não estar assumindo a dívida corporativa ou as ações preferenciais da First Republic (a intervenção dos EUA é semelhante a quando o governo suíço administrou a venda do Credit Suisse ao rival UBS). Espera-se que a transação aumente os ganhos do JPMorgan e gere mais de US$ 500 milhões em receita líquida incremental por ano. 

A situação mostra um pouco do perigo que as taxas de juros mais altas representam para os balanços dos bancos que compraram muitos títulos quando as taxas eram quase zero e agora precisam vendê-los por um preço muito mais baixo. Agora, o JP Morgan está recebendo cerca de US$ 186 bilhões em ativos e assumindo US$ 168 bilhões em passivos, obtendo US$ 18 bilhões líquidos em ativos, enquanto paga cerca de US$ 10 bilhões ao FDIC. É um alívio para o mercado, apesar do estresse. 

· 03:45 — A situação turca 

Recep Tayyip Erdoğan dominou a política da Turquia nos últimos 20 anos, primeiro como primeiro-ministro e agora como presidente. Ao atrair o apoio de eleitores socialmente conservadores há muito ignorados no coração rural da Anatólia, ele quebrou o estrangulamento da política de seu país há muito tempo mantido por uma elite empresarial nas três maiores cidades da Turquia que governavam com interferência frequente dos militares. 

Mas, no processo, Erdoğan também demonstrou disposição para minar a democracia de seu país marginalizando e, às vezes, prendendo críticos e jornalistas independentes para proteger seu poder. Uma tentativa fracassada de golpe em julho de 2016 apenas aumentou o impulso de Erdoğan para um controle mais rígido da política da Turquia. Agora, depois de mais de duas décadas de domínio político, uma iminente eleição presidencial deixa Erdoğan diante de um sério desafio.  

Inflação descontrolada, crise cambial e escândalos decorrentes de terremotos devastadores em fevereiro, que mataram dezenas de milhares e deixaram milhões de desabrigados, se combinaram para colocar Erdoğan em uma situação difícil antes do primeiro turno de votação em 14 de maio. Talvez o mais importante, a oposição do país parece muito mais unificada do que no passado. Considerando o posicionamento do país, uma troca de governo na Turquia pode ser um dos grandes eventos de 2023. 

· 04:37 — Os problemas com a demanda global 

As fábricas da China estão enfrentando uma demanda global mais fraca. Os índices dos gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) para abril denotaram uma desaceleração inesperada na atividade fabril, a primeira vez que o indicador cai abaixo de 50 pontos neste ano. Os subíndices de novos pedidos, novos pedidos de exportação e emprego industrial estavam todos em território de contração. 

A recuperação econômica da China corre o risco de perder força, com os números aumentando a pressão sobre o governo para aumentar o apoio político (estímulos). O Politburo do Partido Comunista, o principal órgão de tomada de decisão liderado pelo presidente Xi Jinping, disse recentemente que a demanda doméstica ainda é insuficiente. As commodities podem enfrentar dificuldades se a China perder tração. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.