Bom dia, pessoal. Lá fora, nesta quarta-feira (10), a maioria das ações asiáticas caíram com os investidores se comportando de maneira cautelosa antes da divulgação dos principais dados da inflação ao consumidor dos EUA no final do dia. As bolsas chinesas apresentaram queda pela segunda sessão consecutiva após leituras comerciais decepcionantes — os dados de importação mais fracos aumentaram os temores de que uma recuperação econômica no país estivesse perdendo força.
Essa série de dados econômicos fracos fez com que os investidores questionassem a amplitude de uma recuperação econômica chinesa neste ano, à medida que o país ressurge de três anos de medidas anti-Covid. Os mercados europeus e os futuros americanos também caem nesta manhã, apesar da inflação dos preços ao consumidor no final de abril na Alemanha não ter sido revisada. Há ansiedade para os dados de inflação, que inauguram uma sequência de indicadores de preços nos EUA e no Brasil.
A ver.
· 00:44 — Uma ata conservadora
Por aqui, o mercado digeriu relativamente bem a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que confirmou que o Banco Central pretende manter a Selic estável por um período prolongado, preservando o discurso conservador verificado no comunicado da semana passada. Mantemos nossa visão de que a taxa de juros só deverá cair no terceiro trimestre, possivelmente a partir de agosto (não descartamos setembro, embora seja menos provável). Adicionalmente, o documento mostrou um tom positivo em relação aos esforços da ala econômica do governo, afirmando que a reoneração dos combustíveis e a apresentação do arcabouço reduziram as incertezas.
As sinalizações são positivas, apesar da nítida observância à nova regra fiscal, hoje no Congresso. A formatação e a execução do arcabouço serão fundamentais às expectativas para a dívida pública e a inflação (precisamos ver o texto final aprovado pelos parlamentares). Somado a isso, temos as participações de Gabriel Galípolo, secretário-executivo da Fazenda, em algumas falas ao mercado. Por enquanto, se recusou a falar sobre política monetária, querendo evitar uma associação de sua imagem a uma visão menos ortodoxa na condução do BC. Não é um vetor totalmente negativo, mas vem pesando sobre os vértices mais longos da curva de juros.
· 01:45 — E o arcabouço?
Ainda sob escrutínio dos parlamentares, o relator do projeto de nova regra fiscal, o deputado Cláudio Cajado (PP), afirmou que o texto do projeto pode ser adiado para a semana que vem (era esperado para quinta-feira). Ao que tudo indica, parece haver uma certa insatisfação nos corredores do Congresso com a condução da articulação política do governo (especula-se uma fritura de Alexandre Padilha e de Rui Costa), com até mesmo partidos do núcleo duro da base aliada reclamando, como é o caso do PSB. Enquanto isso ocorre, Cajado deseja um retorno tanto do governo quanto das bancadas da Câmara sobre as discussões — algumas mudanças são esperadas.
A nova ferramenta fiscal se preocupa em ser diferente da Lei de Responsabilidade Fiscal, criada no governo FHC, que tinha um mecanismo considerado pró-cíclico pelo governo (em épocas de expansão econômica, os gastos públicos deveriam ser aumentados e, em épocas de recessão, reduzidos). A ideia é que funcione da maneira contrária, poupando quando se tem folga e se valendo de reservas em momentos de aperto. Possível, porém bem difícil. Por isso a execução do projeto é importante. Se apresentado na semana que vem, dado sua urgência, deverá ser votado na sequência, o que garantiria uma tramitação mais rápida. Quanto antes, melhor.
· 02:47 — Chuva de preocupações
Nos EUA, várias questões em aberto estão pesando sobre a mente coletiva dos investidores. As perspectivas para a política monetária e para a economia são temas de debates acalorados, muito dependentes da trajetória da inflação, a ser informada hoje. Além disso, o prazo para aumentar o limite da dívida dos EUA está se aproximando rapidamente e um acordo repentino permanece improvável, visto que os líderes do Congresso e o presidente Joe Biden não chegaram ontem a uma solução. A turbulência no setor bancário continua sendo um tema polêmico, já que vemos padrões de empréstimos mais rígidos em quase todos os setores. Enquanto isso, a temporada de resultados do primeiro trimestre continua. Assunto não falta.
Porém, o destaque da manhã será a divulgação dos últimos dados de inflação. O Federal Reserve está dependendo de dados para tomar as duas próximas decisões e uma reação nos mercados de ações e títulos pode ser esperada caso os dados de inflação sejam materialmente diferentes da previsão. Até a próxima reunião da autoridade monetária, em junho, teremos mais um mês de dados de inflação a considerar, além de números de empregos em maio e muito mais. Neste contexto, o relatório de inflação de maio deverá servir de palavra final. Se os números de inflação sugerirem que as pressões de preços subjacentes não estão diminuindo, então um aumento de juros em junho permanece sobre a mesa.
· 03:46 — E essa inflação?
Ainda em solo americano, espera-se que a inflação dos preços ao consumidor em abril mostre relativa estabilidade nas taxas ano a ano. As expectativas apontam para um aumento de 5% em relação ao ano anterior, igual aos dados de março. O núcleo do índice, que exclui preços de alimentos e energia, deve subir 5,4%, o que representaria uma desaceleração na comparação anual frente ao que foi observado no mês passado. Sim, ambos os índices estão bem abaixo dos picos do ano passado, mas também muito acima da meta de 2% do Federal Reserve.
A história geral da inflação continua a mesma. A inflação transitória de bens duráveis teve o colapso mais espetacular dos tempos modernos. A inflação de energia está se transformando em desinflação. Já a inflação de serviços continua sendo fonte de preocupação. Se as preocupações dos investidores estão em torno de novos aumentos de juros, os números de hoje podem encorajar os elementos hawkish no Fed (já que a inflação pode não estar caindo rápido o suficiente). Por outro lado, dados mais fracos podem fortalecer a ideia de que uma recessão se aproxima.
· 04:41 — Atritos geopolíticos
Voltamos a testemunhar alguns atritos geopolíticos, desta vez entre os chineses e os europeus. O ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, afirmou que o gigante asiático adotará uma postura rígida caso a União Europeia (UE) imponha sanções às empresas chinesas que forneçam à Rússia bens de dupla utilização (produtos que podem ser usados tanto para fins militares quanto civis) — a Comissão Europeia propôs estender restrições comerciais a várias empresas chinesas, alegando que elas estariam apoiando o complexo militar e industrial da Rússia.
A posição da China é de que não há entrega de armas a nações ou regiões em crise, alertando contra a interrupção do intercâmbio normal entre empresas chinesas e russas. Vemos que a tensão entre a China e a UE está em alta, e a retaliação chinesa pode afetar as relações comerciais entre a China e a Europa, além de gerar impactos econômicos mais amplos. Como sabemos, vibrações geopolíticas deverão fazer cada vez mais parte de nosso dia a dia, ao passo em que o mundo passa a se desglobalizar gradualmente em um amplo processo de regionalização.