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Investimentos

No que Felipe Miranda investiria hoje?

Dentre as recomendações para o investidor pessoa física estão precatórios, ações de perfil cíclico e defensivo e small caps.

Por Nicole Vasselai

16 maio 2023, 09:24 - atualizado em 16 maio 2023, 16:34

Imagem: Divulgação/Empiricus

Em podcast da Empiricus Research, Felipe Miranda, estrategista-chefe da casa, resume o que compraria hoje se fosse o investidor pessoa física, no cenário atual de inflação ainda elevada, taxa de juros em 13,75% e Bolsa com preços descontados.

Dentre as recomendações estão precatórios, small caps e ações brasileiras com perfil cíclico e defensivo. Confira os detalhes a seguir.

Precatórios (título de ‘renda fixa’) com retorno de mais de 200% do CDI

O primeiro papel recomendado pelo estrategista-chefe é um precatório (um título de renda fixa) com prognóstico de rentabilidade de mais de 200% do CDI. “Dentre as vantagens de investir nesse tipo de título está o fato de ser isento de Imposto de Renda e ter baixo risco de crédito, equivalente ao risco de títulos públicos do Tesouro Direto”, explica.

Mas, por conta desses benefícios, esse tipo de oportunidade costuma acabar logo na prateleira das corretoras, como alerta Felipe: “Existe um limite de investimento nesse título e tá quase esgotado. É bom não perder tempo”.

Mas o que são precatórios?

Se você nunca viu essa palavra antes ou não lembra ao certo como funciona um precatório, vamos dar uma rápida relembrada.

Na prática, trata-se de uma dívida da União com um ente físico ou jurídico, que tem obrigação de ser paga após condenação definitiva por parte da Justiça. Esse recurso geralmente é aplicado em caso de não cumprimento do pagamento de pensões, salários, aposentadorias, entre outros.

O precatório não é o pagamento em si, mas o reconhecimento da dívida – e, quando isso acontece, o governo deve cumprir com o pagamento. Ainda assim, o prazo para quitação é indefinido, podendo levar anos para acontecer.

Vale lembrar ainda que o valor da dívida deve ser corrigido pela inflação e acrescido de juros de mora. Por isso, determinados credores (ou instituições responsáveis pelo intermédio) vendem suas dívidas como um investimento em renda fixa, como é o caso do precatório recomendado por Felipe Miranda.

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“Compraria uma cestinha de SMAL11 numa menor proporção”

Felipe também gosta da ideia de ter um pouco de SMAL11 (principal índice de ações small caps) na carteira. O ETF SMAL11 é composto por todas as ações do índice, que são companhias brasileiras de menor porte, que valem até R$ 5 bilhões, e apresentam alto potencial de crescimento.

Para o analista, o momento parece bom para comprar.

Na janela dos últimos cinco anos, o SMLL11 cai 37% desde sua máxima no período, em junho de 2021, que chegou a R$ 153,25. Em abril de 2022 o índice voltou a subir (registrando R$ 123,85), mas, desde então, derrete 10,28%, e registra, no fechamento de 12 de maio de 2023, R$ 95,61. Ou seja, tem espaço para subir.

Ações com perfil cíclico doméstico e defensivo

Como já comentou em outros momentos, Felipe Miranda reforça sua preferência por ações brasileiras com perfil cíclico/doméstico, ou seja, que acompanham os movimentos macroeconômicos, e defensivo, para o atual cenário de taxa de juros elevada, inflação com uma lenta desaceleração e ativos descontados.

Os múltiplos da Bolsa brasileira tangenciam mínimas históricas, relembrando momentos de ruptura do tipo greve dos caminhoneiros, crise de 2008, auge da Covid-19, recessão da era Dilma; e se não vai haver ruptura, os preços deveriam ser outros”, afirma o analista.

Nesse sentido, cita principalmente quatro nomes:

  • Hypera (HYPE3);
  • Cosan (CSAN3);
  • Equatorial (EQTL3);
  • Iguatemi (IGTI11)

Hypera (HYPE3): um case sólido

Hypera atua num setor bastante resiliente – o farmacêutico – e trouxe resultados muito positivos referentes ao 1T23, demonstrando uma solidez considerável em relação à venda de medicamentos, mesmo depois do fim da pandemia do Covid-19.

O crescimento orgânico do sell-out de Hypera foi de 5,9%, que, apesar de ter sido menor do que o crescimento do mercado, aconteceu em cima de uma base de comparação já muito difícil – o sell-out orgânico tinha crescido impressionantes 28% nos dois primeiros meses do ano passado, ajudados pela chegada da variante Ômicron e aumento de casos de gripe na época. 

Segundo a companhia, o mês de março (que tinha uma base de comparação menos difícil) apresentou um ótimo sell-out orgânico de 19%, mostrando que ela não “desaprendeu”. 

Além do crescimento orgânico do varejo, as marcas adquiridas da Sanofi e o aumento de 35% nas vendas do mercado institucional fizeram a Receita Líquida atingir 1,7 bilhão, um aumento de 13,7% na comparação com o 1T22

Por 12 vezes lucros, com um portfólio de muita qualidade, dentro de um setor extremamente resiliente e com perspectiva de aumento no pagamento de dividendos nos próximos anos, Felipe recomenda Hypera.

Cosan (CSAN3): um case premium

Cosan é hoje um conglomerado com robusto portfólio de logística, lubrificantes e distribuição de combustíveis, energia e gás natural, cuja holding comporta Rumo, Raízen, Comgás, Compass e Moove.

No longo prazo, trata-se de um ótimo case, já que conta com a diversificação de portfólio e sinergia de cada uma das linhas de negócio.

Com uma gestão competente o conglomerado cresceu 10 vezes nos últimos 10 anos. Só o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu 29 vezes de 2009 a 2021, o que espelhou na ação, que subiu mais de 665% no mesmo período.

Além disso, do nosso lado, reconhecemos que a Cosan se tornou uma holding extremamente diversificada e complexa de se analisar, mesmo que seus ativos estejam majoritariamente concentrados no segmento de infraestrutura e energia. Não obstante, eliminando o ruído das várias partes se movendo simultaneamente, é possível observar a evolução das diversas teses de investimento do conglomerado

  • na Raízen, a exportação do etanol próprio para clientes industriais e a venda do açúcar diretamente para a ponta final, ambos com efeitos positivos na rentabilidade;
  • na Rumo, o ganho de representatividade do modal ferroviário no escoamento da produção agrícola, favorecendo tarifas melhores;
  • na Compass, o ganho de participação na distribuição de gás encanado para os mais diversos tipos de clientes;
  • expansão internacional da Moove
  • além da Cosan Investimentos e da Vale.

Hoje, enxergamos uma operação que evolui no consolidado, mas que está em fase de pesados investimentos e complexidade crescente. Ainda assim, continuamos acreditando na tese, ainda mais com um desconto de holding próximo a 30% para CSAN3. 

Equatorial (EQTL3): ótima execução

Mesmo tendo agregado diversas subsidiárias de segmentos diferentes em suas operações nos últimos anos, a Equatorial segue mostrando uma ótima execução, como apontam os resultados do 1T23.

Além disso, a companhia divulgou recentemente um pequeno aumento de capital que, apesar de pequeno (entre R$ 75 e R$ 385 milhões, a depender do apetite dos acionistas), vai ajudar a reduzir um pouco mais sua alavancagem, o que Felipe vê como um importante gatilho para disparar o preço da ação.

Cada EQTL3 dará ao seu titular o direito de subscrever até 0,14 novas ações, pelo preço de R$ 25, um desconto de aproximadamente 7% para as cotações atuais, o que entendemos ser uma boa oportunidade. O direito de preferência poderá ser exercido de 2 de maio até 1 de junho, e caso não decida participar, a diluição será de no máximo 1,4%.

Por 8 vezes EV/Ebitda, com um excelente histórico de execução e muito espaço para crescimento de resultados de seus ativos em processo de turnaround.

Lembrando que, além de Equatorial, o analista gosta muito desta outra ação do setor elétrico, com potencial de subir de 25% a 40% devido a um negócio bilionário que deve ser destravado em breve.

Iguatemi (IGIT11): vendas ‘voando’

A companhia, que atua no setor de shopping center, registrou recorde histórico de vendas totais para o primeiro trimestre de 2023, somando um montante de R$ 3,9 bilhões, crescimento de 16,8% na comparação anual. O indicador vendas nas mesmas lojas (SSS) registrou alta de 15% no intervalo, com destaque para os segmentos de entretenimento, alimentação e serviços. Seguindo a boa performance, o aluguel nas mesmas lojas (SSR) foi de 19,7%, apresentando forte crescimento real.

A taxa de ocupação média foi de 92,7%, praticamente estável em relação ao 4T22. Diante do efeito da sazonalidade, a Empiricus Research considera um resultado trimestral marginalmente positivo, mas vale ressaltar que a vacância permanece em patamar acima das expectativas dos analistas. A expectativa é de uma redução de áreas vagas ao longo dos próximos trimestres.

Hoje, a ação de Iguatemi (IGTI11) negocia a 12 vezes FFO para 2023 e Felipe Miranda prefere ela ao case de Multiplan (MULT3).

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.