Investimentos

S&P 500: veja três ações para fugir da ‘bolha’ das big techs

Com a bolha das big techs inflando S&P 500 e cenário macroeconômico delicado, Empiricus Research recomenda parcela pequena em ações norte-americanas. Ainda assim, existem boas opções; confira

Por Juan Rey

26 maio 2023, 15:42 - atualizado em 26 maio 2023, 17:14

wall street s&p 500
Imagem: Pixabay/retobkeller

Carregadas pela narrativa da inteligência artificial, as big techs têm se valorizado de forma exagerada no ano e ‘inflado’ o índice S&P 500 a patamares que não correspondem ao cenário desafiador. 

Ainda assim, a Bolsa norte-americana apresenta algumas boas opções para além das gigantes da tecnologia. Mas para encontrar as boas ações em um momento recheado de incertezas, é necessária uma análise criteriosa.

Os analistas João Piccioni, Richard Camargo e Enzo Pacheco, da série O Investidor Internacional, indicaram três ações sólidas do S&P 500. Antes, nunca é demais salientar: a Empiricus Research recomenda uma exposição pequena na Bolsa norte-americana.

Confira as indicações:

Booking: superando os índices Nasdaq e S&P 500 com sobras em 2023

Quando foram recomendadas pela Empiricus Research, as ações da Booking (Nasdaq: BKNG | BDR: BKNG34) eram negociadas por cerca de US$ 1.900. Os papéis abriram o pregão desta sexta (26) a US$ 2.652, uma alta de aproximadamente 37% desde a indicação.

No ano, a ação representa a maior alta da carteira de ações internacionais: 30%. O que explica todo esse sucesso?

Avaliada em aproximadamente US$ 100 bilhões de dólares, a Booking é a maior agência de viagens online do mundo. E o crescimento sólido não vem de hoje: “É uma empresa que é capaz de crescer receita no ritmo de 15% ao ano há mais de 10 anos”, afirma o analista Richard Camargo. 

Mas não foram “apenas” estes atributos que chamaram a atenção. Um evento macroeconômico foi determinante para que os analistas começassem a olhar para a ação: a reabertura da China. 

“Comprar Booking tinha uma relação com esse retorno do chinês para o mercado de viagens”, explica o analista-chefe da Empiricus Research, João Piccioni. 

Embora o movimento de reabertura chinesa não tenha ocorrido com a força esperada pelo mercado, o setor de viagens, de fato, se beneficiou com o fim das medidas mais duras do país asiático para conter a Covid-19.  

Com o lado macro ventando a favor do setor, era hora de analisar o micro das empresas que atuam na área, e a Booking se provou a melhor opção. “É uma empresa com mais de 30% de margem de free cash flow, praticamente sem necessidade de investimentos, sem dívida e que recompra entre 6 e 8% das suas ações todos os anos”, afirmou Richard. 

“Das operadoras que existem hoje, ela é disparada a melhor”, completa Piccioni. 

Os programas de recompra de ações são um componente importante, principalmente quando se trata de companhias norte-americanas. “Lá fora, diferente do Brasil, o dividendo é tributado em 30%. O efeito para o acionista de a empresa ‘devolver’ o dinheiro para comprar mais ações, é o mesmo do que a empresa recomprar as ações e cancelá-las, com a diferença que lá fora você tem essa ineficiência dos 30% no caso dos dividendos”, explica. 

“A gente sempre parte desse viés quando estamos procurando empresas para o portfólio internacional. Buscamos grandes nomes, com crescimento orgânico, que geram muito caixa e conseguem programas parrudos de recompra de ações”, explica Richard.

Isso, aliado à demanda reprimida do setor, fez com que a Booking se mostrasse uma aposta certeira dos analistas. Por isso, a companhia segue recomendada no portfólio de ações internacionais.

McDonald’s continua amando tudo isso

Como abordado no início do texto, o cenário macroeconômico nos EUA ainda é delicado. Embora a inflação tenha mostrado sinais de melhora, diversas empresas do setor de consumo não têm conseguido aumentar o volume de vendas, apenas o preço.

Na contramão dessa tendência, aparece o McDonald’s (NYSE: MCD | BDR: MCDC34). Além de conseguir repassar preços e sobreviver em um cenário de perda de poder de compra do consumidor, a rede de fast food consegue crescer o indicador de vendas nas lojas abertas há mais de 1 ano (em inglês, Same Store Sales, ou SSS).

“Apesar de ser uma empresa gigantesca, com 40 mil restaurantes ao redor do mundo, o McDonald’s conseguiu crescer o indicador SSS em 12% no 1T23. No mesmo trimestre do ano anterior, o número já tinha crescido também nesse patamar”, afirma o analista Enzo Pacheco. 

Enzo explica que, além de entregar crescimento, o McDonald’s também entrega novas lojas. E isso se deve muito pelo modelo de franquias. 

“Você consegue entregar resultados melhores para os acionistas franqueando as lojas. Uma loja deve operar com margem de 10% a 15%, enquanto a margem de uma franquia é 70% a 80%, porque ela só recolhe os royalties dessas operações”, analisa. 

Para João Piccioni, um dos trunfos do McDonald’s é conseguir se aproveitar de momentos de maior dificuldade. “O setor de Real State ainda vai sofrer o efeito da contração de crédito e o McDonald’s vai conseguir se aproveitar desse momento. Como eles fizeram na crise de 2008, vão fazer agora, alocando seus restaurantes nos melhores lugares dos Estados Unidos”.

“Não é um papel barato, negocia a aproximadamente 28x lucro futuro, mas é uma empresa  que entrega resultados, consegue fazer recompra de ações e a gente vê ainda uma perspectiva interessante”, finaliza Enzo.

Autozone: mais uma empresa que respira no S&P 500

Outra ação recomendada pelos analistas é da Autozone (NYSE: AZO | BDR: AZOI34), empresa varejista de peças automotivas. A companhia, inclusive, começou a expandir as operações no Brasil. 

Assim como no caso do McDonald’s, a tese de investimento na Autozone é calcada na questão da desaceleração da economia norte-americana. 

“Se você tem uma perda de compra do consumidor, a capacidade dele de trocar de veículo vai ser reduzida. A gente vê a frota americana envelhecendo ao longo do tempo e vai haver necessidade de, pelo menos, manter as condições dos carros que estão rodando, fazer uma troca de peça, uma revisão”, explica Enzo. 

Apesar de não entregar um crescimento de receita relevante, a Autozone faz muitos programas de recompra de ações desde a década de 1990. “A receita cresceu 6% no 1T23, mas o lucro por ação cresceu 17%, porque ela fez recompra de 350 mil ações no último trimestre”. 

“Por ano, ela recompra por volta de 1,2 milhão de ações, e a empresa hoje tem cerca de 18 milhões de ações listadas. Se mantiver esse ritmo de recompra, a Autozone vai reduzir suas ações de 5% a 6%”, projeta o analista.

Enzo explica que a companhia consegue fazer programas de recompra tão robustos devido à  geração de caixa, mantendo suas operações saudáveis. Por isso, a Autozone segue como uma recomendação da Empiricus Research. 

Todos os cases apresentados superam o desempenho do S&P 500 equal weight (que não tem em sua composição pesos maiores para as big techs) em 2023. Quanto à bolha causada pelas empresas de tecnologia no principal índice da Bolsa norte-americana, você pode conferir mais informações aqui

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Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br