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Por que as criptomoedas não estão valorizando se o resto está?

Enquanto o Ibovespa está disparando e a Nasdaq renova suas máximas, os criptoativos respondem para baixo de abril para cá; analista explica o que está havendo

Por Nicole Vasselai

15 jun 2023, 12:59 - atualizado em 15 jun 2023, 12:59

Por que as criptomoedas não estão valorizando se o resto está?
Imagem: Pexels

“Sempre que você avaliar algo no mercado, lembre-se de que tudo é uma questão de perspectiva de análise“. É assim que Vinícius Bazan, especialista em criptomoedas da Empiricus Research, orienta o investidor que, neste momento, esteja preocupado com o fato de quase todas as classes de ativos estarem subindo, menos as criptos.

A cotação do bitcoin cai 9,30% nos últimos 30 dias, enquanto a Nasdaq, Bolsa americana, renova suas máximas do ano, acima dos 15 mil pontos e o Ibovespa, índice de ações brasileiras, também, chegando a 120 mil pontos.

No entanto, Bazan reforça a importância de se relativizar a performance do ativo no tempo: “Se eu fizer a mesma pergunta ‘o bitcoin está subindo?‘ para duas pessoas, uma que comprou em janeiro e outra que comprou em abril, as respostas serão completamente opostas. Para quem comprou em janeiro, há uma alta de cerca de 50%. Quem comprou em abril vê uma queda de 17%. Isso também vale para o horizonte temporal. No curto prazo, é indiscutível que o bitcoin está caindo. No longo, a história não é bem assim“.

Cripto lida com elementos intrínsecos do mercado

O analista relembra quão diferentes são os fatores que impactam os preços dos criptoativos e os que mexem com a Bolsa americana, por exemplo.

Ao colocarmos numa mesma cesta todos os elementos do mercado, de um lado, há uma notável melhora econômica nos países, após um período de inflação elevada. Isso leva a dados macro cada vez mais positivos e uma pausa no aumento de juros americanos.

Já cripto, segundo ele, depende de elementos intrínsecos do mercado e lida com “seus próprios demônios”.

“Se 2022 foi marcado por grandes eventos negativos, entre eles o colapso do UST (Terra), a quebra de players como 3AC, Celsius e Voyager e a implosão da FTX, é natural pensar que 2023 seria o ano do escrutínio regulatório. Na semana passada, tivemos mais um capítulo (desproporcional, na minha visão) dessa saga, com a SEC [órgão regulador de valores mobiliários nos EUA] processando a Binance e a Coinbase“.

Com isso, complementa Bazan, toda a incerteza em torno desses processos, tanto do ponto de vista de como eles podem impactar as empresas, quanto de como podem impactar projetos de cripto, faz com que o mercado opere no famoso modo FUD, o fear, uncertainty and doubt (medo, incerteza e dúvida). 

Como reflexo disso, ocorre a redução significativa da liquidez do mercado, o que torna os preços muito mais instáveis e qualquer nova notícia pode movê-los.

“Para se ter uma ideia do estrago causado pelo processo da SEC contra a Binance, a profundidade de mercado na Binance.US chegou a cair em quase 80% desde o início de junho”, exemplifica.

Liquidez prejudicada na Binance.US
Fonte: Kaiko

Isso não deveria ser uma surpresa para o mercado

Bazan tem reforçado constantemente que, para crescer, o mercado de criptomoedas precisa ser mais regulado. Entretanto, para se chegar a uma regulação adequada, nem sempre haverá consenso. 

“É exatamente o que está acontecendo. De um lado, aqui no Brasil o marco legal dos criptoativos avança positivamente, colocando o Banco Central como supervisor do mercado. Já nos EUA, a SEC causa um certo tumulto com falta de clareza e com ações unilaterais“.

Resumindo: o bitcoin iniciou o ano engatando um belo rali até os 30 mil dólares. Na visão do analista, uma barreira de grande importância e, portanto, difícil de ser superada. De lá para cá, a incerteza regulatória vem jogando contra os preços e mantendo as criptomoedas em uma região de consolidação. 

“Para termos um novo bull market, precisamos da consolidação, mas ela não é rápida, nem linear. É uma sala de espera caótica”, comenta.

Mas o especialista recomenda paciência. Do contrário, o investidor pode perder uma bela oportunidade à frente: “Os mais ansiosos com o momento atual poderiam até viver mais tranquilos entrando para o mercado apenas em um período em que as coisas estivessem melhores. Infelizmente, quando tomamos essa decisão, deixamos boa parte do potencial das criptomoedas para trás. Afinal, só há alto retorno com riscos no caminho“.

Inclusive, neste conteúdo aqui, Vinícius Bazan traz a lista de criptos preferidas para você ter a chance de aproveitar esse momento de baixa e diversificar seu portfólio.

O que é preciso para o cenário melhorar para as criptomoedas?

“Não vou chover no molhado aqui”, brinca Bazan, “pois imagino que a esta altura já esteja claro: do ponto de vista regulatório, mais clareza e um caminho pró-inovação e cooperativo com as empresas do segmento são cruciais para uma melhora”.

Além disso, segundo ele, as próprias métricas on-chain trazem algumas conclusões adicionais.”Avaliando o MVRV Z-Score, uma das métricas mais importantes para definir os ciclos do bitcoin, é muito claro que um elemento simples, porém difícil de aceitar, é necessário para um cenário futuro melhor: tempo”.

Como você pode ver pelo gráfico abaixo, houve por um período em que a métrica ficou bastante comprimida (região verde), indicando elevado grau de desconto do BTC. “Desde janeiro, há uma melhora, mas ainda tímida perto de um bull market de verdade”.

MVRV Z-Score
Fonte: Glassnode

O analista explica que os long-term holders (investidores com perfil de longo prazo) concordam com isso, já que vêm acumulando bitcoins consistentemente, apesar de toda a incerteza de curto prazo. “Para eles, o tempo é algo muito importante, porque é com ele que se concretiza a visão de longo prazo (leia-se: eles não se importam em permanecer na sala de espera)”.

Quantidade de bitcoins nas mãos de LTH
Fonte: Glassnode

Além disso, o grau de volatilidade e de alavancagem no mercado também traz uma informação importante: ainda não houve um aumento expressivo de interesse pelo mercado.

A volatilidade está historicamente baixa – segundo Bazan, hoje, um movimento de 5% do bitcoin é considerado como um dia de grande oscilação – e a alavancagem relativa ao valor de mercado também está modesta, como indica o gráfico a seguir.

Bitcoin: volatilidade mensal e grau de alavancagem
Fonte: Glassnode

“Ou seja, apesar da recuperação dos preços das criptomoedas desde o início do ano, o movimento ainda é modesto perto do que se pode esperar em um ciclo de alta e o mercado ainda está concentrado nos investidores mais nativos e com foco de longo prazo”.

Na visão do especialista, para um novo bull market se iniciar, é necessário um alinhamento entre boas condições econômicas (melhora da inflação global, aumento da liquidez e apetite a risco) e aumento da confiança no mercado (menos incertezas) a ponto de trazer de volta investidores institucionais e a massa do varejo. 

“A transição entre um bear e um bull market nunca é instantânea e o período de consolidação entre eles pode ser bastante confuso, razão pela qual muitos investidores ficam com dúvidas sobre o que está, de fato, acontecendo e se há perspectivas de melhora. Por isso, nós, analistas, estamos aqui para trazer um panorama mais completo sobre a situação”, conclui Bazan.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.