A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) Global Ratings alterou a perspectiva de rating (nota de crédito) do Brasil de neutra para positiva na última quarta-feira (14).
Bom, se você é um investidor antenado nas últimas notícias do mercado, provavelmente leu o parágrafo anterior algumas vezes ao longo das últimas 24 horas. Mas você sabe o que isso significa?
De maneira técnica, “a S&P passou a atribuir mais de 50% de chance de elevar a nota de crédito brasileira, que, atualmente, é BB-”, explica o fundador e estrategista-chefe da Empiricus, Felipe Miranda.
No entanto, a mudança não quer dizer que o país esteja perto do aumento de nota propriamente dito. A alteração apenas acena com a possibilidade disso ocorrer em um horizonte maior de tempo, desde que a trajetória se mantenha positiva.
Quando a mudança de rating pela S&P 500 pode acontecer?
O analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, explica que, historicamente, demora entre 12 e 18 meses para que uma nota mude de fato após a alteração de perspectiva de “neutra” para “positiva”.
“No caso brasileiro, isso pode demorar ainda mais, porque precisamos ver déficit zerado e cadência de maneira sustentada do patamar de endividamento”, explica.
Enquanto os conservadores estimam que, caso a trajetória continue positiva, a revisão de nota viria em 2026, os mais otimistas entendem que o movimento poderia ocorrer entre 2024 e 2025. “Desde que a trajetória se mantenha positiva”, reitera.
Afinal, que trajetória positiva é essa?
A S&P levou em consideração tudo que o mercado já vinha falando há algumas semanas e que já se traduziu em forte alta da Bolsa – o Ibovespa saltou da mínima de 96.997 pontos em março, para os 119.069 registrados no fechamento de ontem (14).
“Confirmou o que já estávamos observando: expectativas de inflação em queda, de corte de juros, de um PIB razoável e de controle do endividamento”, afirma Spiess.
No entanto, essa “trajetória positiva” exaltada pela S&P não vem de agora. A agência atribuiu um peso positivo para as reformas estruturais que se iniciaram no Governo Temer, se estenderam no Governo Bolsonaro e agora passam a dar frutos.
“A agência referendou alguns marcos do Governo Temer, como a reforma trabalhista, do Governo Bolsonaro, como a reforma da previdência, além de outros marcos legais que foram sendo aprovados, inclusive durante a gestão de Paulo Guedes na economia”.
O arcabouço fiscal, apresentado no mandato de Lula, também tem peso importante na avaliação da S&P.
Objetivamente, o que muda a perspectiva de rating positiva da S&P para o Brasil?
Em termos de fundamentos, a mudança é nula. “É mais um sintoma que uma causa”, avalia Felipe Miranda.
“É super atrasado. Quando a agência de classificação de risco mexe na nota os gatilhos (da Bolsa) já correram muito na frente, os departamentos de macroeconomia dos bancos já revisaram antes. O mercado é muito mais dinâmico”, afirma.
No entanto, em termos de sinalizações, a alteração de perspectiva de rating é valiosa em diversos aspectos.
A mudança é importante no sentido de dar credibilidade ao país perante os investidores internacionais. “Depois de ser alijado do fluxo de capital internacional nos últimos anos, o Brasil passa a pertencer ao hall de países investíveis”, explica Felipe.
Spiess afirma ainda que a melhor perspectiva de rating se traduz em queda do chamado risco-Brasil. “A gente observa o CDS abaixo de 200 pontos, patamar que não flertava desde 2021”.
O Credit Default Swap (CDS) é uma espécie de derivativo do mercado em que as partes interessadas podem negociar o risco de crédito de algum ativo (você pode ler mais sobre os CDSs aqui).
“Isso mostra que existe uma mudança na trajetória, abrindo espaço para mais ganhos dos ativos de risco brasileiros que já andaram bastante, mas podem andar mais”, completa Spiess.
Além disso, Felipe Miranda destaca que o aumento da perspectiva de nota de crédito é um indicador importante de que as reformas feitas não serão mudadas. “Está passando a sinalização de que, se o mercado ficou com medo de revisões, não vai acontecer”.
Por fim, mas não menos importante, o estrategista-chefe acredita que a avaliação da S&P “sacramentou o corte da Selic em agosto”. Para Felipe, a discussão não é mais “se”, mas quanto a taxa básica de juro brasileira deve cair: 0,25% ou 0,50%. “A distribuição de probabilidade caminha no sentido de dar mais peso aos 50 pontos-base”, finaliza.
O Brasil estaria pronto para receber o upgrade de rating neste momento?
Para Matheus Spiess, a resposta, por enquanto, é “não”. Para que a nota de crédito brasileiro suba de fato, é necessário a aprovação do arcabouço e que as metas contidas nele sejam cumpridas.
Além disso, o analista lembra que o país tem desafios como a falta de dinheiro, a necessidade de arrecadação e a reforma tributária, que será complexa.
“Para mudar essa nota soberana de crédito, precisamos de credibilidade fiscal. Hoje temos ideias aceitáveis, mas não materialidade de fato. Para mudar a nota precisa de fato ter uma materialidade deste trajeto”, finaliza.
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Confira a entrevista completa de Matheus Spiess no Giro do Mercado: