Recentemente, acompanhamos o Itaú Day 2023, o encontro anual do Itaú (ITUB4) com investidores que, mais uma vez, foi 100% virtual. Os executivos atualizaram o mercado sobre a execução das estratégias mostradas no ano passado, além de compartilharem a visão para o futuro próximo.
Do nosso lado, não houve surpresa em descobrir que a agenda de transformação digital e centralidade no cliente está sendo executada dentro das expectativas.
Além disso, a companhia pretende manter a política de crédito conservadora, diante de um ambiente ainda percebido como desafiador, o que vemos como acertado, já que a inadimplência não tem dado sinais de melhora no Brasil.
No todo, podemos dizer que não houve grandes mudanças na estratégia, apenas uma clara demonstração de que ela está sendo executada – hoje, o Itaú já é um banco bem diferente daquele de 2 anos atrás, quando a nova gestão assumiu.
Apesar de ainda haver mais a executar, entendemos que boa parte do investimento na transformação já aconteceu, de forma que o banco poderia voltar a aumentar a distribuição de dividendos no médio prazo.(Essa é uma percepção nossa; os executivos conservadoramente disseram apenas que estão preparados para aumentar quando for adequado.)
Abaixo, destacamos os principais pontos do encontro.
Cultura e estratégia global do Itaú
A mudança de cultura promovida pelo novo time de gestão já começa a se transformar em resultados, a começar pela transformação digital: o data lake já está 100% na nuvem, assim como ⅔ dos sistemas relevantes para os clientes, na direção correta para atingir a meta de 100% até o final do ano. Além disso, 70 mil documentos já são analisados mensalmente com o uso da inteligência artificial, reduzindo o custo de contencioso: houve diminuição de 5% nos custos com processos cíveis, e de 19% com os trabalhistas.
Os executivos mencionaram que a jornada de transformação – não só digital, mas também cultural – ainda não acabou. A centralidade no cliente, além da agilidade na tomada de decisão e mudanças de rota, continuam sendo reforçadas na forma de trabalhar da companhia. A diferença é que, agora, a gestão está mais confortável de que estão no caminho certo, sabendo aonde vão chegar.
Banco de varejo: buscando parcerias para continuar agregando novos serviços
Na frente de serviços, a companhia avançou no desenvolvimento do Íon, a plataforma de investimentos para não correntistas: já são +3mil opções de investimento no aplicativo.
Mesmo sabendo que ainda há muito a evoluir na experiência do investidor, principalmente em comparação com as principais plataformas de investimentos, o avanço é notável.
Ainda, a companhia digitalizou boa parte do processo de sinistro dos seguros, que agora precisa de 80% menos documentos; com isso, o net promoter score (NPS), que mede a satisfação dos clientes, melhorou em 25 pontos.
Além disso, o banco lançou o Itaú Shop, o marketplace dentro do aplicativo que utiliza os meios de pagamento do próprio banco.
Por fim, na frente de ativos digitais, como criptomoedas, a companhia desenvolveu soluções de custódia e negociação, as quais devem ser lançadas para os clientes no segundo semestre.
Olhando à frente, os executivos deixaram claro que continuarão desenvolvendo novos serviços, com o objetivo de que o cliente resolva toda a sua vida financeira dentro do Itaú. Para tanto, o banco continuará se valendo de parcerias estratégicas e aquisições, como já fizeram com a Avenue e a Ideal.
A vertical de crédito, por sua vez, também tem se beneficiado da crescente digitalização, principalmente nas linhas mais conservadoras, que foram o foco do banco nos últimos 18 meses.
O financiamento imobiliário, por exemplo, já é 100% digital (incluindo a parte cartorial), e teve seu NPS melhorado em +50 pontos dentro de 2 anos.
Em termos de inadimplência, o cenário permanece desafiador para a pessoa física: nas palavras dos executivos, a turbulência não acabou; ainda é preciso gerir os riscos com cuidado.
Do nosso lado, continuamos acreditando que o Itaú vai performar melhor que os pares em termos de inadimplência.
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Banco de atacado: o motor do agronegócio e das PMEs
Nos últimos anos, o banco de atacado (voltado para empresas) tomou uma proporção grande dos resultados da companhia: representou cerca de 60% do lucro antes dos impostos em 2022, versus 30% no final de 2019.
Boa parte dessa evolução se deve à expansão da vertical de agro, cuja carteira de crédito cresceu +50% em 4 anos, graças à aproximação do atendimento, com especialização por região geográfica e por tipo de cultura, por exemplo.
Olhando à frente, o banco ainda enxerga uma enorme demanda não atendida nesse segmento: por mais que o Plano Safra, subsidiado pelo governo, tenha crescido nos últimos anos, a demanda cresceu em ritmo superior. Se isso estiver certo, o potencial a ser explorado aqui ainda é relevante.
Uma outra parte do ganho de representatividade do atacado se deve à expansão do atendimento às PMEs, cuja carteira de crédito cresceu 115% desde 2019, e quase triplicou desde 2015. Contribuiu favoravelmente, também, o foco do Itaú em médias empresas, versus o foco dos pares nas micro e pequenas empresas: como as menores tiveram mais calotes nos últimos anos, a companhia acabou ficando mais sensível ao segmento mais resiliente. Mesmo assim, os executivos mencionaram que o cenário continua nebuloso em termos de inadimplência. Assim como é o caso do cliente pessoa física, acreditamos que a companhia também superará os pares no controle dos calotes das empresas.
Distribuição de dividendos
Por fim, o time de gestão dividiu sua visão sobre a política de dividendos.
Nos últimos 3 anos, o Itaú reduziu a proporção do seu lucro que é distribuído aos acionistas (payout) para 25%, em razão da pandemia e dos investimentos previstos na transformação digital.
Agora, com boa parte dessa transformação já executada e os ganhos de eficiência gerados por ela, acreditamos que algum aumento de payout pode estar no horizonte.
Havendo uma melhoria no cenário macroeconômico e definição das novas exigências de capital por parte do Banco Central, é possível assistirmos a distribuições mais generosas como proporção do lucro dentro dos próximos 3 anos.
De toda forma, independentemente do aumento de payout, os executivos sinalizaram que pretendem continuar aumentando o dividendo absoluto por ação, como consequência do próprio crescimento de lucro. A companhia já vem fazendo isso desde 2021, e acreditamos que deve continuar nessa trajetória ascendente.
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Nossa visão: o valuation de ITUB4
Para 2023, ainda esperamos que o Itaú tenha um dividend yield (proventos distribuídos como percentual do preço da ação) menor que o dos pares.
Entretanto, observe abaixo como a sua rentabilidade esperada para o ano de 2023 é superior – inclusive, houve uma deterioração significativa na rentabilidade esperada para Bradesco e Santander em relação ao último valuation publicado, em linha com a nossa tese.
Não à toa, ITUB4 performa melhor que BBDC4 e SANB11 desde então (+13%, contra -5% e +9%, respectivamente).
Por isso, entendemos ser justo o fato de ITUB4 negociar com um prêmio de 19% sobre o múltiplo preço / valor patrimonial de SANB11, e de 38% sobre o de BBDC4. Ainda, com uma potencial surpresa positiva no dividend yield no médio prazo, estar com quem executa melhor ainda nos parece a escolha óbvia.
Sendo assim, Itaú Unibanco (ITUB4) segue como recomendação da série Carteira Empiricus.