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Analista sobre Fiagros: ‘Risco de crédito e ciclo das commodities não compensam retorno no curto prazo’

Para analista da Empiricus Research, os fundos que investem no agronegócio têm potencial a longo prazo, mas pontualmente têm sofrido com inadimplências e ciclo ruim para as commodities.

Por Nicole Vasselai

27 jun 2023, 15:31 - atualizado em 27 jun 2023, 15:31

quais os riscos dos fiagros
Imagem: Unsplash

Desde 2021, quando foi criada, a categoria dos chamados Fiagros (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais), que captam recursos para o agronegócio, têm ganhado a atenção dos investidores. Hoje, esse mercado já conta com mais de 260 mil cotistas e um patrimônio líquido que supera R$ 10 bilhões na B3. Mas será que atualmente de fato é uma boa opção para ter na carteira?

Caio Araujo, analista de fundos imobiliários da Empiricus Research, explica que os Fiagros funcionam como um fundo que investe em CRAs (certificados de recebíveis do agronegócio). “É como se fosse um fundo de papel, mas em vez de investir em CRIs (certiticados de recebíveis imobiliários), investe em CRAs e busca fomentar o setor agrícola“.

Segundo ele, o que tem levado ao crescimento da categoria é principalmente o fato de aplicar em um dos setores mais importantes da economia brasileira e por ter um retorno interessante – CDI + 5% ao ano. Além disso, o dividend yield líquido dos Fiagros, nos últimos 12 meses, ficou em torno de 15%.

“Considerando que é um produto isento de Imposto de Renda, apresenta uma rentabilidade bem atrativa para o investidor”, afirma o especialista.

No entanto, Caio também ressalta a escassez de bons papéis com exposição ao agro na Bolsa de Valores, tanto em termos de ações quanto de fundos imobiliários.

“No longo prazo a categoria, estruturalmente, tem potencial de crescimento, mas no curto prazo ainda tem alguns problemas e o investidor precisa analisar de forma mais criteriosa”.

Quais os riscos de investir em Fiagros

Apesar da rentabilidade competitiva oferecida pelos fundos de agro, o analista ressalta quão incipiente é esse mercado no Brasil e os diferentes incentivos que o próprio governo têm dado ao setor: “O filé mignon da classe de fundos imobiliários não está nos Fiagros“.

“Muitas dessas carteiras, especialmente no início, um ano atrás, por exemplo, tinham tomadores de crédito em processo de reestruturação, de redução de endividamento, de crescimento de produtividade ou com alguma necessidade pontual de capital de giro. Eles estão atrelados a o que chamamos de crédito high yield, que é mais arriscado”, explica.

Além disso, de acordo com o especialista, a própria estrutura de garantias de um CRA não é tão atrativa quanto de um CRI, por exemplo. “Normalmente, um prédio na Faria Lima [avenida do centro financeiro de São Paulo] vai ter muito mais valor como garantia de um CRI do que a alienação fiduciária de um maquinário agrícola, no caso de um CRA, ou até de terras no centro-oeste do Brasil, que podem estar mais distantes da realidade de um investidor mais tradicional”.

Outro ponto de atenção, segundo ele, é em relação à complexidade de se avaliar carteiras de crédito do agro. “Por mais que a pulverização da carteira de um Fiagro dilua o risco, produtores rurais normalmente não possuem balanço auditado, por exemplo. Há uma informalidade no setor agro que dificulta a análise. Costuma ser mais complexo até para uma gestora avaliar operações do agronegócio do que operações ligadas a outros setores“.

Caio cita também o desafio da cobertura geográfica do agro, muito ampla no Brasil, e até a capacidade de se analisar questões ambientais intrínsecas ao segmento. “Fica muito difícil cobrir todas as regiões do país com a propriedade necessária”, resume o analista.

Carteiras de Fiagros têm apresentado inadimplência

Por conta desse contexto desafiador, alguns Fiagros têm, inclusive, sofrido com inadimplências.

Em maio, por exemplo, os fundos XP Crédito Agro (XPAG11) e XP Crédito Agrícola (XPCA11) receberam notificação de que a Usina Açucareira Ester, presente no portfólio de ambos, entrou com pedido de recuperação judicial.

Na visão do analista, em breve isso pode levar a complicações maiores para esses FIIs e exige um pouco mais de cautela por parte do investidor.

“Ainda que a taxa Selic venha a diminuir em algum momento do segundo semestre, seria uma mudança marginal. Então pode ajudar a dar fôlego para o risco de crédito, mas não significativamente. E por outro lado, um juro menor também reduz o retorno dos fiagros, já que é indexado ao CDI”.

“O próprio ciclo das commodities ainda está em recuperação”

Do ponto de vista macroeconômico, o agronegócio ainda sofre também com os preços depreciados das commodities agrícolas e quedas significativas desde o início de 2022. “Isso somado à desvalorização do dólar dificulta um pouco mais a exportação”, explica Caio.

Há, também, um desafio logístico nessa conta. “Os produtores têm sofrido com uma ‘sobre-oferta’ nos portos, com estoques acumulados de produtos agrícolas e preços menores do que um ano atrás”.

O analista participa da edição de hoje do Giro do Mercado para explicar essa modalidade de investimento e os riscos e oportunidades.

Ao final do programa, ele recomenda o FII BTRA11 (BTG Pactual Terras Agrícolas) como alternativa para se expor ao agronegócio com uma pitada a mais de risco. Confira!

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.