Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta sexta-feira (30), acompanhando os sinais mistos dos mercados globais durante o pregão de ontem, com os investidores reagindo aos resultados do teste de estresse bancário anual do Fed dos EUA, que mostrou que os grandes bancos estão bem posicionados para enfrentar uma recessão severa e continuar a emprestar para as famílias e empresas — todos os 23 bancos testados permaneceram acima de seus requisitos mínimos de capital durante a simulação de uma recessão hipotética. Os problemas, por outro lado, derivaram novamente de dados fracos na China.
Os mercados europeus abrem o dia em alta, assim como os futuros americanos. O contexto também é positivo, pelo menos por enquanto, para as commodities, com alta do barril de petróleo e do minério de ferro. Em outras palavras, o cenário internacional é positivo para o encerramento do semestre no Brasil. Na agenda, os investidores ainda reagem aos dados econômicos otimistas dos EUA, que aliviaram ainda mais as preocupações com uma eventual recessão, mas também renovaram as preocupações sobre as perspectivas para os juros. Dados de inflação são esperados no exterior.
A ver…
· 00:46 — CMN nos brindou com uma bela (ainda que confusa) decisão
No Brasil, passamos ilesos pelo evento mais importante da semana, o Conselho Monetário Nacional (CMN). Aliás, a conclusão da reunião foi em linha com as expectativas, não representando um evento de cauda com a possibilidade de revisionismo da meta de inflação.
O conselho manteve em 3% a meta para 2024, 2025 e 2025, preservando as bandas de tolerância de 1,50 p.p. O que mudou foi o horizonte de atuação da autoridade monetária, que deixa de acompanhar o ano calendário (apenas utilizado aos moldes brasileiros na Turquia) para uma meta contínua de 24 meses, mais adequada para a atuação do BC (a adoção se dará a partir de 2025).
Acontece que o ministério da Fazenda parece esperar que tenhamos cortes consistentes a partir de agosto — note que cortes “parcimoniosos” estão relacionados com movimentos de 25 pontos-base, enquanto “consistentes” poderiam ser associados a 50 pontos.
Como a autoridade monetária está dependente de dados, caso tenhamos uma deflação robusta nas próximas semanas, não me surpreenderia 50 pontos de corte em agosto, ainda que meu cenário base esteja mantido desde o começo do ano em 25 pontos-base de corte em agosto. De maneira geral, o CMN deverá auxiliar na ancoragem das expectativas, provocando mais fechamento da curva de juros.
Na agenda, termina nesta sexta-feira a desoneração de combustíveis, sem expectativa de prorrogação do programa. Contamos com contas do setor público consolidado e taxa de desemprego, que deverá recuar para 8,2% no trimestre móvel até maio. Por fim, o TSE deverá tornar Bolsonaro inelegível hoje. A decisão poderá ser contestada, mas a direita brasileira poderá se valer de outras lideranças a partir do evento, como a de Romeu Zema, em Minas Gerais, ou a de Tarcísio de Freitas, em São Paulo.
· 01:30 — Depois de um belo PIB
Nos EUA, as revisões de ontem do PIB do primeiro trimestre se encaixam em um padrão verificado em outras economias avançadas, em que se observa desaceleração do crescimento, mas não catastroficamente. A última estimativa do PIB mostrou crescimento de 2% no primeiro trimestre, acima da estimativa anterior de 1,3% — resiliência dos consumidores de renda média é o que vem segurando a atividade econômica, mas as exportações e os gastos do governo também ajudaram.
Como o dado, não temos a tão temida tendência na qual a recessão estaria a caminho. Aliás, desde o verão passado, a expectativa de consenso era de que a economia dos EUA entraria em recessão em breve, mas isso não aconteceu. Para hoje, o investidor conta com os dados pessoais de renda e gastos. O consenso é que a renda aumente 0,4% no mês, enquanto os gastos devem aumentar 0,3%. O indicador de inflação preferido do Federal Reserve deve aumentar 4,7% na comparação anual.
· 02:28 — Um segundo semestre diferenciado
O segundo semestre de 2023 começará para valer na próxima semana. Ainda nos EUA, o mercado já começa a trabalhar com as expectativas para as empresas. Para se ter uma ideia, no total, existem 10.981 avaliações de analistas de ações no S&P 500 para o terceiro trimestre. Dessas classificações, 54,8% são indicações de compra, 39,6% são prognósticos de retenção e 5,6% são tidas como venda. Parece haver um otimismo maior com os setores de energia, serviços de comunicação e tecnologia.
Isso faz sentido, já que as ações de tecnologia e energia têm impulsionado os mercados para cima nas últimas semanas. A tecnologia se beneficiou muito com o boom da inteligência artificial (IA) e, embora os preços da energia tenham caído nos últimos meses, o caos geopolítico tem beneficiado as empresas de petróleo e gás (vide a maluquice que aconteceu na Rússia). O pessimismo fica reservado para o setor de bens de consumo, depois da queda recente das vendas no varejo.
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· 03:16 — As frustrações chinesas continuam
Os reguladores chineses estão intensificando o escrutínio do comércio de moedas e dos fluxos de capital, à medida que o yuan cai para o nível mais fraco em sete meses. Nos bastidores, teme-se que a China, enquanto isso, esteja caindo em uma “recessão de balanço”, bem diferente do que se pensava do país no começo do ano. Era para ser o ano em que a economia da China, livre dos controles mais rígidos contra a Covid-19, voltaria para ajudar a impulsionar o crescimento global. Em vez disso, na metade de 2023, ela enfrenta uma confluência de problemas, como gastos lentos do consumidor, um mercado imobiliário em crise e exportações em queda.
O risco de os aumentos dos juros do Fed levarem os EUA à recessão também aumentou a perspectiva de uma queda simultânea nas duas potências econômicas do mundo. O que é pior, o governo do presidente Xi Jinping não tem grandes opções para consertar as coisas. Na noite de ontem, o PMI industrial subiu de 48,8 em maio para 49,0 em junho, mas ainda ficou abaixo de 50 pontos, indicando contração econômica pelo terceiro mês consecutivo. As leituras apontaram para mais problemas para o país, enquanto Pequim luta para sustentar uma desaceleração da recuperação econômica.
· 04:05 — Made in India
A Amazon e o Google, da Alphabet, estão se comprometendo a aumentar os investimentos na Índia, enquanto os gigantes da tecnologia buscam estimular o crescimento em um mercado importante. As iniciativas ficaram mais evidentes depois de uma reunião entre o presidente dos EUA, Joe Biden, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e os principais executivos de tecnologia na Casa Branca, na semana passada (conversamos sobre o tema). A Amazon anunciou que investirá US$ 15 bilhões adicionais na Índia até 2030, o que inclui planos de colocar US$ 12,7 bilhões em infraestrutura de nuvem no país do sul da Ásia, enquanto o Google abrirá um centro fintech global em Gujarat International Finance Tech-City, no estado natal de Modi.
No ano passado, a Índia foi classificada como a quinta maior economia, ultrapassando o Reino Unido. De janeiro a março deste ano, o crescimento do PIB da Índia ultrapassou o da China, dos Estados Unidos e do Japão. Enquanto isso, à medida que as tensões EUA-China aumentam, mais empresas estão aumentando a produção na Índia para manter suas cadeias de suprimentos funcionando sem problemas. Em outras palavras, a Índia está a caminho de se tornar a economia que mais cresce no mundo (já é o país mais populoso com mais de 1,4 bilhão de residentes) e as gigantes tecnologia não querem ficar de fora. Com isso, os EUA são agora o parceiro comercial nº 1 da Índia (o comércio entre os dois cresceu 8 vezes nas últimas duas décadas).