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Nike: 4º tri fiscal de 2023 tem estoques para baixo e margem para cima

A Nike reportou ontem (2) dados referentes ao trimestre que acabou em maio nos Estados Unidos, e os números parecem indicar melhorias no case.

Por Enzo Pacheco, CFA

03 jul 2023, 15:35 - atualizado em 03 jul 2023, 15:35

ações da Nike
Imagem: Unsplash

Ontem (2), após o fechamento de mercado, a Nike (NYSE: NKE | B3: NIKE34) divulgou os resultados do quarto trimestre fiscal de 2023 (encerrado em maio) e, consequentemente, os balanços referentes ao ano. 

Por um lado, a receita veio acima das estimativas dos analistas. Já o lucro por ação foi US$0,01 menor do que o projetado pelo mercado — fazendo com que a ação se desvalorizasse cerca de 2% no pregão de sexta.

Mas, apesar dessa performance ruim do ativo, entendemos que a companhia está conseguindo enfrentar os problemas pontuados na tese inicial.

No trimestre, a Nike reportou vendas de US$12,825 bilhões, valor 5% maior do que no mesmo período do ano anterior — desconsiderando a variação cambial, o crescimento foi de 8%.

A margem bruta apresentou um recuo de 1,4 ponto percentual na comparação anual, encerrando o trimestre nos 43,6%. Importante salientar, contudo, que esse é o segundo trimestre consecutivo de melhora no indicador, com aumento de 0,7 ponto percentual desde o 2T23 (42,9%).

Gráfico 1. Margem bruta trimestral da Nike, desde 1T19 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

O aumento nas despesas operacionais — que passou de 33% da receita líquida no 4T22 para 34,1% no trimestre atual —, aliado ao fato de que a empresa não teve um benefício tributário um ano atrás fez com que o lucro líquido recuasse 28%, totalizando pouco mais de US$1 bilhão no 4T22 (US$0,66 por ação, -27% vs. 4T22).

Os números referentes ao ano fiscal de 2023, porém, foram melhores do que o reportado no trimestre.

No ano, a receita da Nike foi de US$51,217 bilhões, aumento de 10% (16% ex-câmbio) na comparação com o ano fiscal de 2022. Analisando por região, a única detratora do período foi a Grande China, com queda de 4% no ano.

Gráfico 2. Receita líquida anual da Nike, desde ano fiscal de 2017| Fontes: Bloomberg e Empiricus

Só que, tirando da conta a questão do câmbio, a região apresentou um crescimento de 4% na comparação anual. E analisando o último trimestre, aos poucos parece que o pior ficou para trás: no período, a Nike reportou vendas de US$1,810 bilhão, 16% maior (25% ex-câmbio) do que no 4T22.

Os números na região ainda estão abaixo dos seus melhores momentos — no 3T23, por exemplo, foram quase US$2 bilhões (-8% vs. 3T22). A expectativa é que, nos próximos trimestres, a companhia siga apresentando melhora na região.

Apesar das despesas operacionais ficarem praticamente estáveis em relação à receita no ano contra ano, o menor benefício tributário obtido por conta da remuneração via opções e decorrente da transferência de propriedade intelectual de parte de seus ativos de fora dos Estados Unidos impactou a linha final de resultado.

No ano, o lucro líquido totalizou US$5,07 bilhões, ou US$3,23 por ação, valor 14% menor do que no ano fiscal de 2022.

Outro ponto que se mostrava preocupante da tese, o nível de estoques da companhia, também parece endereçado.

Ao final do trimestre, esse montante totalizava US$8,420 bilhões, mostrando estabilidade em relação ao final de maio de 2022. Como forma de comparação, no 1T23 esse número estava próximo dos US$10 bilhões.

Gráfico 3. Estoques (ao final do trimestre) da Nike, desde 1T19 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Obviamente, ainda estamos falando de um nível de estoques bem acima do observado no passado recente. Mas, uma vez reduzido para patamares mais normalizados, a expectativa é de que a companhia consiga recompor suas margens.

Como havíamos afirmado na tese inicial, entendemos que os problemas enfrentados pela Nike (NYSE: NKE | B3: NIKE34) são temporários e enxergamos a capacidade da companhia de endereçá-los nos próximos trimestres. Considerando o valuation atual da ação — 29 vezes seus lucros projetados, abaixo da média dos últimos cinco anos —, seguimos confortáveis com a aposta na empresa.

Neste outro conteúdo, também falamos por que o Grupo SBF, donos de Centauro e Nike Brasil, se beneficiam do poder da marca americana.

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Formado em Administração pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em Operador de Mercado Financeiro pela FIA. Desde 2017 atua na análise dos mercados internacionais na série da Empiricus voltada a este propósito (MoneyBets).