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Por que o Ibovespa cai nesta terça (11), mesmo com o IPCA mostrando deflação?

De acordo com analistas, métricas de serviço do IPCA e temor com a reforma tributária no Senado derrubam Ibovespa no pregão; entenda

Por Juan Rey

11 jul 2023, 15:31 - atualizado em 11 jul 2023, 18:44

Ibovespa IPCA
Imagem: Freepik

Depois de uma vigorosa alta nos últimos meses, o Ibovespa não vive sua melhor semana. Ontem, o principal índice da bolsa brasileira caiu 0,8%. Nesta terça-feira (11), a espera do IPCA guardava um tom otimista para os ativos de risco, que não se confirmou.

Por volta das 15h, o Ibovespa apresentava queda de 0,40%. Pela manhã, chegou a cair 1,8%, maior baixa do dia. 

O tombo só não é pior porque a Vale (VALE3), empresa de maior peso no índice, sobe por conta da melhora de perspectiva para o minério de ferro. O bom humor dos mercados internacionais que, em geral, estão em alta, também ajudam a segurar a queda. 

IPCA: Ibovespa derrapou nas métricas de serviço

O IPCA do mês de junho, divulgado nesta manhã, mostrou deflação de 0,08%. O número ficou levemente abaixo das estimativas, de 0,1%. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice apresentou alta de 3,16%, o menor patamar desde setembro de 2020.

Para muitos, pode surgir a dúvida: como uma diferença tão pequena entre expectativa e realidade fez o Ibovespa cair tanto?

Na verdade, dois foram os motivos que contribuíram para o pregão ruim dos ativos de risco. O primeiro se refere ao IPCA, não como um todo, mas em sua composição. 

As métricas de serviço seguem acima da meta de inflação e devem contribuir para um corte mais tímido da Selic na reunião de agosto, em 25 pontos-base

Parte do mercado nutria um otimismo por uma redução maior na taxa, de 0,50%, que, por hora, parece menos provável, na visão da analista Lais Costa, da Empiricus Research.

O segundo motivo para a derrapada na curva do Ibovespa vem de Brasília. O líder do governo Lula no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a reforma tributária deve ser analisada de forma fatiada, depois do recesso parlamentar, em agosto. 

A fala refletiu em cautela do mercado, que teme mudanças significativas e lentidão na tramitação da proposta.

Queda do Ibovespa após o IPCA é exagerada? 

O analista-chefe da Empiricus Research, João Piccioni, prefere olhar a situação do IPCA por um outro ângulo. Apesar de levemente abaixo das expectativas, o índice deu ainda mais tração para a queda da Selic em agosto.

Ele lembra que tal possibilidade não estava no radar dos investidores até maio deste ano. Agora, o tom é outro. “Tem uma cadeia desinflacionária vindo para os preços e para os preços dos ativos de risco como um todo”.

Quanto ao tamanho do corte na taxa básica de juro brasileira, Piccioni não descarta uma queda de 50 pontos-base na primeira reunião, embora a possibilidade tenha sido reduzida.

Na visão dele, o IPCA-15, com dados relativos à primeira quinzena de julho e que será divulgado pouco antes da reunião do Copom, pode ser o trampolim que faltava para um início de afrouxamento monetário mais forte que o esperado. “Tem economistas renomados falando dessa hipótese, não dá para descartar”.

Como a Empiricus Research tem lembrado constantemente, o corte na Selic é um gatilho importante para os ativos de risco. Historicamente, a relação entre o Ibovespa e a taxa de juros é inversamente proporcional: quando um cai, o outro sobe.

“Com o movimento, vamos ter a taxa de juro real caindo no Brasil e isso vai fazer com que os investimentos se tornem bastante positivos no médio prazo. Continuo gostando bastante de bolsa. O afrouxamento monetário faz com que o mercado comece a se mover em prol de buscar novos recursos”.

“As empresas começam a se preparar para um cenário mais positivo de economia à frente. O processo de afrouxamento monetário traz um pouco de folga no orçamento das famílias e das empresas, o que é bastante favorável. Na minha visão, os ativos da bolsa brasileira, em especial as small caps e empresas de qualidade ligadas ao cíclico doméstico, vão desempenhar melhor”, afirma Piccioni.

Empiricus Research segue construtiva com a Bolsa brasileira

Por isso, ele acredita que os investidores devem se antecipar e comprar com antecedência a possível melhora. Neste contexto, as realizações do mercado, como as de ontem e hoje, podem se apresentar como oportunidade para construção ou consolidação de posições na carteira.

“Em parte, [a queda] é aquela história do sobe no boato e cai no fato. Acho que tinha um hall de investidores, um pouco mais traders, que esperavam uma notícia melhor do que a expectativa de deflação. Mas ele veio em linha. Olho para a bolsa hoje e começo a ver oportunidades que estão aparecendo por conta dessa forte desvalorização”, aponta.

Em um contexto de médio e longo prazo, o analista vê a continuação do bom momento do Ibovespa observado nas últimas semanas.

“As empresas estão encontrando seu novo nível de preço para trabalhar os produtos e margens. Me parece que o bom humor vai continuar”, finaliza.

Confira a entrevista completa de João Piccioni no Giro do Mercado:

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br