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Mercado em 5 minutos

Como vai ficar a reforma tributária no Senado e por que os EUA pode ganhar mercado na produção de petróleo; confira

Na Ásia, o preço do arroz subiu ao nível mais alto em dois anos, enquanto Xi Jinping segue pedindo uma maior cooperação econômica da China com outros países.

Por Matheus Spiess

12 jul 2023, 08:50 - atualizado em 12 jul 2023, 08:50

Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria das ações asiáticas subiu nesta quarta-feira (12) diante das especulações sobre o pico das taxas de juros dos EUA antes dos principais dados da inflação, enquanto as fracas leituras econômicas estimularam uma forte dose de realização de lucros nos mercados japoneses (dados de inflação geraram volatilidade). Um fechamento positivo durante o pregão de ontem em Wall Street também impulsionou as ações da região, já que comentários de autoridades do Federal Reserve sugeriram que o banco central estava perto de encerrar seu atual ciclo de alta de juros.

Os mercados europeus e os futuros americanos sobem nesta manhã. Ainda assim, os ganhos são limitados antes dos principais dados de inflação do índice de preços ao consumidor dos EUA, que serão divulgados ao longo do dia de hoje — embora se espere que a inflação geral tenha recuado, o núcleo da inflação do IPC poderá permanecer rígido, o que, por sua vez, deve atrair mais aumentos de juros pelo Fed no curto prazo. Falas de autoridades monetárias e até decisões de bancos centrais fazem parte da agenda do dia.

Por aqui, há certa tensão depois da aprovação da reforma.

A ver…

· 01:37 — Como vai ficar essa reforma no Senado?

No Brasil, os investidores digeriram ontem o IPCA de junho, que veio em linha com o esperado e registrou deflação de 0,08% na comparação mensal. Como o BC conseguiu levar a comparação anual a 3,2%, na meta de inflação, o corte em agosto parece certo. A dúvida fica por conta do tamanho: se será de 25 ou de 50 pontos-base.

Desde o começo do ano, trabalhamos com o início do ciclo de corte se dando em agosto com variação de 0,25 p.p. Até a reunião teremos mais dados para batermos o martelo.

Enquanto isso, na capital federal, depois de termos a reforma tributária sobre consumo aprovada na semana passada na Câmara, começamos a acompanhar as discussões dela no Senado.

Alguns governistas cogitaram fatiar o texto, de modo a acelerar a aprovação do que já existe convergência, deixando em aberto apenas os desentendimentos. A notícia gerou mal-estar entre os investidores.

No entanto, a estratégia foi descartada por Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado, e por Eduardo Braga, relator da proposta. Eles preferem votar tudo junto.

As lideranças querem aprovar tudo até outubro para devolver o texto com algumas mudanças à Câmara. Para não perder tempo, o governo já deve enviar a segunda fase da reforma, que trata da renda, antes disso.

Conhecemos bem a necessidade de encontrar receitas do governo para cumprir a promessa de zerar o déficit das contas públicas em 2024. Para tal, a tributação de lucros e dividendos recebidos por pessoas físicas e o corte de renúncias fiscais no IR são esperados.

O mercado pode se estressar caso haja incerteza sobre a condução fiscal.

· 01:30 — Os preços ao consumidor

Nos EUA, as ações continuaram subindo ontem, com os investidores aguardando um importante relatório de inflação, nesta quarta-feira, e o início da temporada de resultados do segundo trimestre, no final da semana.

Nos bastidores, o mercado se prepara para dois aumentos adicionais de 25 pontos-base da taxa de juros do Fed neste ano, apostando que o índice de preços ao consumidor (IPC) de hoje não fará muito para mudar a equação da autoridade monetária.

As previsões são de que o IPC aumentará 3,1% na comparação anual, quase um ponto percentual a menos do que em maio. O núcleo do dado, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve subir 5%, três décimos de ponto percentual a menos do que anteriormente.

Com isso, o indicador estaria em seu nível mais baixo desde março de 2021 e o núcleo desde novembro de 2021.

Eventuais surpresas podem ter efeito sobre os ativos lá fora, bem como sobre a cotação do dólar no Brasil.

· 02:23 — Produtores de petróleo americanos podem ganhar participação de mercado

A Arábia Saudita está cortando a produção de petróleo em um milhão de barris por dia até agosto, e a Rússia, em 500 mil por dia. Ambos os movimentos são adicionais às reduções feitas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

Esse acordo da Arábia Saudita e da Rússia para cortar a produção até pelo menos agosto, por sua vez, pode ser um impulso para os produtores de petróleo dos EUA, como Exxon Mobil e Chevron. O acordo pode permitir que as empresas americanas, que estão aumentando a produção este ano, ganhem participação de mercado.

A produção de petróleo dos EUA será em média de 12,6 milhões de barris por dia este ano, acima dos 11,9 milhões do ano passado. Com os sauditas querendo limitar a produção para elevar preços, a Exxon e a Chevron têm aumentado a produção na Bacia Permiana, rica em xisto, onde dizem que podem produzir petróleo nos próximos anos. Do ponto de vista da oferta pode fazer sentido. O problema é a demanda. Após uma campanha global de aumentos dos juros e os problemas inesperados com a economia chinesa, os preços do barril caíram mais de 17% nos últimos 12 meses.

· 03:12 — Alimentos mais caros

O preço do arroz subiu na Ásia para o nível mais alto em mais de dois anos, à medida que os importadores acumulam estoques com medo de que o início do fenômeno climático El Niño seque as plantações e danifique as safras. Enquanto as altas temperaturas estão quebrando vários recordes em todo o planeta, uma onda de calor atingiu o norte da África — a região tem experimentado um dos calores mais intensos dos últimos anos, mas em muitos casos isso tem sido subestimado devido a equívocos de comunicação dos eventos recentes.

A crise é agravada pelo fato de que muitos países do continente africano carecem dos recursos que as economias ricas têm para lidar com o aumento das temperaturas. Mais de 60 mil pessoas morreram por causa das temperaturas recordes na Europa no verão passado, levantando preocupações sobre a falta de preparação de vários países para o calor extremo alimentado pela mudança climática. Como sabemos, climas extremos vão gerar cada vez mais prejuízos para as economias. Como consequência, para piorar ainda mais a situação, podemos ter alta nos preços dos alimentos.

· 04:08 — Abertura econômica?

O presidente chinês, Xi Jinping, pediu uma maior abertura da segunda maior economia do mundo para se concentrar na cooperação estrangeira em áreas como comércio e investimento. As tentativas da China de encorajar os investidores estrangeiros aumentaram nas últimas semanas, pois ficou claro que a recuperação da economia após o fim das políticas Covid Zero de Pequim está começando a enfraquecer.

Além disso, o presidente também defendeu o aprofundamento de reformas nas áreas de investimento, comércio, finanças e inovação, e em outras áreas que envolvam trocas e cooperação com outros países, para elevar o padrão econômico do país. Quanto mais a China estiver disposta a cooperar com outras economias globais e fornecer estímulos à própria atividade, melhor para as commodities no mundo.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.