Os últimos anos – desde 2020 – não têm sido fáceis para a geração de caixa livre da Telefônica Brasil, a Vivo (VIVT3), e, consequentemente, para a distribuição de dividendos da companhia. Poucas coisas desanimam mais um investidor focado em renda do que ver a sua vaca leiteira reduzir a distribuição de proventos. Mas, segundo Richard Camargo, analista da Empiricus Research, esse jogo está para mudar (para melhor).
Repare no gráfico abaixo como o dividend yield da Vivo caiu nos últimos anos (exceto em 2023), o que provocou um de-rating nos papéis, que antes negociavam por 5,5x Valor da Firma/Ebitda, e hoje negociam abaixo de 4x.
Como você pode ver nos mesmos gráficos, a Tim manteve o (baixo) yield e, como prêmio, não passou pelo mesmo de-rating [penalização do mercado com movimento de venda] no período.
“Existe uma infinidade de outros exemplos de empresas que reduziram dividendos e foram punidas pelo mercado”, comenta o analista.
Por que a Vivo reduziu seus dividendos nos últimos anos?
Segundo Richard, para os resultados operacionais, os últimos três anos marcaram a “morte” do negócio de telefone fixo. Essa linha representava nada menos do que R$ 8 bilhões das receitas anuais da Vivo, 20% do total na época.
“A receita da linha de serviços legados (que também inclui TV a cabo) caiu pela metade desde então, o que obviamente tem sido um vento contrário para os resultados consolidados, que cresceriam em ritmo mais rápido sem isso”, explica.
A parte boa, ele diz, é que hoje essa fatia corresponde a apenas 8% da receita, e seu encolhimento vai pesar cada vez menos para os resultados consolidados.
Fonte: Vivo. Elaboração: Empiricus.
No curto prazo, os investimentos foram prioridade
O analista ainda reforça que não é só o resultado operacional que afeta os dividendos. “No caso da Vivo, o fluxo de caixa destinado aos investimentos foi pesadíssimo nos últimos anos”, afirma.
O leilão 5G custou mais de R$ 1 bilhão aos cofres da companhia, enquanto a aquisição dos ativos da Oi mais R$ 5,5 bilhões. Isso sem contar os altos em fibra.
A companhia saiu de uma posição de caixa líquido de R$ 7 bilhões em 2021 para uma dívida líquida de mais de R$ 4 bilhões no fim do ano passado.
Ou seja, boa parte do que antes era direcionado para os acionistas precisou ser reinvestido, e tudo isso em um ambiente de Selic elevadas, o que também significa maiores despesas com juros.
Fonte: Vivo. Elaboração: Empiricus.
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“Temos bons motivos para acreditar que a Vivo vai voltar a aumentar a distribuição de proventos”
Na visão do analista, todos esses investimentos levam a Vivo para uma posição ainda mais sólida no setor e se tornam algo crucial para a sustentabilidade do negócio.
“O problema é que no curto prazo isso significou redução de dividendos e, como já vimos, um de-rating das ações”, pontua.
No entanto, segundo ele, a Empiricus Research vê o ‘copo meio cheio’.
“Assim como empresas que reduzem dividendos passam por processos de redução de múltiplos, o contrário também costuma ser verdadeiro, e temos bons motivos para acreditar que a VIVT3 vai voltar a aumentar a distribuição de proventos nos próximos anos, isso mesmo sem considerar uma possível melhora dos resultados operacionais”.
Segmento móvel e B2B devem ‘voar’
Para começar, a companhia pediu autorização da Anatel para reduzir seu capital em R$ 5 bilhões. “Estamos falando de 7% de yield, que provavelmente serão divididos em duas ou mais parcelas neste e nos próximos anos, a depender do cronograma de aprovação da Anatel e dos acionistas”, explica o analista.
Além disso, em sua visão, outro fator que ajudará a rentabilidade dos dividendos é a combinação de queda da Selic e um endividamento mais baixo, não apenas por conta da redução dos juros pagos aos credores, mas também pela menor necessidade de amortização daqui para a frente.
Ainda, outro ponto importante é que depois de anos de investimentos pesados nos novos segmentos, a intensidade de Capex começará a cair em 2023: “Nos últimos anos a relação Capex/Receita, que esteve próxima dos 20%, deve cair para patamares próximos de 17%, o que ajudará a melhorar a geração de caixa e a distribuição de proventos”.
Fonte: Vivo.
“Mas também entendemos haver uma possibilidade de melhora em termos de preços no segmento móvel”, afirma.
O analista explica que, historicamente, o setor tem problemas para repassar a inflação, um pouco por conta do barateamento da tecnologia, mas muito por conta da concorrência.
Fonte: Vivo e Bloomberg. Elaboração: Empiricus.
Agora, com um player a menos no mercado (a Oi), e as outras companhias, Tim e Claro, bem mais racionais, o setor deve ter esse vento contrário a menos, o que, lembra o analista, de certa forma o mercado já observou no fim de 2022.
Outra vertical importante é o B2B (para empresas). Richard conta que a companhia fornece Cloud, Cibersegurança, T.I, entre outras soluções que algumas empresas preferem terceirizar.
“É interessante notar como esse segmento têm ganhado relevância nos resultados e, a julgar pela digitalização dos negócios que não para de crescer, as perspectivas seguem bastante positivas”, analisa.
Fonte: Vivo
Então, em resumo, o analista acredita que a combinação de “pricing power” de Vivo (VIVT3), menor peso dos serviços legados, redução de Capex e do endividamento acarretarão em yields que devem se aproximar de 10% nos próximos anos.
“Isso, inclusive pode trazer o tão esperado re-rating dos papéis, com a volta dos amantes de dividendos para a base acionária”, finaliza.