Uma das principais notícias macroeconômicas da semana é a suspensão do acordo de grãos entre Rússia e Ucrânia, que permitia o livre transporte de produtos agrícolas ucranianos e russos no Mar Negro desde julho de 2022. Agora, com a saída da Rússia, isso pode causar impactos globais para centenas de países, como inflação do preço dos alimentos.
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, explica: “Esse acordo foi fundamental para a cadeia de suprimentos, principalmente para países do sul do globo, mais pobres, como os africanos, que dependem de grãos que vêm da Rússia e principalmente da Ucrânia”.
Ao longo dos últimos meses, ele conta, mais de 30 milhões de toneladas de alimentos foram transportados por aquele canal e mais de mil embarcações passaram pelo Mar Negro com essa finalidade. “Agora temos cerca de 45 países sendo beneficiados por essas medidas”.
Por que a Rússia quis suspender o acordo?
“A Rússia acusou a Ucrânia de que a maioria dos beneficiários eram países ricos e não pobres, mas os ucranianos e a Turquia, que buscam uma negociação, um tratado de paz, já mostraram que os mais afetados são de fato os países mais pobres”, contextualiza o analista.
Não é a primeira vez que a Rússia sai do acordo. Desde que ele foi instaurado, o país já saiu três vezes do acordo e, em duas delas, houve suspensão antes do retorno. O objetivo dos russos, segundo Spiess, é “para pressionar e ter uma fatia maior do bolo para si”.
Nesse momento, o país pleiteia duas demandas:
- liberação de gasoduto para prover amônia para fertilizantes;
- retomada das relações com o swift de um banco em específico, que é o banco de agricultura russa.
Na visão do analista, no curto prazo a probabilidade de aceitação desses termos pelos demais envolvidos no acordo é baixa. “Talvez sejam aceitos outros pontos, caso a Rússia volte à mesa de negociação”, afirma.
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A suspensão do acordo de grãos pode disparar preço de alimentos
A pausa no acordo, explica Spiess, impacta o preço dos grãos, já que há menos oferta, e beneficia países exportadores, entre eles o próprio Brasil. “Patamares de commodities mais elevados favorecem a balança comercial brasileira e, consequentemente, propicia um patamar de PIB mais elevado”, pontua.
“É claro que a gente está falando de um choque muito curto, não necessariamente isso se manterá por muito tempo”, alerta.
Segundo ele, para os países envolvidos no acordo, o entendimento é de que a Rússia vai voltar à mesa de negociação e renovar esse acordo, ainda que em um modelo ou formato diferente.
“Enquanto isso, observamos nos últimos meses preparativos da União Europeia e da Ucrânia de rotas alternativas, para endereçar essa questão da cadeia do suprimentos sem o Mar Negro. Encarece a logística e fica muito mais complicado, mas é muito mais viável. Então o choque que tivemos ano passado não vai se repetir. Até mesmo porque o mercado já está amortecido dessa temática”, tranquiliza.
Ou seja, produtos agrícolas poderão subir de preço por conta desse fluxo e, em um segundo momento, a fome pode se intensificar nos países do sul global.
Por fim, o analista reforça que ainda é difícil decifrar todas as perspectivas após essa decisão da Rússia, uma vez que tudo está acontecendo em tempo real e pode mudar “de um instante para o outro”.
Para conferir a entrevista completa de Matheus Spiess sobre o acordo de grãos para o programa Giro do Mercado, é só dar “play” neste vídeo: