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Mercado em 5 minutos

Haddad deve lançar hoje a Agenda de Reformas Financeiras; veja o que esperar

A agenda do ministro da Fazenda visa propor melhorias regulatórias para o mercado financeiro. Esse é o primeiro passo rumo a algumas mudanças tributárias previstas para os próximos meses.

Por Matheus Spiess

20 jul 2023, 08:36 - atualizado em 20 jul 2023, 08:36

agenda de reformas financeiras
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. Nesta quinta-feira (20), os mercados asiáticos encerraram sem uma tendência única, com os futuros das ações americanas apresentando queda após resultados desanimadores de empresas como Netflix e Tesla. A desvalorização das gigantes da tecnologia trouxe um tom mais sombrio após o pregão anterior, enquanto a crescente disputa em torno das exportações de grãos ucranianos levou os investidores a moderar o otimismo com a redução da inflação.

Por outro lado, os mercados europeus abriram em alta, seguindo uma direção oposta aos futuros dos Estados Unidos. Enquanto a inflação de preços ao produtor na Alemanha em junho continuou em desaceleração, fortalecendo a ideia de um possível fim do ciclo de aperto monetário na Zona do Euro, os investidores americanos estão mais preocupados com a temporada de resultados. De forma positiva, tanto o petróleo como o minério de ferro tiveram alta nesta manhã.

A ver…

· 00:39 — Planejando a agenda

No Brasil, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem o objetivo de lançar hoje a Agenda de Reformas Financeiras, que visa propor melhorias regulatórias para o mercado financeiro. Esse é o primeiro passo rumo a algumas mudanças tributárias previstas para os próximos meses.

Em relação aos impostos, Haddad se reuniu ontem com o presidente da Câmara, Arthur Lira, para discutir a agenda de projetos do segundo semestre (hoje será a vez de Lula conversar com Lira). Embora a segunda etapa da reforma tributária (imposto de renda) ainda não seja esperada imediatamente, o plano para tributar os fundos exclusivos de investimento deve ser apresentado junto com o Orçamento de 2024 até o final de agosto.

Nos bastidores do governo, tem sido considerada a possibilidade de uma alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) em torno de 28%. Nesse sentido, o foco seria concentrar esforços no Senado para reduzir ao máximo o número de exceções, visando diminuir a alíquota para algo próximo a 25% pelo menos, já que quanto mais setores forem beneficiados com regimes diferenciados, maior será a alíquota geral. Após vencer essa batalha, a Fazenda voltará a abordar a reforma do imposto de renda. Além disso, a própria segunda etapa da reforma tributária poderá ser utilizada como uma forma de reduzir o IVA, equilibrando mais impostos de renda e menos impostos sobre o consumo, por exemplo.

· 01:28 — Bonança para o petróleo da América do Sul

Recentemente, chamou a atenção a reportagem da The Economist que destacou a América Latina como potencial principal produtora de petróleo nesta década. Isso não se deve apenas aos gigantes como a Venezuela, mas também a países como o Brasil e até mesmo a Guiana.

Falando em Guiana, a Exxon identificou uma reserva de 11 bilhões de barris de óleo bruto em sua costa, tornando possível que o país se torne um dos 20 maiores produtores de petróleo até 2028, uma transformação significativa para uma nação com menos de 1 milhão de habitantes.

Embora saibamos que a demanda por petróleo está caminhando para atingir seu pico nas próximas décadas, com o crescimento das alternativas de energia mais limpas, o petróleo continuará sendo necessário durante a transição energética. As empresas mais eficientes na produção, com baixas emissões de carbono, serão as beneficiadas.

No Brasil, já estamos bem-posicionados para aproveitar esse boom desde a descoberta do pré-sal, o que nos transformou de um produtor insignificante de petróleo para o oitavo maior do mundo. Desde então, nossa produção nos campos aumentou de 41 mil barris por dia em 2010 para 2,2 milhões de barris por dia no ano passado.

· 02:14 — O peso dos resultados

Nos EUA, o Dow Jones Industrial Average encerrou pelo segundo dia consecutivo em sua máxima de 52 semanas. Surpreendentemente, os ganhos persistiram mesmo após o fraco resultado do Goldman Sachs.

Especificamente, os mercados americanos estão em alta desde que o índice de preços ao consumidor da semana passada revelou uma desaceleração na inflação para 3% em junho, sendo os EUA o país com a taxa de inflação mais baixa entre os membros do G7. Essa queda superou as expectativas e traz otimismo quanto à possibilidade de o banco central interromper seus aumentos de juros à medida que a inflação continue a declinar.

Por outro lado, após o fechamento do mercado, a Tesla sofreu uma queda depois de reportar uma redução na lucratividade no segundo trimestre e alertar que os desafios provavelmente persistirão. Isso significa que a empresa pode continuar a reduzir os preços dos veículos elétricos se as taxas de juros continuarem subindo.

Além disso, a Netflix projetou uma receita abaixo das estimativas de Wall Street para o terceiro trimestre, sugerindo que as medidas de repressão ao compartilhamento de senhas e a introdução de novos níveis de publicidade ainda não estão gerando o crescimento de vendas previsto pelos analistas. Consequentemente, os resultados das empresas começam a exercer pressão sobre os principais índices de mercado.

· 03:06 — Um yuan forte

Na China, a autoridade monetária optou por manter a taxa de juros de referência para empréstimos (LPR) de 1 ano em 3,55% e a de 5 anos em 4,20%. No entanto, o mercado parece estar um pouco frustrado com a relutância do governo em lançar novos estímulos econômicos. Na decisão anterior, a autoridade chinesa realizou um corte marginal nas taxas, o primeiro em 10 meses. Em resposta a essa notícia, o yuan, a moeda chinesa, fortaleceu-se.

Além disso, a mudança das restrições de capital para atrair fluxos também contribuiu para o fortalecimento do yuan. O Banco Popular da China estabeleceu sua fixação diária em pouco menos de 7,15 por dólar, valor mais forte do que a estimativa média dos investidores e a maior desde novembro. Além disso, foram realizados ajustes em algumas regras para permitir que as empresas tomem mais empréstimos do exterior, abrindo as portas para maior ingresso de capital estrangeiro. Essas medidas têm como objetivo fortalecer a confiança dos negócios e estimular a economia.

· 04:01 — Espaço para o fim do ciclo de aperto monetário

O índice de preços ao consumidor da Zona do Euro registrou mais uma queda, ao passo que o núcleo, que exclui os itens mais voláteis, apresentou uma alta acima da prévia do início do mês. Essa situação fornecerá ao Banco Central Europeu (BCE) mais argumentos para aumentar as taxas de juros em sua reunião da próxima quinta-feira, um dia após a reunião do Federal Open Market Committee (FOMC) dos Estados Unidos. Inicialmente, prevê-se que o BCE elevará as taxas de juros mais duas vezes antes de fazer uma pausa. A medida se alinha à tendência geral dos países centrais, que estão se aproximando do fim do ciclo de aperto monetário.

No próximo ano, o mercado prevê taxas de juros significativamente mais baixas nos EUA, Canadá e Nova Zelândia. A Zona do Euro e o Reino Unido também podem se juntar a essa lista. Os três primeiros países são identificados como líderes do ciclo, e tanto o Canadá quanto a Nova Zelândia provavelmente já concluíram o ciclo de aperto, enquanto se projeta que o Federal Reserve (Fed) ainda fará uma última alta no final deste mês. Em essência, o mercado acredita que esses bancos centrais podem ter realizado apertos monetários excessivos, o que pode levar a cortes nas taxas ou um retorno à estabilidade em breve.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.