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Netflix (NFLX34): resultados do 2T23 trazem boas notícias dos pontos de vista financeiro e estratégico; saiba mais

Restrição no compartilhamento de contas ajuda Netflix a aumentar número de usuários. Apesar do bom resultado, ações caíram no pré-market

Por Richard Carboni Camargo

20 jul 2023, 10:45 - atualizado em 20 jul 2023, 10:45

Netflix - resultados 4T22
Imagem: Unsplash

Na última quarta-feira (19), a Netflix (Nasdaq: NFLX | B3: NFLX34) divulgou seus resultados referentes ao segundo trimestre de 2023 (2T23). Neste momento, as ações caem cerca de 8% no pré-mercado.

Conforme explicarei a seguir, acredito que a reação é um pouco exagerada, diante de um resultado que trouxe novidades positivas dos pontos de vista financeiro e estratégico.

Restrição ao compartilhamento de conta ajuda a impulsionar número de usuários da Netflix

Em relação aos números, a receita foi de US$ 8,18 bilhões (+2,7% na comparação anual, porém marginalmente abaixo do esperado pelo mercado) e a quantidade de usuários ativos somou 238,4 milhões, um crescimento de 8% na comparação anual.

Em termos de adições líquidas, os 5,89 milhões de novos usuários que se juntaram ao streaming no 2T23 representam uma boa aceleração em relação aos últimos trimestres, especialmente ao considerarmos que não houve lançamento de nenhum conteúdo das propriedades intelectuais consagradas da Netflix. 

O grande fator que explica essa aceleração no número de usuários é o “crackdown” que ela tem promovido nas contas compartilhadas.

Diferente do último trimestre, onde a empresa foi criticada pelos investidores devido à demora na implementação do plano, dessa vez os números indicam tração.

A Netflix já implementou a restrição ao compartilhamento de senhas em países que somam mais de 80% das suas receitas.

O padrão observado até aqui tem sido o de a maioria dos usuários mais frequentes retornarem à plataforma com uma nova assinatura após algumas semanas.

Esse é o principal fator que explica a Netflix ter acelerado de 1,75 milhão de novos usuários no 1T23, para 5,89 milhões agora.

Em termos geográficos, nenhum continente teve particular destaque sobre os demais, o que ratifica em certa medida a eficiência do crackdown.

Apesar dos bons números de adições líquidas, a maioria desses usuários se juntaram ao Netflix entre o final de maio e o mês de junho, portanto, ainda não contribuíram de maneira significativa para o faturamento.

Esse crescimento deve aparecer a partir do último trimestre de 2023.

Geração de caixa salta significativamente

Em termos de rentabilidade, a Netflix apresentou uma margem operacional de 22,3%, cerca de 3 pontos percentuais maior que no mesmo trimestre do ano passado.

Já a geração de caixa livre foi de US$ 1,33 bilhão; no mesmo trimestre de 2022, a Netflix praticamente não tinha gerado caixa.

O grande fator que explica o salto na geração de caixa foram os gastos menores com conteúdo: no 2T23 a Netflix gastou US$ 3,6 bilhões em conteúdo, contra US$ 4,6 bilhões no ano passado.

A redução nos gastos está em linha com a história que a empresa conta ao mercado, de estabilizar seus investimentos num patamar de manutenção (basicamente recompor a amortização) e passar a gerar mais caixa.

Entretanto, sabemos que os investimentos em novos conteúdos têm sido impactados pela greve realizada por artistas e trabalhadores do setor de entretenimento nos Estados Unidos. 

A greve ganhou ampla adesão, espaço nos noticiários e tem impedido o avanço de uma série de novas produções. 

Por isso, é natural que os gastos estejam menores neste momento e a empresa apresente também uma geração de caixa mais parruda nos próximos trimestres.

Devido a isso, a Netflix revisou para cima seu guidance de geração de caixa em 2023: de US$ 3,5 bilhões, agora a empresa espera entregar US$ 5 bilhões em free cash flow ao final deste ano.

NFLX34: por conta dos preços atuais, não temos exposição ao papel

Entre prós e contras, minha leitura do resultado é positiva: o mais importante para o investidor da Netflix, que é a rentabilidade, está no caminho correto.

A reação negativa do mercado à divulgação me parece mesclar a decepção com a falta de dados sobre o novo produto de anúncios (a Netflix não divulgou nenhum dado ainda sobre a evolução do plano), e alguma pressão técnica devido à excelente performance da ação no ano, que subia mais de 60% em 2023, até o fechamento de ontem. 

Na abertura de hoje, a Netflix deverá valer algo como US$ 195 bilhões. Mesmo sabendo que o mercado precifica a capacidade futura de resultados das companhias, um múltiplo 39x o fluxo de caixa dos próximos 12 meses, com crescimento de receitas em um dígito baixo, não nos parece nada atrativo.

Nas nossas carteiras internacionais da Empiricus, não temos uma exposição à Netflix. Preferimos ficar de fora aos preços atuais. 

Para conferir cinco ações internacionais recomendadas pela Empiricus Research, clique aqui.

Economista formado pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), é analista de ações certificado pelo CNPI, especialista no setor de tecnologia, com foco em ações internacionais. Está na Empiricus há 5 anos, onde é responsável por relatórios nacionais e internacionais, como o MoneyBets Revolution, um portfólio de teses especulativas em segmentos como healthtech, energia sustentável, software e games. Antes da Empiricus, trabalhou por 5 anos no setor de tecnologia.