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Mercado em 5 minutos

Brasil pode ver atritos no Banco Central e aguarda relatório de dívida do Tesouro Nacional; confira

Lá fora, Dow Jones bateu, ontem, sua nona alta consecutiva enquanto a Nasdaq caiu 2%, com ações de tecnologia sofrendo.

Por Matheus Spiess

21 jul 2023, 09:26 - atualizado em 21 jul 2023, 09:26

S&P rating nota de crédito avalia perspectiva do Brasil como positiva
Imagem: Pixabay

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, a maioria das ações asiáticas registrou queda nesta sexta-feira, com os investidores avaliando as medidas de estímulo na China em contraste com a fraqueza nas ações de tecnologia, após a gigante fabricante de chips Taiwan Semiconductor Manufacturing, divulgar um guidance mais negativo para o ano. A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, principal órgão de planejamento econômico, anunciou novas medidas para aumentar os gastos nos setores automotivo e de eletrônicos de consumo, em resposta à desaceleração da recuperação econômica chinesa no segundo trimestre. As promessas de mais apoio político de Pequim estão no radar dos investidores.

Na Europa, os mercados abriram o dia em queda, assim como os futuros americanos. Os investidores permanecem cautelosos antes da reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed) dos EUA na próxima semana, em que o aumento das taxas de juros em mais um quarto de ponto é amplamente esperado. Além disso, na semana seguinte, teremos reuniões de política monetária na Zona do Euro, bem como dados de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Europa e dos EUA, que podem influenciar os preços dos ativos.

No Brasil, hoje teremos o vencimento de opções, o que pode aumentar a volatilidade do dia. Os investidores estarão atentos ao humor internacional, aos resultados corporativos e às notícias de Brasília para tomar suas decisões no mercado. A combinação desses fatores moldará o cenário dos investimentos neste momento.

A ver…

· 00:56 — Um Show de Planilhas

No cenário nacional, o mercado está atento à divulgação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas pelo Ministério do Planejamento. Esse documento será acompanhado pelas estimativas orçamentárias de Simone Tebet para o próximo ano, e até o dia 31 de agosto, será apresentado o projeto de lei do orçamento de 2024. Essas próximas semanas são cruciais para compreendermos as medidas que o governo pretende adotar para garantir receitas extras.

Embora o pacote da reforma tributária relacionada ao imposto de renda seja previsto apenas para o final do ano, algumas antecipações já podem ocorrer, como a tributação de fundos offshore e dos fundos exclusivos. A ideia inicial do governo de manter a “neutralidade” nas propostas tributárias parece estar se afastando cada vez mais, apesar das declarações de Haddad em contrário.

Na prática, principalmente nas abordagens sobre imposto de renda e tributação dos mais ricos do país, estamos caminhando para um aumento na carga tributária.

Outra frente de arrecadação é a regulamentação das apostas esportivas, que pode trazer mais de R$ 2 bilhões para os cofres públicos. Enquanto isso, o mercado está assimilando o pacote de microrreformas financeiras publicado ontem.

Na agenda, além do documento do Planejamento, também contamos com o relatório mensal da dívida de junho do Tesouro Nacional. Essas informações são cruciais para entender o cenário econômico e as perspectivas para os próximos meses no Brasil.

· 01:51 — Brasil engasgado

Ao atingirmos os 120 mil pontos, não conseguimos superar essa barreira, e a ausência de gatilhos é a realidade que enfrentamos. Além disso, parece que há algum ruído diplomático. É importante lembrar que um dos pilares do novo governo é recuperar a credibilidade em diversas áreas, como a promoção da agenda democrática e sustentável. No entanto, ocorreram alguns questionamentos recentes, incluindo atritos entre os países do Mercosul e o tão esperado acordo com a União Europeia. Embora sejam apenas ruídos, eles não contribuem positivamente.

Além disso, há a preocupação com possíveis atritos dentro do Banco Central do Brasil (BCB). A nomeação de Galípolo para a diretoria do BCB foi seguida de um pedido de Roberto Campos Neto que foi interpretado como uma tentativa de restringir comentários problemáticos do novo diretor. Esse episódio não foi bem recebido. Até o momento, o conselho do BCB funcionou como uma entidade unificada sob a liderança de Campos Neto. A introdução de um ente independente formal pode mudar a dinâmica do conselho, trazendo diferentes formações e visões. A censura, nesse contexto, é uma ideia negativa.

O principal risco que o Brasil enfrenta agora é doméstico e grande parte do mau desempenho observado nos últimos dias se deve ao desfavorável posicionamento técnico. O Congresso está em recesso, enquanto o Executivo trabalha na preparação do orçamento e articula para a reforma tributária, que ainda pode enfrentar desafios no Senado. Por outro lado, o Banco Central está prestes a reduzir as taxas de juros, e a única questão é se a redução será de 25 ou 50 pontos-base — a reunião no início de agosto pode ser um novo fator de influência para os ativos (assim como o IPCA-15 da próxima semana).

· 02:48 — Um baque importante

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones Industrial Average registrou sua nona alta consecutiva ontem, marcando sua mais longa sequência de vitórias desde 2017. É uma recuperação significativa para o índice blue chip. No entanto, o mesmo não pode ser dito dos setores mais ligados à tecnologia. As ações da nova economia, voltadas para o crescimento, enfrentaram um dia muito mais difícil, com a Nasdaq caindo mais de 2% após os resultados negativos da Tesla e da Netflix, que despencaram 9,7% e 8,4%, respectivamente.

É válido mencionar que ambas as ações tinham expectativas elevadas para superar seus resultados trimestrais, e a correção em seus preços após as quedas não deve ser uma grande surpresa. A queda da Tesla, por exemplo, apenas a devolveu aos níveis de preço do início de julho e a queda da Netflix também a trouxe de volta ao patamar de 10 de julho. Outro ponto negativo foi o resultado da Taiwan Semiconductor Manufacturing, que também não agradou o mercado.

Curiosamente, parece mais do que uma coincidência que as ações de tecnologia tenham enfrentado dificuldades logo após o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos ultrapassar 4%, o que ocorreu há menos de duas semanas, e em um dia em que as taxas voltaram a sinalizar um novo teste desse nível. Isso revela que ainda persistem preocupações sobre a vulnerabilidade das empresas de tecnologia a custos de empréstimos mais altos, apesar do entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA) e outras inovações do setor. A volatilidade dos mercados mostra que as preocupações com os setores de tecnologia e o impacto das taxas de juros continuam a influenciar o comportamento dos investidores.

· 03:35 — Eleições britânicas

A política, de forma geral, está se tornando uma preocupação para os mercados financeiros. A ascensão das redes sociais encorajou uma crescente polarização e o surgimento da política baseada em questões específicas, em que os eleitores se agrupam em torno de causas pelas quais são apaixonados, em vez de se alinharem estritamente a manifestos partidários.

Nesse contexto, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, enfrentou uma reviravolta política dramática quando o Partido Conservador sofreu uma derrota significativa em uma eleição parlamentar no norte da Inglaterra para o Partido Trabalhista. Esse revés reduziu a grande maioria do Partido Conservador e proporcionou ao partido de Keir Starmer um ímpeto claro enquanto se prepara para uma votação nacional prevista para o próximo ano.

Embora os resultados das eleições suplementares no Reino Unido provavelmente não movam os mercados, os investidores parecem despreocupados com uma possível mudança de governo no próximo ano, considerando que os conservadores do governo estiveram no poder por 13 anos e já perderam duas das últimas três eleições. Em vez disso, os mercados estão mais atentos às eleições gerais na Espanha neste fim de semana, uma vez que uma mudança de governo pode acarretar alterações políticas mais substanciais (a Espanha assume em breve o comando rotativo da União Europeia, tornando a decisão importante).

· 04:24 — Quais são as chances de Putin ser destituído?

De acordo com a Eurásia, as chances de Putin ser destituído são praticamente nulas. Essa suposição é válida até que algum evento concreto aconteça e torne a situação real. Brincadeiras à parte, caso ocorra algo dessa natureza, é provável que seja repentino e sem indícios externos ou conhecimento prévio; afinal, a tentativa de “golpe” de Wagner não teve precedentes, embora não tenha tido um impacto imediato no status quo da Rússia. Contudo, é notável que uma fratura no poder russo pode se tornar mais viável quando o líder central (Putin) não aparenta tanta força como antes.

No entanto, é evidente que agora existe uma pressão muito maior, especialmente após Prigozhin, o líder do grupo de mercenários, desafiar abertamente Putin e continuar vivo (pelo menos por enquanto). Isso expôs falhas mais profundas, sistêmicas e potencialmente existenciais no sistema russo. A guerra na Ucrânia tem sido terrível para as forças militares russas, e uma contra-ofensiva ucraniana bem-sucedida pode tornar essas fragilidades ainda mais evidentes. Embora antes a substituição de Putin parecesse impossível, hoje é vista como mais plausível, embora ainda seja improvável.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.