Escrevo esta newsletter no apagar de 2020, com otimismo.
Graças ao início da vacinação pelo mundo (e, apesar do ruído político, não há dúvidas de que também iniciaremos nosso programa de imunização), os mercados globais fecharam o ano em níveis recordes.
Melhor assim.
Mas paro por aqui. Esta semana afastei-me das minhas obrigações profissionais para me dedicar um pouco mais à minha família.
Espero que você, como eu, tenha tido uma linda passagem de ano e que 2021 traga bons ventos a todos nós.
Para não ficar no vazio, reproduzo abaixo o texto da newsletter “Elos fortes e fracos”, publicada em 16 de outubro:
No domingo passado, o Los Angeles Lakers conquistou o seu 17º título da NBA, fechando a série contra o Miami Heat em 4 a 2.
Quase não vi a partida. Recebíamos visitas em casa, no domingo com cara de sábado, dada a véspera de feriado. Tive que negociar uma dispensa dos meus deveres sociais com a Larissa, que se incumbiu sozinha do papel de anfitriã.
Casados sabem que não há almoço de graça nesse tipo de acordo. Sempre sobra alguma dívida a ser cobrada de alguma forma, cedo ou tarde.
O desequilíbrio do confronto terminou limitando o meu passivo. Desliguei a TV e voltei à sala já no intervalo, posto que a partida perdeu a graça no segundo quarto, com a equipe californiana abrindo uma vantagem intransponível de quase 30 pontos.
O meu Heat, com uma equipe recheada de jovens talentos, não pode fazer frente à equipe comandada pelo fantástico LeBron James e pelo talentoso Anthony Davis.
A conquista dos Lakers foi uma demonstração inequívoca da natureza de “elo forte” do basquete, um conceito com diversas aplicações em fenômenos humanos, inclusive sobre a gestão das nossas finanças, como abordarei mais adiante.
Antes, claro, permita-me apresentar o conceito de “elos fortes” e “elos fracos” desenvolvido pelo autor britânico Malcolm Gladwell. Peço vênia por trazê-lo novamente aqui na newsletter, mas sua capacidade de conectar os pontos e empacotá-los em conceitos únicos é formidável.
Gladwell explica os elos fortes e fracos comparando basquete e futebol.
Para o autor, o futebol é claramente um esporte de elos fracos, ou seja, a força de uma equipe é definida pela capacidade dos jogadores mais fracos do elenco.
Sendo um esporte de poucos pontos, ou gols, um erro importante cometido por algum jogador tem altíssimo impacto no resultado de uma partida.
Aqueles da minha geração lembrarão da tragédia do Sarriá, quando Paolo Rossi fez três gols no Brasil e mandou para casa uma das mais talentosas equipes da história.
O passe errado de Cerezo para Oscar no segundo gol italiano e a bobeada de Junior, que não saiu debaixo das traves no terceiro gol, dando condição para o atacante italiano, foram absolutamente fatais.
A força do coletivo no futebol também vale para o ataque, já que, via de regra, os gols são construídos por uma sequência de passes entre vários atletas. E, por melhor que seja o craque do time, até mesmo o Messi teria enorme dificuldade em atravessar o campo toda com a bola dominada e resolver a partida.
Estudos feitos na Premier League, onde todas os jogadores são ranqueados de acordo com dezenas de critérios de capacidade técnica, mostram que melhorar os piores jogadores tem impacto vastamente superior no desempenho do time numa competição frente à contratação de um supercraque.
Por outro lado, o basquete tem uma natureza de “elo forte”.
Um vacilo de um jogador tem pouco impacto no resultado final da partida. Por outro lado, craques fazem a diferença sozinhos. LeBron James sistematicamente atravessa a quadra toda para terminar numa cesta.
Nas finais da NBA, James e Davis resolveram o confronto, deixando os demais claramente como coadjuvantes.
Gladwell também traz outros interessantes exemplos de sistemas de elos fracos.
O funcionamento da aviação civil de um país será tão bom quanto for o seu pior aeroporto importante. Pense no impacto em nossos voos caso Congonhas ou Galeão, por exemplo, apresentassem falhas sistemáticas. A rede toda colapsaria.
O sistema educacional de um país também tem características de elos fracos. Um punhado de escolas de elite não compensa uma rede pública de ensino de baixa qualidade.
Concluindo e conectando com nossas finanças…
A saúde da nossa carteira de investimentos está apoiada na harmonia entre os ativos que a compõem.
A propósito, o Felipe está apresentando uma série de 21 lives com aulas diárias sobre investimentos em seu Instagram.
A diversificação adequada por classes e tipos de ativos, correlacionados ou não, colabora para a robustez da performance no longo prazo.
O que adianta ter ganhos extraordinários em algumas ações e devolver tudo em posições perdedoras que roubam nosso retorno?
Obviamente, não é possível ganhar todas, assim como não me lembro de ter visto um time de futebol só de craques.
Perderemos sistematicamente em várias de nossas posições, isso é inevitável.
Nosso objetivo deve ser justamente cuidar dos elos fracos, minimizando os erros. Assim, as inevitáveis perdas são absorvíveis, preservando a qualidade de nossas aplicações.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Um abraço e boa leitura,
Caio