Ontem (4), após o fechamento do mercado, o Bradesco (BBDC4) divulgou seus números do 2T23, que vieram em linha com as (modestas) expectativas.
Mais uma vez, a inadimplência foi a vilã do resultado, levando a linha final para R$ 4,5 bilhões, com ROE de 11,1% – mesmo com a ajuda de uma baixa alíquota de imposto de renda e do bom resultado de seguros. Entretanto, ao que tudo indica, os calotes já passaram do pico para o Bradesco, sugerindo uma melhora gradual (embora lenta) nos próximos trimestres.
Carteira de crédito frustra expectativas
A carteira de crédito expandida ficou em R$ 869 bilhões, contração de 1% na comparação trimestral e, na anual, alta de 2%. Esse crescimento decepcionou até as expectativas do próprio banco, que revisou para baixo a projeção para o ano: agora, a carteira deve crescer entre 1% e 5%, versus 6,5%-9,5% na expectativa anterior.
Além disso, houve queda sequencial de 0,2 p.p. no spread médio, para 9,7%, em função da política de crédito mais restritiva. Isso levou a uma queda sequencial de 2% na margem com clientes, cuja projeção também foi revisada para baixo: agora o banco espera que ela cresça entre 2% e 6% no ano, versus 7%-11% anteriormente.
Calotes caem marginalmente
Os calotes, por sua vez, permaneceram em patamar alto, mas marginalmente caindo. Excluindo o efeito Americanas, os empréstimos atrasados há mais de 3 meses agora representam 5,7% da carteira total, o que é 2,2 p.p. maior na comparação anual, mas 0,1 p.p. menor na trimestral.
À medida que as novas safras, mais saudáveis, ganham representatividade, esse índice tende a cair; mas os empréstimos antigos, concedidos até 2020, ainda obrigam uma provisão alta: a despesa para perdas foi de R$ 10,3 bilhões, 8% maior na comparação trimestral, e 94% maior na anual.
Com isso, a margem com clientes após inadimplência ficou em R$ 6,3 bilhões, -14% trimestralmente e -46% anualmente.
Por sua vez, a margem com o mercado continua negativa, em R$ 96 milhões, mas isso representa uma melhora em relação aos -R$312 milhões do 1T23. Em linha com o discurso dos gestores, está havendo um avanço gradual nessa linha.
Lucro líquido final do Bradesco ficou em R$ 4,5 bilhões
Já a receita de serviços foi de R$ 8,8 bilhões, estável sequencialmente, mas 3% menor contra o 2T22. Na comparação anual, os principais detratores foram as tarifas de conta corrente, administração de consórcios e operações de crédito.
Do lado positivo, a operação de seguros teve um resultado de R$ 4,8 bilhões, com ROE de impressionantes 24,5%, devido à maior comercialização, queda de sinistralidade e resultado financeiro melhor.
As despesas operacionais do conglomerado cresceram 2% sequencialmente, e 13% anualmente. Isso levou a uma piora de 0,8 ponto percentual no índice de eficiência, que relaciona as despesas com as receitas totais.
Uma alíquota efetiva de imposto de renda em 8% atenuou o efeito no lucro líquido final, que ficou em R$ 4,5 bilhões, com ROE de 11,1%.
BBDC4: recomendação neutra
Do nosso lado, já esperávamos um resultado fraco, e enxergamos o início de um movimento de melhora, puxado pela inadimplência, que sugere sinais de queda daqui para a frente. Talvez seja cedo para dizer, mas é possível que observemos uma melhora gradual nos próximos trimestres.
De todo modo, retomar o patamar histórico do ROE, de 18%, será uma tarefa árdua, principalmente pela competição das fintechs pelas classes C, D e E. Por isso, preferimos acompanhar a BBDC4 do lado de fora, com uma recomendação neutra.