Bom dia, pessoal. No cenário internacional, as bolsas asiáticas encerraram esta terça-feira (8) sem uma tendência clara, mas principalmente em território negativo. Os investidores estão assimilando dados de comércio chinês que apontam para uma atividade mais fraca, enquanto aguardam os principais indicadores de inflação da China e dos Estados Unidos, que fornecerão uma visão atualizada da saúde da economia global.
O declínio nas exportações chinesas foi o mais acentuado desde o início da pandemia de Covid-19, o que aumentou as preocupações em relação ao crescimento econômico do país. Esse sentimento negativo se espalhou, influenciando a queda nos mercados europeus e nos futuros das bolsas americanas nesta manhã. Além disso, as principais commodities também estão em queda, o que poderia ter impactos negativos no Brasil.
A ver…
· 00:29 — Reforma Ministerial: dança das cadeiras e pauta emperrada
No Brasil, o foco do dia não estará apenas na análise dos resultados do Itaú, que divulgou seus números para o segundo trimestre na noite de segunda-feira, mas também na divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). É notável que o ceticismo do mercado financeiro em relação à capacidade do Banco Central de cumprir a meta de inflação em um horizonte mais amplo diminuiu consideravelmente desde maio, embora ainda persista. Observa-se uma gradual convergência das expectativas do Boletim Focus para um cenário mais favorável ao Brasil, mas o percurso não será isento de desafios. A permanência da meta de inflação em 3% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e os avanços no novo arcabouço fiscal contribuíram para ancorar essas expectativas. No entanto, qual é o próximo passo?
Será intrigante observar como essas perspectivas se desenvolvem em um contexto no qual parte do mercado já considera a possibilidade de um Banco Central mais flexível, possivelmente liderado por Gabriel Galípolo, que poderia realizar cortes de taxas de juros mais profundos do que o esperado em um segundo momento. O governo já está trabalhando nos critérios para futuras mudanças no BC, das quais estão previstas pelo menos mais duas até o final do ano. Nesse ínterim, o comunicado de hoje poderá trazer o otimismo que a decisão da semana passada tinha potencial para trazer, mas não concretizou. Especificamente, a forma como o Banco Central percebe os riscos fiscais no momento atual ficará mais evidente (além disso, na quinta-feira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, prestará depoimento ao Senado), principalmente em relação à implementação do novo arcabouço fiscal.
Com o novo marco das finanças públicas estagnado na Câmara, o governo vem adiando repetidamente a tão necessária reforma ministerial que poderia facilitar a resolução da pauta. Já se discute a criação de novos ministérios, como o Ministério da Micro e Pequena Empresa, além da divisão de ministérios existentes, como os de Portos e Aeroportos, com o intuito de acomodar mais parlamentares e possibilitar um diálogo mais produtivo com os congressistas. Sem progresso nesse sentido, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024 fica emperrado e corre o risco de afetar as expectativas do mercado, que hoje estão mais ancoradas do que no início do ano. Quanto menor a previsibilidade, pior é o impacto. O governo até tenta desenvolver um “plano B” para viabilizar despesas como as do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas até agora sem êxito.
· 01:59 — Um plano estratégico e o risco de descasamento de preços
No contexto brasileiro, a Petrobras anunciou que seu Plano Estratégico 2024-2028 terá como enfoque principal a alocação de investimentos em projetos de baixa emissão de carbono, correspondendo a uma parcela de 6% a 15% do investimento total do novo plano. De acordo com a empresa, essa abordagem está alinhada com os elementos estratégicos que serão incorporados no plano, permitindo que a empresa participe de empreendimentos de baixo impacto ambiental, diversificando o portfólio de maneira lucrativa. Além disso, a Petrobras visa à redução das emissões, contribuindo para uma transição energética equitativa e a promoção do conhecimento em sustentabilidade.
A empresa planeja financiar esses investimentos por meio do fluxo de caixa operacional, em proporções comparáveis às de outras empresas do setor. Dessa forma, o plano tem o potencial de incrementar os investimentos em até 10%, chegando a cerca de US$ 86 bilhões. Em uma perspectiva mais cautelosa, a possibilidade de aumento dos investimentos é projetada em US$ 83 bilhões. Entretanto, o mercado tem demonstrado maior preocupação com o risco de interferência política na empresa e com a discrepância entre os preços praticados pela Petrobras em seus produtos refinados e os valores de referência no mercado internacional.
· 02:48 — No aguardo dos dados de inflação
Nos Estados Unidos, as ações se recuperaram de uma semana desafiadora no dia anterior, embora não tenham surgido novos dados econômicos significativos e a antecipação dos números de inflação esteja no centro das atenções. No entanto, até o momento, a temporada de resultados tem se mostrado positiva. Os resultados surpreendentemente favoráveis estão sendo impulsionados por medidas de contenção de despesas e gestão de margens, em vez de um crescimento de vendas mais robusto do que o esperado. Isso inevitavelmente causou certa volatilidade na semana passada, especialmente após a Fitch rebaixar a classificação da dívida dos EUA.
É encorajador ver que o Índice de Volatilidade, conhecido como VIX, caiu 6,2% para 16,04 na segunda-feira. Esse indicador, que mede o medo no mercado, está abaixo da média. Embora isso possa parecer um sinal de tranquilidade excessiva, é importante lembrar que os mercados muitas vezes se recuperam em momentos de declínio e baixa volatilidade, exatamente como estamos vivenciando agora. No entanto, é possível que a calmaria do mercado seja agitada um pouco mais até o final desta semana, principalmente devido aos dados de inflação que serão divulgados. Especialmente se esses números forem desconfortavelmente elevados, isso poderia desencadear movimentos mais pronunciados por parte do Federal Reserve.
· 03:31 — Contornando o fim de pacto de grãos
Recentemente, a Ucrânia alcançou um acordo que permite a utilização de portos na Croácia, situados no rio Danúbio e no mar Adriático, para a exportação de grãos. Esse anúncio oferece a perspectiva de que o país recupere parte de sua capacidade de venda no mercado externo após a saída da Rússia do pacto de grãos no mar Negro. Dado que essas duas nações não compartilham fronteiras, será necessário estabelecer uma rota para que os produtos agrícolas saiam da Ucrânia, em meio ao cenário de guerra, e cheguem ao território croata, o que provavelmente acarretará custos adicionais.
Qualquer esforço para desbloquear as exportações, independentemente da porta que se abra, contribui para a segurança alimentar global. Afinal, a Ucrânia é responsável por 10% de todas as exportações globais de trigo, 15% das exportações de milho e 13% das exportações de cevada, além de mais de 50% do óleo de girassol produzido mundialmente. No ano passado, a Iniciativa de Grãos do Mar Negro foi estabelecida em colaboração com a ONU e a Turquia, com o propósito de garantir o trânsito seguro das exportações ucranianas, evitando que seus navios fossem alvos russos. No entanto, Moscou retirou-se do tratado no mês passado, alegando que as contrapartidas não estavam sendo cumpridas. O término desse pacto pode resultar em um aumento nos preços globais dos grãos, mesmo com novos acordos estabelecidos.
· 04:27 — Um risco cada vez maior de desaceleração
A China divulgou os dados referentes ao comércio de julho e eles apresentaram uma performance mais fraca do que o previsto. A situação ficou ainda mais complicada com a revisão para baixo dos números do comércio do primeiro trimestre — havia suspeitas em relação aos dados de exportação, uma vez que eles não se alinhavam com as importações registradas por outros países. As estatísticas indicam que as importações chinesas tiveram uma queda de 12,4% em julho, abaixo das previsões que apontavam para uma diminuição de 5%, enquanto as exportações também caíram, atingindo 14,5% de declínio, comparadas à queda de 12,5% projetada por economistas. A revisão desses números sugere um PIB mais fraco para o primeiro trimestre.
Quando a China suspendeu as medidas restritivas relacionadas à pandemia após três anos de rigoroso controle, muitos especialistas previam um rápido aumento nos preços. Porém, o país está enfrentando um raro período de declínio nos preços, em contraste com lugares como os EUA e outras grandes economias que estão lidando com uma inflação considerável. Diferentemente da redução temporária observada no final de 2020 e no início de 2021, a queda atual nos preços ao consumidor gera mais preocupação. A falta de gastos por parte das pessoas pode pressionar as empresas a reduzir os preços, o que diminui a receita e os lucros, levando-as a cortar investimentos e empregos. Por isso os dados de inflação desta semana são tão importantes.
Em resumo, a desaceleração na demanda tanto global quanto doméstica por produtos está exercendo um impacto sobre a segunda maior economia do mundo, que também enfrenta desafios com um setor imobiliário enfraquecido. A China tem lutado para recuperar sua dinâmica após o fim de três anos de medidas restritivas devido à pandemia no início deste ano. Os números desanimadores do comércio divulgados na terça-feira reforçam a expectativa de que a atividade econômica mais lenta do país possa desacelerar ainda mais no terceiro trimestre, o que aumenta a pressão sobre os formuladores de políticas para implementar novas medidas de estímulo.