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Ibovespa cai pelo 11º pregão seguido: o que está acontecendo?

Ibovespa igualou hoje marca negativa que não se via desde 1984. Reversão de tendência ou correção natural?

Por Juan Rey

15 ago 2023, 17:25 - atualizado em 16 ago 2023, 09:57

Ibovespa queda 11 pregões

A expectativa dos investidores pelo corte da Selic, que historicamente favorece o Ibovespa e os ativos de risco em geral, era grande. Ele veio no dia 2 de agosto, em 50 pontos-base – melhor que o estimado por muitos agentes de mercado. 

Desde então, ao contrário do esperado, o Ibovespa não subiu mais. Hoje (15), o índice fechou seu décimo primeiro dia seguido de queda (-0,5%), o que não se via desde 1984.

Qual o motivo das quedas consecutivas do Ibovespa?

De acordo com o fundador e estrategista-chefe da Empiricus Research, Felipe Miranda, três fatores principais contribuem para a queda do Ibovespa. 

Um deles é a China. A reabertura do país asiático depois da covid-19 frustrou o mercado, com dados econômicos decepcionando sistematicamente.

Logo na virada para agosto, o PMI chinês mostrou desaceleração na indústria. Hoje, a tendência foi confirmada, com os dados de produção industrial apontando crescimento de 3,7%, contra a expectativa de 4,1%.

No varejo, não foi diferente: as vendas tiveram alta de 2,5%, ante expectativa de 4,5%. 

“Isso coloca em risco a meta de crescimento da China de 5%, que já é baixa para os padrões do país. Tudo isso cria uma dinâmica ruim para mercados emergentes”, aponta Felipe.

Além disso, a Country Garden, uma das maiores incorporadoras do país, não conseguiu pagar os juros de empréstimos na semana passada e desabou no pregão de segunda-feira (14).

A companhia anunciou a paralisação do pagamento de vários títulos e aumentou o temor em torno da crise do mercado imobiliário chinês.

“Isso tem afetado bastante a aversão a risco, contaminando mercados emergentes em geral e as commodities. O Brasil é uma proxy da China e sofre um pouco mais”, avalia o estrategista-chefe.

O país asiático tentou reagir com corte na taxa de empréstimo de 15 e 10 pontos-base nas taxas de médio e curto prazo, respectivamente. A atitude, aparentemente, produziu efeito contrário e, na visão do fundador e vice-presidente da Empiricus, Rodolfo Amstalden, pode prenunciar “certo desespero”.

Com isso, as commodities – em especial metálicas – desaceleraram. Ruim para a Vale, empresa de maior peso no Ibovespa.

Yields dos treasuries em alta também prejudica Ibovespa

Outro ponto chave para a fase ruim do Ibovespa também vem do exterior. De acordo com o analista-chefe da Empiricus Research, João Piccioni, os leilões de títulos do tesouro norte-americano a taxas mais elevadas têm feito os investidores retornarem o dinheiro para o dólar.

“Este é um segundo elemento que também tirou um pouco de apetite por ativos de risco ao redor do mundo. A gente viu o Brasil indo mal, mas as outras bolsas também estão sofrendo na mesma esteira”, analisa.

Miranda vai na mesma linha, citando a alta do treasury de 10 anos dos EUA. 

“Essa variável é a que mais explica os fenômenos financeiros em âmbito global. Essa subida dos yields mexe com o fluxo de capital global, com valuations e com uma série de coisas. Hoje está no maior patamar desde novembro”.

“Houve um grande otimismo no começo do ano de que a recessão seria evitada e os yields ficaram bem comportados com o processo de desinflação. No entanto, mais recentemente temos visto uma renovada tensão com essa história de que a inflação pode ser mais persistente e os yields voltaram a incomodar. Isso é muito destruidor de valor”, avalia Felipe Miranda.

Não poderiam faltar os problemas de Brasília…

Como se não bastasse, notícias vindas de Brasília também têm afetado o Ibovespa. 

Ontem (14), o desentendimento entre Haddad e Lira por conta da tributação de offshores causou ruído. Além disso, o (agora ex) CEO da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., renunciou ao cargo e levantou hipóteses de que o governo quer ter um peso maior no conselho.

Adicionalmente, existe toda a questão do preço do combustível que envolve a Petrobras. “Isso afetou as expectativas de inflação para o final do ano, algumas casas já refizeram suas expectativas. Tudo isso gera esse mal humor”, afirmou Piccioni.

O orçamento também preocupa, já que falta algo entre R$ 100 e R$ 150 bilhões para fechar a conta. “O governo optou por fazer um ajuste fiscal pela receita, existe uma incerteza enorme. Quem vai pagar a conta?”, questionou Felipe Miranda.

O estrategista-chefe da Empiricus abordou este assunto de maneira mais densa na sua última newsletter, que pode ser lida aqui.

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Reversão de tendência ou Ibovespa deve seguir caminho positivo?

Embora a sequência de pregões negativos seja desagradável, a queda não foi brusca. Até o fechamento de hoje (15), o Ibovespa caiu 4,7% no mês. Dado o contexto, é um ponto positivo.

De maneira surpreendente acho que a bolsa está se comportando razoavelmente bem. Não acho que tenha havido mudança de tendência. Vamos ter soluço ao longo do caminho, é importante se acostumar com isso. Mesmo grandes bull markets passam por correções de 20%, 30% e às vezes até 50%. Estamos atravessando uma delas.”

Para ele, a falta de gatilhos positivos pode estar contribuindo para o “cansaço” do Ibovespa. 

“O que poderia eventualmente ser trigger é um indicador de inflação mais baixo nos EUA e uma atuação mais vigorosa em termos de política fiscal e monetária. Se isso acontecer, talvez tenhamos algum alívio. No Brasil, o trigger é a caminhada da reforma tributária, que travou, e a queda da taxa de juros, que vai vir, mas é mais paulatina porque o mercado já tem colocado na conta”, avalia.

De modo geral, o estrategista-chefe ainda está otimista com a bolsa brasileira. “Está barata, com equity risk premium alto, preço sobre lucro baixo e posição técnica boa”. Mas ele alerta: “não vai ser um passeio no parque”.

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br