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O futuro é agora

Escrevo esta newsletter na sexta-feira, dia em que o vermelho domina as telas de cotações. Além de forte correção nos índices de ações, tanto aqui como nos EUA, outros ativos também acompanham o mau humor e perdem valor. Metais preciosos e não preciosos, petróleo e até mesmo o bitcoin são negociados a preços inferiores aos da véspera.

Por Caio Mesquita

16 jan 2021, 11:38

Escrevo esta newsletter na sexta-feira, dia em que o vermelho domina as telas de cotações.

Além de forte correção nos índices de ações, tanto aqui como nos EUA, outros ativos também acompanham o mau humor e perdem valor. Metais preciosos e não preciosos, petróleo e até mesmo o bitcoin são negociados a preços inferiores aos da véspera.

O noticiário põe na conta do “desenvolvimentista” Joe Biden, com seus planos para novos trilhões em estímulos, a culpa pela dor de barriga generalizada.

Ironicamente, a exceção para a sangria fica por conta da valorização do dólar, que sobe contra praticamente todas as moedas. Deixo para meus sócios e brilhantes economistas, Felipe e Rodolfo, a explicação para o aparente contrassenso.

Talvez estejamos chegando a algum tipo de saturação e o mercado comece a desconfiar que dinheiro infinito não resolve tudo.

Bancos centrais e suas desenfreadas aventuras monetárias parecem ser apenas um dos inúmeros exemplos do nosso gradual afastamento do natural para o artificial.

Os limites do convencional foram abandonados há tempos e, gradualmente, fomos nos acostumando com padrões que seguem desafiando o senso comum.

No final do século passado, o então presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, alertava quanto aos riscos do que chamava de “exuberância irracional” dos mercados. 

De fato, pouco tempo depois, eclodiu a crise das empresas pontocom, corrigindo os excessos financeiros da adolescência da internet.

Quando observamos o que está acontecendo hoje, as distorções apontadas por Greenspan seriam praticamente irrelevantes. 

Apesar da recente alta nos juros americanos, ainda temos estoque de quase US$ 20 trilhões em títulos de dívida com juros negativos. Ou seja, investidores pagam para que tomadores guardem seu dinheiro.

Tente explicar isso a uma pessoa que não esteja acompanhando de perto a evolução dos mercados e certamente encontrará um semblante confuso. 

Juros negativos, expressão clara do artificialismo monetário que vivemos, distorcem a precificação dos demais ativos. 

Assim, observamos as empresas do índice Dow Jones, na sua maioria em setores consolidados e de crescimento apenas moderado, sendo negociadas a um múltiplo acima de 25 vezes o lucro projetado para os próximos 12 meses. 

Ações de empresas de tecnologia, dotadas de um robusto potencial de crescimento, apresentam naturalmente múltiplos maiores. As distorções verificam-se quando são jogados fora múltiplos de lucro ou mesmo de geração de caixa, cuja existência projeta-se para um futuro distante apenas. Não é incomum que ações dessas “joias” troquem de mão com um valor de múltiplos de dezenas ou até centenas de vezes a receita anual da companhia.

Com taxas de desconto tendendo a zero, qualquer fluxo de caixa futuro, por mais distante que seja, tem valor hoje.

A matemática financeira nos ensina que o dinheiro tem valor no tempo. Assim, recebemos remuneração por abrir mão do presente em troca de um futuro mais próspero.

Ao inverter essa equação, não há razão para esperar. O futuro passa a ser agora. Para aguardar, somente uma enorme promessa nos convence e, assim, compramos qualquer promessa desde que seja formidável.

Elon Musk que o diga.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Um abraço e boa leitura.

Caio

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus