A B3 (B3SA3), empresa que representa a Bolsa de Valores brasileira, vem se beneficiando do bull market de 2023. Desde fevereiro, a ação sobe 21%; no ano, valoriza mais de 13%, contra 9% do Ibovespa.
De um mês para cá, acompanhando a queda do Ibovespa, o papel cai em torno de 5% dos ganhos – o que, para a Empiricus Research se torna uma oportunidade ainda maior de compra.
A casa, inclusive, adicionou recentemente B3SA3 ao portfólio recomendado na série Double Income, focada em ativos de renda, por enxergar na ação uma sólida geração de fluxo de caixa e um dividend yield interessante, acima de 6%.
Além disso, Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, recorda que, nos últimos meses, a situação no Brasil experimentou uma mudança significativa, especialmente no âmbito dos investimentos, com um aumento notável no apetite por risco por parte dos investidores, favorecendo a companhia.
“Nesse contexto, as ações, que representam a classe de ativos mais relevante para a B3, se destacam como uma escolha evidente para esses investimentos”, afirma Spiess.
42% dos ganhos da B3 vêm de renda variável
“Embora seja verdade que a B3 tenha diversificado sua atuação por meio da criação de várias verticais, expandindo seu escopo para além das operações com ações, isso conferiu uma dose de resiliência aos seus resultados”, comenta Spiess.
Entretanto, ele lembra que a negociação de ações ainda é motor primordial de sua receita: cerca de 42% dos ganhos são originados da movimentação de instrumentos de renda variável, considerando apenas o segmento de bolsa organizada. “Por isso, o apetite pelo mercado de ações assume um papel crucial na retomada do crescimento da empresa“, afirma.
Políticas econômicas podem beneficiar o case
O analista ressalta que, no âmbito interno, diversos fatores têm desempenhado um papel no aumento gradual dessa disposição para o risco. “Em primeiro lugar, a definição, ainda que gradualmente, das políticas econômicas contribui para restaurar uma dose de clareza para os investidores – uma consideração extremamente relevante para que um mercado conquiste a confiança do investimento”.
Além disso, as surpresas positivas em relação à inflação sinalizam condições mais favoráveis para mais uma possível redução da taxa Selic já na próxima reunião. “Essa evolução positiva do cenário para a tomada de riscos se reflete na reconfiguração da curva de juros, um movimento que já está em andamento”, diz Spiess.
Para ilustrar o que acontece com o chamado “juro real longo“, vale conferir o gráfico abaixo. O título Tesouro IPCA+ 2035, por exemplo, em março, tinha rendimento de IPCA + 6,5%. Já nesta semana de agosto se encontra em IPCA + 5,3%.
Segundo o especialista, esse deslocamento tem o efeito de reduzir o custo de capital para investir em ações, uma vez que o horizonte de investimento em uma empresa é de longo prazo. Portanto, os investidores tendem a considerar os títulos de longo prazo como ponto de partida para avaliar o atrativo do investimento. “Ou, sob uma outra perspectiva, a competição por capital se suaviza: encontrar ações com rendimento de 5% ao ano em termos reais é mais viável do que buscar aquelas que oferecem 7% anuais”, explica.
Redução do juro longo deve continuar
Olhando adiante, Spiess acredita que a tendência de redução das taxas de juros de longo prazo pode persistir, já que as políticas econômicas devem continuar sendo delineadas, o que, na visão dele, é “preferível à incerteza na perspectiva de um investidor que aporta recursos financeiros”.
Isso, por sua vez, contribui para mitigar o risco do investimento, consequentemente diminuindo mais uma vez o custo do capital. “No caso da B3, essa tendência provavelmente se traduzirá em acréscimos marginais nos volumes negociados, um dos indicadores de maior relevância para o negócio“.
Outros momentos da História mostram a relação entre Selic e volume de negociação de ações
Ao examinar os registros passados de atividade de negociação na B3, diz o analista, torna-se evidente a relação inversa entre a taxa Selic e o volume de negociações de ações.
“Portanto, nossa projeção indica alguma recuperação no volume já durante o segundo semestre deste ano, com um efeito ainda mais marcante no próximo ano, ou seja, em 2024”, conta Spiess, com o “porém” de que pode haver uma possível queda no interesse por ativos de risco a partir de 2026, por se tratar de um novo ciclo eleitoral.
Valuation de B3SA3
“Esse desenvolvimento nos conduz a um crescimento relevante da receita (e lucro) nos próximos anos, algo que aparentemente ainda não foi incorporado plenamente pelo mercado. Ao adotar uma perspectiva relativa, por meio da análise de múltiplos, a ação permanece com um atrativo aparente”, defende.
Ao considerar a estimativa média dos analistas para o lucro de 2024, o índice preço/lucro se situa em 16,3 vezes. “Do nosso ponto de vista, esse múltiplo se reduz para 11,2 vezes. Em ambos os cenários, é possível identificar um potencial de valorização em comparação à média dos últimos cinco anos, que se estabelece em 19 vezes“.
A ação segue barata
Segundo Spiess, apesar da valorização de 8,5% da ação ao longo do ano, B3SA3 ainda se encontra em patamar inferior em comparação a outros atores ligados ao “financial deepening”, como BTG e XP, que apresentam ganhos de 37% e 54%, respectivamente.
O único risco da tese apontado pelo especialista é em relação à possibilidade de a visão macroeconômica da casa de análise não se concretizar, além de eventualmente novas diretrizes da Reforma Tributária eliminarem a remuneração sobre capital próprio e ampliarem a tributação para o setor de serviços, o que também impactaria a empresa.
“Naturalmente, acompanharemos de maneira próxima essas discussões, visto que reconhecemos que os preços atuais das ações já incorporam uma parcela dessas preocupações“, ressalta.
Com um valuation atraente, sólida geração de fluxo de caixa e dividendos atrativos (yields superiores a 6%), a B3 surge como uma alternativa promissora para capturar a melhora do sentimento de mercado em decorrência da expectativa de redução das taxas de juros.
Além de B3SA3, neste relatório gratuito, a Empiricus Research listou 9 ações que não podem ficar de fora do portfólio da pessoa física agora.