Empiricus 24/7

Sempre eles

“Agosto, o mês do cachorro louco, continua nos maltratando […]”.

Por Caio Mesquita

19 ago 2023, 08:00 - atualizado em 21 ago 2023, 08:31

Analisando os dados
Imagem: Freepik

Take me down to the paradise city
Where the grass is green and the girls are pretty
Take me home (oh, won’t you please take me home)
Take me down to the paradise city
Where the grass is green and the girls are pretty
Take me home (oh, won’t you please take me home)
Paradise City – Guns N’ Roses 
McKagan / Slash / Stradlin / Adler /  Rose

Agosto, o mês do cachorro louco, continua nos maltratando.

Escrevo na manhã de sexta, então são sei se a sequência de pregões diários negativos foi quebrada.

Até quinta, porém, acumulávamos trezes dias consecutivos de queda, a mais longa sequência de queda que se tem notícia, pelo menos nos bancos de dados acessados pela nossa equipe de research.

Como de praxe, analistas buscam razões para essa importante correção.  E, como de praxe, há várias explicações e motivos que têm contribuído para tamanho mau humor.

Antes de especularmos sobre as causas da queda, permita-me aqui compartilhar uma pequena memória de infância que me voltou nesses últimos dias.

“Meu filho, os Estados Unidos são um país tão rico que lá todos têm uma piscina em casa.”

Era mais ou menos assim que meu avô materno, Antônio, descrevia a mim, um pequeno de cerca de 5 anos, a afluência do país que assistíamos nas séries de TV.

Para uma criança de classe média da época, a quem uma piscina em casa era a maior expressão do luxo, a imagem de um país onde todos seriam ricos ocupava a imaginação.

Filho de imigrantes dos Açores, em Portugal, meu avô tinha admiração especial pelos Estados Unidos. Como nossa convivência era intensa – éramos vizinhos de muro – naturalmente participava desse sentimento, dada a sua influência.

Todos os tios do meu avô emigraram dos Açores para os Estados Unidos, sendo o meu bisavô o único que veio para o Brasil. Quase equidistante da Europa e da América do Norte, o arquipélago historicamente foi terreno fértil para o desejo do American Dream.

Sem nunca ter saído do Brasil, meu avô entendia os Estados Unidos como aquele dos filmes e das séries de TV. Rico, abundante, próspero. Fazia questão de carros da marca Chevrolet, desprezando os Volkswagens do meu pai, como forma dele vivenciar, em parte, o que via nas telas.

Depois de crescer, por razões diversas, mantive uma relação positiva com os americanos e seu país.

Diferente das fantasias de meu avô, minhas experiências foram concretas, com os Estados Unidos sendo parte integral da minha formação.

Vivi cinco anos em Nova York, primeiro completando meus estudos e depois trabalhando.

Mais velho, já com a Empiricus, tive o privilégio de ser sócio dos americanos da Agora, maior publicadora de newsletters financeiras do mundo, um parceiro fundamental no nosso crescimento e êxito.

Voltando ao momento ruim de mercado, encontramos várias hipóteses para a atual aversão a risco.

No plano doméstico, percebemos crescentes questionamentos à situação fiscal do Governo Federal. 

Os recentes desentendimentos entre Haddad e Lira também contribuíram para o aumento do nervosismo decorrente de incertezas sobre a tramitação e aprovação do Arcabouço Fiscal e da Reforma Tributária.

No plano externo, aumentou a preocupação com a rápida deterioração nos indicadores econômicos da China, especialmente fragilizada com a ameaça de iminente implosão de uma bolha imobiliária.

Por fim, observamos uma crescente preocupação com a persistência da inflação nos Estados Unidos, o que forçaria o FED a seguir apertando a política monetária com o aumento dos juros.

De fato, os juros de longo prazo subiram com força nas últimas semanas, com a taxa dos treasuries de 30 anos chegando a 4,4% a.a., o nível mais alto desde 2011.

Para entendermos o que esperar, faz-se necessário distinguir qual fator tem preponderância no comportamento recente do mercado.

Para tanto, a evolução do câmbio parece nos dar uma pista interessante:

Acima vemos que a desvalorização recente do Real foi absolutamente em linha com as outras moedas de países emergentes que, de maneira geral, perderam valor contra o Dólar.

Percebe-se assim a preponderância do aumento dos juros americanos nas quedas dos ativos de risco em agosto.

A declaração desta semana de André Esteves, chairman do Banco BTG Pactual, grupo ao qual pertencemos, corroborou com essa hipótese:

“Nada do que aconteceu no Brasil, de incerteza política, fez efeito no dólar, mas esse movimento importante da taxa futura nos Estados Unidos”, disse. Segundo ele, esse é um tema técnico americano e não financeiro, onde o déficit está muito alto e o governo está tendo de emitir dívida. Ao mesmo tempo, o Fed, em seu processo de reversão do excesso de títulos do Tesouro em seu balanço, não está encontrando demanda suficiente.

Se estivesse vivo, meu avô Antônio concordaria com a importância dos Estados Unidos, reconhecida nessa declaração de Esteves.

Afinal, ninguém pode competir com um país onde todos têm piscina em casa…

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço,

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus