Investimentos

Mastercard e Visa proíbem transações envolvendo cannabis: ainda vale a pena investir no setor?

Tanto do ponto de visto macro, quanto os resultados das empresas de cannabis deixaram a desejar no 2T23. Veja quantos % ter na carteira e onde investir.

Por Enzo Pacheco, CFA

22 ago 2023, 11:35 - atualizado em 22 ago 2023, 11:35

cannabis safe banking act
Imagem: Freepik

Depois do ajuste da carteira MoneyBets Revolution, da Empiricus Research, passamos a ter uma exposição bem pequena no setor de cannabis — atualmente, sugerimos apenas 1% do portfólio total investido no AdvisorShares Pure US Cannabis ETF (NYSE: MSOS).

Como temos pontuado nos últimos meses, estamos muito distantes da euforia de outrora observada nos investidores do setor.

Mastercard e Visa proíbem transações envolvendo cannabis

E, para piorar, quando parece que poderíamos ter um alívio com a divulgação dos resultados das empresas do segmento (spoiler: infelizmente, não tivemos), vem uma das maiores empresas de meios de pagamentos do mundo e joga mais um balde de água fria na cabeça dos entusiastas da cannabis legalizada.

Isso porque recentemente a Mastercard (B3: MSCD34 | NYSE: MA) anunciou que a empresa proibiu que institiuições financeiras autorizem transações envolvendo cannabis nos seus cartões de débito.

Reprodução/Reuters

De acordo com um porta-voz da companhia, a decisão foi tomada porque a erva ainda é considerada ilegal a nível federal — ainda que diversos estados já tenham legalizado totalmente o consumo nas suas jurisdições.

Alguns especialistas apontam que a mesma decisão possa vir da outra gigante do setor, a Visa (NYSE: V | B3: VISA34), o que dificultaria ainda mais a vida das empresas e consumidores em suas transações, mantendo em muitas vezes apenas a opção de pagamento em dinheiro vivo.

Por um lado, isso até poderia resultar em discussões mais assertivas no que diz respeito à aprovação do SAFE Banking Act, que visa dar um respaldo legal para que as instituições financeiras ofereçam produtos e serviços para as companhias do setor de cannabis.

Mas não parece esse o caso: de acordo com o senador republicano John Cornyn, o plano do líder da maioria no Senado Chuck Schumer (democrata, Nova York) de aprovar tal projeto não passa de “wishful thinking”. Sem a participação de políticos do Partido Republicano, essa lei continuará sendo barrada na Câmara Alta do Congresso americano. Ainda mais com as eleições de 2024 se aproximando…

Empresas do setor deixam a desejar

Não bastasse os problemas do lado macro, agora nem mesmo os números das empresas do setor estão justificando uma nova onda de empolgação dos investidores.

Dentre as companhias que já reportaram os seus resultados dos últimos trimestre, apenas duas conseguiram apresentar crescimento nas vendas (mas muito longe dos percentuais observados no passado recente). Além disso, todas viram sua geração de caixa, medida pelo Ebitda ajustado, retraírem na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.

Tabela 1. Receita líquida e EBITDA ajustado do último trimestre de algumas empresas do setor de cannabis | Fontes: Curaleaf, Green Thumb Industries, Trulieve, Verano Holdings, Canopy Growth e Cronos Group

Um ponto em comum citado pelos executivos dessas empresas para que a receita tivesse essa performance bem abaixo do período pós-pandemia foi a compressão nos preços dos produtos, diante de um mercado cada vez mais competitivo, que mais que compensou o crescimento visto em alguns estados.

Além disso, ainda foi possível verificar que a reestruturação das operações segue sendo um tema importante para algumas dessas companhias.

A Trulieve (OTC: TCNNF | CSE: TRUL), por exemplo, finalizou o processo de saída do estado da Califórnia e deu início ao ajuste de suas atividades em Massachusetts como parte do plano para preservação de caixa. Já a Curaleaf (OTC: CURLF | CSE: CURA) vendeu ativos nos estados do Colorado e Oregon, buscando focar suas atenções nas regiões que considera mais atrativas.

Outro ponto importante que também impactou o setor recentemente foi o cancelamento da fusão entre a Cresco Labs (OTC: CRLBF | CSE: CL) e a Columbia Care (OTC: CCHWF | NEO: CCHW), avaliada em mais de US$ 2 bilhões e que havia sido anunciada no ano passado.

Esse desinteresse por parte dos investidores tem feito, inclusive, com que alguns produtos de investimentos no segmento encerrem o seu ciclo de vida.

Essa semana o AdvisorShares Poseidon Dynamic Cannabis ETF (NYSE: PSDN) anunciou o fechamento do fundo, que encerrará suas negociações no dia 25 deste mês.

Reprodução/CNBC

O fundo, lançado em novembro de 2021, apresenta desvalorização de mais de 70% desde o seu início. De acordo com os fundadores Emily e Morgan Paxhia, o ETF não ficou imune ao sentimento macro e, mais especificamente, a mudança drástica no sentimento dos investidores acerca do tema.

Importante notar que a gestora responsável pelo fundo, a Poseidon Investment Management, não é uma novata no assunto: fundada em 2013, ele foi um dos primeiros hedge funds focadas no setor de cannabis. 

Enquanto o humor não mudar significativamente, infelizmente não conseguimos enxergar um potencial de valorização interessante nas ações do setor. Seguimos mantendo nossa sugestão de, aqueles que ainda querem se expor ao segmento, ter no máximo 1% do seu capital investido no AdvisorShares US Pure Cannabis ETF (NYSE: MSOS).

Por outro lado, enxergamos muito mais potencial em outras 5 ações internacionais de setores mais estruturados. Confira a lista gratuita de BDRs aqui.

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Administrador pela Universidade Federal do Espírito Santo com pós-graduação em Operador de Mercado Financeiro pela FIA, Enzo Pacheco atua desde 2017 com análise de investimentos nos mercados internacionais. Hoje, é responsável pela série MoneyBets, voltada para os investidores brasileiros que querem expandir as fronteiras dos seus portfólios. Possui certificações CFA e CNPI.