Investimentos

BRICS admite mais seis países membros e big techs lideram ganhos em Wall Street; confira

Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos passam a fazer parte do bloco de países emergentes – que passam a representar 36% do PIB global e 46% da população mundial.

Por Matheus Spiess

24 ago 2023, 08:44 - atualizado em 24 ago 2023, 08:44

Imagem representando os países emergentes, mostrando bandeiras do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, os mercados asiáticos apresentaram divergências nesta quarta-feira, com as ações da China continental e da Coreia do Sul registrando quedas, enquanto outras regiões experimentaram ganhos. A incorporadora imobiliária chinesa Country Garden continuou a sofrer desvalorização, tornando-se um ícone da crise no setor imobiliário do país. Esse panorama misto seguiu-se a um dia positivo em Wall Street, que teve seu melhor desempenho desde junho, com as pressões sobre o mercado de títulos aliviando ligeiramente.

Na Europa, os mercados e os futuros dos Estados Unidos estão em ascensão nesta manhã. As ações do setor de tecnologia lideram os ganhos após a grande fabricante de chips Nvidia anunciar resultados trimestrais mais robustos do que o previsto. No entanto, preocupações relacionadas à China e às taxas de juros elevadas ainda estão contendo o avanço de ganhos mais amplos. Quanto à programação, estão previstos alguns dados econômicos da Zona do Euro, além do início do Simpósio de Jackson Hole — vale destacar que a declaração de Powell está programada para amanhã.

A ver…

· 00:40 — A agenda começa a caminhar, para o bem e para o mal

No Brasil, teremos impacto da alta nos mercados internacionais e nos preços das commodities. Além disso, seguimos refletindo positivamente a aprovação do arcabouço fiscal, que finalmente desbloqueou a agenda econômica, paralisada desde o retorno do recesso legislativo. Com a aprovação da medida, a pauta econômica voltou a progredir. Ontem, o Congresso se movimentou novamente, aprovando o reajuste do salário-mínimo para R$1.320 neste ano, bem como uma nova política de valorização anual que inclui a correção da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF).

A tributação de investimentos de pessoas físicas por meio de empresas controladas no exterior (offshore) foi retirada do texto por meio de um destaque aprovado após negociação entre o governo e o Congresso. O presidente da Câmara, Arthur Lira, expressou otimismo em relação à aprovação do projeto, desde que o governo cumpra o acordo de remover a parte que considera a variação cambial como rendimento sujeito a tributação. Ademais, a possibilidade de tributação de fundos exclusivos também está em discussão, podendo gerar uma arrecadação em torno de R$ 3 bilhões.

No entanto, como já é conhecido, para além das medidas fiscais, o foco no segundo semestre está na efetivação do orçamento. O desafio reside em implementar o arcabouço de forma eficaz para obter um resultado minimamente aceitável. A nova regra fiscal permanece sensível às receitas, com o governo tendo enfrentado dificuldades para aprovar novas medidas de arrecadação, sendo que as medidas já implementadas não têm atingido o desempenho esperado.

· 01:29 — As techs estão voando novamente

Nos Estados Unidos, a Nvidia anunciou que a crescente demanda por seus processadores de inteligência artificial resultará em um aumento da receita muito mais rápido do que o previsto. Isso levou as ações a subirem mais de 8% no after-hours, apontando para outro dia positivo nos ativos americanos. As ações já estavam em alta antes dos resultados, e essa tendência provavelmente será ampliada hoje. Para o trimestre em curso, a Nvidia projetou uma receita com ponto médio de US$ 16 bilhões, superando a estimativa média dos analistas de US$ 12,6 bilhões. É evidente que uma nova era da computação está sendo inaugurada.

Além da assimilação desses resultados, os investidores estão focados no início do Simpósio de Jackson Hole. Dezenas de banqueiros centrais, formuladores de políticas, acadêmicos e economistas estarão em Wyoming esta semana para o encontro anual sobre política econômica do Federal Reserve Bank de Kansas City. O presidente do Fed, Jerome Powell, fará um discurso na manhã de sexta-feira. Até lá, será interessante colher visões sobre a atividade econômica nos Estados Unidos e a orientação da política monetária, especialmente após o recente aumento nos rendimentos dos títulos do governo dos EUA.

· 02:25 — BRICS em expansão

Durante a reunião anual das principais potências dos mercados emergentes, que inclui a Rússia, a África do Sul e o Brasil, o presidente Xi Jinping apresentou uma proposta para expandir o bloco, buscando desafiar o G-7 e contestar a ordem mundial dominada pelos Estados Unidos. A Índia inicialmente expressou preocupações sobre o grupo se tornar um porta-voz da China, porém o líder Narendra Modi posteriormente manifestou apoio à expansão.

Líderes e chefes de Estado do Sul Global, muitos dos quais têm criticado por anos a ordem internacional liderada pelo Ocidente por marginalização, reuniram-se na capital comercial da África do Sul, Joanesburgo, para a 15ª cúpula anual dos líderes da aliança BRICS. Mais de 20 nações do Sul Global formalmente solicitaram adesão ao grupo, com várias outras demonstrando interesse (o bloco não admitiu novos membros desde a inclusão da África do Sul em 2010).

Consequentemente, foi aprovada a inclusão de seis novos países como membros permanentes a partir de janeiro do próximo ano: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Em troca do apoio à entrada desses novos membros, Brasil e Índia terão o respaldo da China e da Rússia para obter cadeiras permanentes no Conselho de Segurança da ONU. Esse desenvolvimento geopolítico é significativo. Com essa expansão, os países do BRICS representarão 36% do PIB global e 46% da população mundial, podendo contribuir com cerca de metade da produção global até 2040.

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· 03:21 — Resíduos na água

Hoje, o Japão deu início a um processo que se estenderá por décadas: o lançamento controlado de águas residuais tratadas da usina nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico. As autoridades japonesas argumentam que essa medida é crucial para o processo de desmantelamento da usina, que foi devastada pelo terremoto e tsunami de 2011, resultando em um desastre nuclear.

Durante os últimos 12 anos, centenas de tanques subterrâneos foram usados para armazenar cerca de 1,34 milhões de toneladas métricas de água contaminada proveniente da usina nuclear. A liberação gradual dessa água no oceano é considerada a opção mais viável para lidar com essa questão complexa.

O tema tem gerado uma grande controvérsia na região. Em julho, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão de supervisão nuclear das Nações Unidas, aprovou o plano do governo japonês para o descarte da água no oceano. No entanto, países vizinhos, ativistas ambientais e a indústria de frutos do mar têm pedido ao Japão que encontre alternativas.

No contexto japonês, onde as exportações de frutos do mar atingiram US$ 2 bilhões em 2022, os trabalhadores do setor pesqueiro estão preocupados com o impacto que essa medida pode ter em sua reputação e em suas fontes de subsistência. A previsão é de que o processo de descarte de toda a água leve entre 30 a 40 anos para ser concluído.

· 04:15 — Bloqueando o canal

Mais de 200 embarcações de carga encontram-se atualmente retidas no Canal do Panamá, uma das principais vias navegáveis que conectam os oceanos Atlântico e Pacífico. Alguns desses navios estão esperando por semanas para cruzar a via. Cerca de 3% do comércio global e 29% do comércio do Pacífico transitam por essa rota vital. O congestionamento teve início no mês passado, quando a autoridade responsável pelo canal impôs restrições ao número de navios permitidos a atravessar diariamente e à quantidade de carga que poderiam transportar. Essas medidas foram tomadas como uma forma de preservar o abastecimento de água.

Uma prolongada seca levou a uma redução significativa do suprimento de água doce necessária para o funcionamento do sistema de eclusas que movimenta as embarcações ao longo do canal. A Autoridade do Canal do Panamá destacou que essa seca é algo sem precedentes na história da região, especialmente considerando que este é o período tradicionalmente chuvoso. Para os proprietários das embarcações, existem opções como aliviar parte da carga ou buscar rotas alternativas, mas ambas as alternativas acrescentam milhares de quilômetros às viagens. Essa situação lembra o incidente envolvendo o navio Ever Given no Canal de Suez em 2021. Com a chegada do fenômeno El Niño, a situação pode se agravar ainda mais.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.