No quadro “compra ou vende” do último Podca$t (confira no vídeo acima), os analistas avaliaram quatro empresas: Eletrobras (ELET3, ELET6), Minerva (BEEF3), Marfrig (MRFG3) e Natura (NTCO3).
Vale destacar que, no quadro, os especialistas recebem os nomes de ativos sugeridos pelo público e só tem duas opções: comprar ou vender.
Confira a análise de cada um deles:
Eletrobras (ELET6): comprar, apesar dos riscos
Desde que foi anunciada a privatização da Eletrobras em 2022, os investidores ficaram na expectativa pela melhora dos resultados operacionais da companhia. Mais de um ano depois, é hora de comprar a ação?
Para os analistas da Empiricus Research, sim, apesar dos riscos que envolvem o case.
Um desses percalços é o preço da energia, que, na visão do analista Ruy Hungria, está perto do “pior cenário possível”.
Segundo ele, dois problemas estruturais pesaram para isso: os reservatórios cheios e o grande incentivo pela energia renovável. Mas, até por estar em um cenário muito desfavorável, ele acredita que a tendência é um avanço dos preços nos próximos anos.
“Vejo a Eletrobras negociando baseada nesse preço muito baixo de energia, que na minha visão tem muito upside e assimetria. A gente deve caminhar para preços mais equilibrados de energia que tragam rentabilidade para as empresas do setor”, avalia.
Além do preço da energia, outro ponto que pesa sobre a Eletrobras é a melhora operacional da companhia, que tem sido mais devagar que o esperado pelo mercado.
Embora seja possível ver um avanço a cada resultado trimestral, o ritmo não tem agradado parte dos investidores.
E, o terceiro e maior temor do mercado com relação à Eletrobras, tem relação com a interferência política.
O presidente Lula (PT), desde o início do mandato, já declarou diversas vezes a posição contrária à privatização e o desejo de maior poder do governo dentro da companhia.
Em meados de agosto, a renúncia do ex-CEO da companhia, Wilson Ferreira Jr., reacendeu o medo do mercado com relação à interferência do governo na Eletrobras.
Troca no comando da Eletrobras pode acelerar turnaround
No entanto, para o analista este não é o caso. Há rumores de que a saída de Ferreira Jr. tem relação com a falta de entendimento com o Conselho de Administração da companhia, que cobrava justamente uma maior celeridade no turnaround.
“A gente tem que lembrar que o conselho mudou, não é mais aquele de quando era uma empresa estatal e o Wilson tinha plenos poderes. Hoje tem um Conselho com acionistas de referência que querem ver evolução todos os dias”.
Com a chegada do novo CEO, Ivan Monteiro, que, assim como Wilson, tem experiência no comando de grandes empresas, a relação com o Conselho pode ser melhor e o processo de turnaround acelerar.
“Na época da privatização, fizemos contas que indicavam necessidade de redução de 40% a 45% nas despesas gerenciáveis. A Eletrobras pagava salários absurdos e tinha um número alto de cargos de gerência, completamente fora da curva. Ao longo dos anos, o corte de gastos deve gerar bons dividendos”, acredita Ruy.
Por isso, para o analista, embora o risco político tenha que ser acompanhado de perto, a ação da Eletrobras está barata e tem alto upside, além do potencial de pagar proventos cada vez maiores.
No mesmo contexto, a analista Larissa Quaresma também vê dividendos promissores para a companhia, além de uma eficiência operacional maior ao longo do tempo por conta da privatização.
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Minerva (BEEF3) e Marfrig (MRFG3): vender
Os analistas também se debruçaram sobre o setor frigorífico, mais especificamente Minerva e Marfrig.
Na visão de Larissa Quaresma, as empresas atuam em um setor difícil de se operar. “Tem commodities na compra e na venda. O insumo, que é a cabeça de gado, é uma commodity que depende de vários fatores e de quanto as empresas conseguem exportar”.
O analista Ruy Hungria vai na mesma linha. “Existem negócios que você consegue analisar ou ter uma boa noção sem ficar em cima todos os dias. Mas esse é o tipo de negócio que mesmo vendo os preços todos os dias, sempre vai estar dois ou três passos atrás de quem está negociando. É muito difícil ter vantagem competitiva e ganhar dinheiro em um negócio em que você sai dois passos atrás”.
Para exemplificar a dificuldade de operar no setor, o analista apresentou o desempenho das ações nos últimos 10 anos.
Desde o dia 9 de setembro de 2013 até o fechamento do último pregão, no dia 8 de setembro de 2023, as ações da Minerva (BEEF3) caíram cerca de 20%.
No mesmo período, as ações da Marfrig (MRFG3) apresentaram alta de aproximadamente 11%.
Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, subiu cerca de 115% na mesma janela de tempo.
“Não é o tipo de risco de setor que eu gosto de assumir, sabendo que no Ibovespa consigo ter retornos melhores. O setor de frigoríficos é muito cíclico e muito rápido. São janelas que tem que aproveitar rapidamente, mas não é o tipo de investimento que traz riqueza no longo prazo”, avalia Ruy.
Dentre as duas companhias, o analista vê a Minerva melhor gerida, embora reitere a preferência de ficar fora do setor em uma perspectiva de longo prazo.
Natura (NTCO3): vender
No início de 2023, a Natura contava com quatro marcas em seu portfólio: Aesop, Natura, The Body Shop e Avon.
Em abril, a companhia anunciou a venda da Aesop, até então a marca mais rentável do grupo.
Mais recentemente, a Natura movimentou novamente o mercado com a possibilidade de venda da The Body Shop, marca adquirida em 2017 junto à L’Oréal e que representava o terceiro melhor desempenho do grupo.
A companhia, portanto, pode terminar o ano com duas marcas no portfólio – Natura e Avon. Esta última não passa por uma situação favorável, o que, segundo a analista Larissa Quaresma, pesa na hora de comprar as ações da companhia.
“Enquanto eu não tiver fé na revitalização da Avon, fica difícil comprar Natura. Avon agora vira mais da metade da empresa em termos de receita. Daqui pra frente, a performance do negócio depende mais da Avon que da Natura, e a Avon não está bem. Por hora, vendo Natura”.
Sobre a venda da The Body Shop, a analista lembra que a companhia nunca conseguiu revitalizar a marca. “É uma aquisição que está há cinco anos em turnaround. Não é que dá prejuízo e consome caixa, mas você só vê os números se deteriorando ao longo dos anos”.
Por outro lado, a Aesop era “a joia da coroa”, na visão do analista Ruy Hungria. “A Aesop era o melhor ativo. Todo o resto está numa reestruturação e a gente que está no mercado há um tempo sabe como esse tipo de processo é difícil. Por isso, eu vendo”
O analista Caio Araújo lembra que a companhia negociava a um múltiplo muito caro antes da aquisição da Avon e, hoje, a 9x Ebitda para o ano que vem, está mais descontada. “Só que é outra empresa”, pondera.
“A Natura mudou depois da aquisição da Avon. Quando comprou a Avon, tinha diversas promessas, questão de sinergia, de trabalhar a marca e isso não foi efetivo. Com isso, a empresa foi reprecificada”.
Na mesma linha, o CIO da Empiricus Gestão, Kiki Knudsen, vê o turnaround da companhia acontecendo, “mas não será o suficiente para ficar atrativo nesse nível de preço. Não vai ser uma história tão bonita como foi no passado”, avalia.