Investimentos

AMZO34: vale a pena comprar as ações da Amazon?

Entenda a tese por trás da Amazon (AMZO34), a terceira maior empresa da Bolsa norte-americana

Por Matheus Egydio

04 fev 2021, 08:10

As ações da Amazon (AMZO34) são indicadas nas séries Carteira Empiricus, de Felipe Miranda e João Piccioni; MoneyRider e As Melhores Ações do Mundo, ambas do João.

Neste artigo, vamos explicar tudo que você precisa saber sobre a empresa e o racional que justifica a compra dos seus papéis. O conteúdo foi dividido da seguinte forma:

Você conhece a história da Amazon?

Lá em 1994, Jeff Bezos decidiu largar o seu emprego em Wall Street e se mudar, com a esposa, para Seattle, Washington. O motivo era bem simples: vender livros numa tal de internet.

Mapa dos EUA

Bezos literalmente atravessou o país para empreender

O projeto parecia loucura, principalmente porque a internet não era tão conhecida como hoje. Mas Bezos era obstinado e levou essa iniciativa — com uma pitada de “marcha para o oeste” do século XIX — como uma missão de vida.

Tudo começou com o nome Cadabra, que rapidamente foi alterado para Amazon.com quando um advogado confundiu com cadaver, ou seja, cadáver em inglês.

Nesse ínterim, Bezos ainda cogitou que a nova identidade fosse Relentless, que, em tradução livre, significa implacável. Seu círculo de amizades rechaçou a ideia e o empreendedor cedeu, mas parcialmente: digite relentless.com e veja onde vai parar.

As operações da empresa, enfim, começam na própria garagem de Bezos, em 1995. A mentalidade era resumida na filosofia Day One — que inspirou a principal newsletter da Empiricus. Para resumir, todo dia é o dia 1, ou seja, a energia e criatividade em prol do cliente deve estar presente o tempo todo.

Jeff Bezos no primeiro escritório da Amazon

A “mesa porta” se tornou um símbolo de frugalidade com tudo que não envolve os clientes

O plano improvável — para os outros — de Bezos, com essa mentalidade de Day One, deu certo e, no mesmo ano, já faturou US$ 500 mil. Com o tempo, ele percebeu que dava para vender quase qualquer coisa na internet e, como bem sabemos, ele aproveitou essa oportunidade com força total.

Em 1997, a empresa passa a ser listada na Nasdaq e cada ação valia menos de US$ 2.

Desde então, muita coisa mudou e a empresa de garagem “tornou-se uma gigante do varejo digital, com um valor de mercado na casa do US$ 1,6 trilhão”, aponta Piccioni.

Cotação das ações da Amazon

As ações da Amazon (Nasdaq: AMZN) se valorizam mais de 190.000%

O gráfico acima deixa claro que a trajetória da Amazon rumo ao topo foi impressionante e os seus investidores não ficaram para trás. Se um pai ou mãe escolhesse investir R$ 1.000 em AMZN, lá em 1997, para vendê-la quando seu filho se tornasse adulto, teria quase R$ 2 milhões na conta.

A questão que surge é: como a Amazon cresceu tanto?

Como a Amazon (AMZO34) faz dinheiro

Como dito, Bezos percebeu como o comércio eletrônico era amplo e podia abraçar… bem, quase qualquer coisa. E ele decidiu que a Amazon aplicaria essa noção na prática, fugindo da ideia de ser uma empresa nichada, ou seja, ela venderia tudo que conseguisse.

Logotipo da Amazon

O logotipo indica a completude das prateleiras da empresa, indo de A até Z

Ainda assim, podemos fazer certas divisões nas linhas de negócio da empresa e, nesta seção, nos dedicaremos a detalhar quais são e a representatividade delas no faturamento da Amazon (AMZO34).

Mas antes de nos aprofundarmos nos detalhes, vamos entender o quadro geral: a Amazon apresentou um crescimento de 37,6% na receita total em 2020, alcançando a marca de US$ 380 bilhões.

E se olharmos apenas para o 4T20, vemos que ela ultrapassou a marca de US$ 100 bilhões em vendas, com uma receita de US$ 125,6 bilhões (43,7% maior na comparação anual, ou seja, 4T19).

Agora, vamos aos bastidores da operação de AMZO34.

A primeira e mais conhecida linha de negócio da Amazon é o varejo digital, que contempla a venda dos mais variados produtos, de brinquedos e roupas a computadores e livros digitais. Essa frente, impulsionada pela pandemia, foi responsável por 88% da receita da empresa no 4T20, sendo 61% na América do Norte e 27% Internacional.

Esteira de produtos da Amazon

No 4T20, o e-commerce faturou +40,6% na comparação anual

Partindo para a segunda linha de negócios da big tech, temos os seus serviços. Aqui, entram o Amazon Prime, o Amazon Prime Video e o Amazon Web Services.

Quando falamos de Amazon Prime, estamos nos referindo a um “programa de fidelidade que inclui entregas de qualquer produto em até um dia na América do Norte”, descreve Piccioni.

Caminhão da Amazon Prime

Alta velocidade são as palavras-chave no Amazon Prime

Já o Amazon Prime Video é a iniciativa de streaming da empresa, que chega para competir nesse mercado cada vez mais importante. Vale destacar que aqui, no Brasil, o Amazon Prime “é acoplado com o serviço de streaming da companhia, o Amazon Prime Video”, explica Piccioni.

Serviços de Streaming: Netflix; Disney+; Prime Video; e Apple TV+

O Amazon Prime Video chega para tentar abocanhar o market share das gigantes de streaming

Por fim, o Amazon Web Services (ou AWS, para os íntimos), que se tornou a plataforma de nuvem mais adotada e abrangente do mundo. Através dessa ferramenta, a Amazon (AMZO34) “auxilia empresas através de mais de 50 serviços, que vão desde servidores na nuvem, análise de dados, aplicações voltadas ao blockchain e machine learning, entre outros”, diz Piccioni.

Ainda que o AWS represente “apenas” 12% na receita da Amazon no 4T20, ele foi a grande responsável pelo forte lucro operacional da companhia: dos US$ 6,9 bilhões no período, US$ 3,6 bilhões (cerca de 52%) veio do Amazon Web Services.

Além disso, foi “o desenvolvimento e a aplicação dessa ferramenta [que] reforçou a posição da Amazon de líder inconteste do segmento de comércio eletrônico nos EUA, com participação de mercado superior a 37%”, aponta Piccioni.

Logotipo da Amazon Web Services

No 4T20, o segmento de serviços faturou +47,7% na comparação anual

As estratégias para crescer ainda mais

Fundamentada nessas frentes de atuação, a Amazon (AMZO34) cresceu, nos últimos dez anos, cerca de 27% ao ano. Trata-se de uma expansão agressiva, considerando que ela já possui um porte global.

E, ainda com a mentalidade de Day One, a empresa já conta com estratégias para manter esse ritmo acelerado.

A primeira delas consiste no Amazon Prime, que era focado exclusivamente nos produtos vendidos pela própria Amazon. Agora, esse tipo de logística está disponível para os vendedores dentro do marketplace também, ou seja, todos os sellers poderão fazer entregas dentro de 24 horas. Dessa forma, a atratividade da Amazon, enquanto canal de vendas, aumenta muito com essa medida.

E o Amazon Web Services não fica para trás, surfando numa tendência de digitalização generalizada. Para atender essa demanda com mais qualidade, a Amazon investe em três iniciativas:

  1. Plataformas especializadas, como softwares de programação para os novos MacBooks da Apple;

  2. Chips próprios da AWS, com tempo de resposta muito melhor — “para quem usa serviços de nuvem, isso significa mais dinheiro”, detalha Piccioni; e

  3. Integração com novas frentes, como os futuros veículos autônomos da GM e empresas de medicina, para expandir a telemedicina e coisas afins.

Há, também, a indústria de publicidade digital ou advertising, um mercado com players fortes como Google e Facebook, com 30% e 20% de market share, respectivamente. A Amazon (AMZO34), ainda que novata nessa frente, já consegue competir com eles e se classifica como a terceira maior no ramo, abocanhando 14% do mercado.

Essa presença já gerou uma receita de US$ 18 bilhões para a Amazon nos últimos doze meses, mas há fortes indícios de que esse número ainda pode crescer muito.

Isso porque há uma sinergia especial entre o marketplace da Amazon e o segmento de advertising, uma vez que “faz mais sentido para os vendedores anunciarem seus produtos na plataforma em que eles vendem do que pagar pelos altíssimos preços do Google e do Facebook”, explica Piccioni.

Amazon além de Jeff Bezos: o que esperar da saída do CEO

Em fevereiro de 2021, o mercado foi pego de surpresa ao saber que Jeff Bezos vai deixar o cargo de CEO da companhia, sendo sucedido por Andy Jassy.

Não conhece ele? Vem que a gente te apresenta o cara.

Andy se juntou à companhia em 1997 e liderou a AWS para o sucesso desde sua criação, lá em 2003. Estamos falando do braço direito do segundo homem mais rico do mundo.

Mas o mercado não se atentou muito para isso, fazendo com que o evento causasse, brevemente, a desvalorização do papel no after-market.

No entanto, Felipe Miranda, CIO da Empiricus, tranquiliza: “ao menos no mundo das big techs, a história mostra que as transições dos fundadores nem sempre são negativas para as empresas”. Além disso, Bezos não vai abandonar a sua empresa por completo, continuando como presidente do Conselho de Administração da companhia.

Jeff Bezos sorrindo

O potencial da empresa é escalável e as estratégias estão claras. No mais, se as coisas desandarem, o fundador não estará muito longe.

Para o investidor, esse ponto não deve ser tido como uma preocupação.

AMZO34 está cara?

O BDR da Amazon (AMZO34) pode parecer, para alguns investidores, caro. As ações da companhia são negociadas por um múltiplo Preço/Lucro projetado de 73 vezes — quanto maior for esse número, mais caro.

E, para sermos justos, essa métrica, assim como outras tradicionais do value investing, dificilmente servem para justificar o investimento em AMZO34.

Mas Piccioni esclarece que o que devemos considerar, segundo o próprio Bezos, é que “o momento da empresa é único e continuará a surpreender a todos com sua elevada capacidade de inovar”.

As estratégias envolvidas, já explicamos.

Além disso, vale destacar que “o brilhantismo de Jeff Bezos fez com que a Amazon redesenhasse o varejo americano, dificultando a entrada de novos players e tornando a vida dos seus competidores mais complicada”, conclui Piccioni.

Quando você considera tudo que a empresa se propõe a desenvolver no futuro de curto e médio prazo, vê que a Amazon ainda vai crescer muito e, consequentemente, recompensar os investidores que viraram sócios da empresa.

Conclusão

O passado da empresa e de suas ações precedem a Amazon. Além disso, os planos para o futuro são grandes e nada utópicos.

Para Piccioni mesmo, “a Amazon vale muito mais do que os US$ 1,6 trilhão atuais” quando entendemos a dimensão da avenida de crescimento disponível.

Assim, com espaço para a empresa continuar crescendo no varejo americano e o fortalecimento de suas demais estratégias, defendemos que AMZO34 é um ativo que você precisa ter no seu portfólio. Portanto, compre AMZO34 e vire sócio do segundo homem mais rico do mundo.

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.