Investimentos

Fed e Copom iniciam reuniões de política monetária nesta terça (19) e preço do petróleo se aproxima dos US$ 100 por barril; confira

Em paralelo, na China, famílias reduzem gastos, produção industrial diminui e o desemprego entre jovens só cresce.

Por Matheus Spiess

19 set 2023, 08:44 - atualizado em 19 set 2023, 09:01

Bom dia, pessoal. Internacionalmente, começa a reunião de política monetária do Fed, deixando os investidores em estado de cautela. É amplamente esperado que o Fed mantenha as taxas de juros inalteradas; porém, o mercado estará atento à declaração anexa e às projeções do banco central em busca de pistas sobre as perspectivas para as taxas (a expectativa para a reunião de novembro ainda permanece incerta). Os mercados asiáticos encerraram o dia em queda, refletindo essa cautela global e antecedendo as decisões de juros da China hoje à noite e do Japão na sexta-feira (15).

Enquanto isso, os mercados europeus estão em alta nesta manhã, acompanhados pelos futuros americanos. Contudo, os movimentos são discretos, pois os investidores parecem hesitantes em fazer mudanças significativas antes do anúncio da política monetária do Fed dos EUA na quarta-feira. Nesse contexto, o preço do petróleo continua a subir, aproximando-se da marca dos US$ 100 por barril, ao passo que os preços do minério de ferro corrigem para um pouco abaixo de US$ 120 por tonelada. O Brasil também deverá sentir os efeitos desses desenvolvimentos internacionais, uma vez que os investidores aguardam a decisão do BC por aqui.

A ver…

· 00:43 — Decisão da nova Selic começa hoje

No Brasil, inicia-se hoje a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), com previsão de anunciar amanhã um corte de 50 pontos-base na taxa de juros, fixando a Selic em 12,75%. Paralelamente aos EUA, os investidores aguardam ansiosamente pelo comunicado que acompanhará a decisão, fornecendo pistas sobre os próximos passos. Surge a incerteza se o BC pode aumentar a velocidade do corte para 75 pontos ainda em 2023 (caso ocorra, provavelmente será na última reunião do ano, em dezembro). Não é provável que o BC seja muito explícito em seu comunicado, mantendo as possibilidades em aberto.

Sigo com a visão de que veremos mais cortes de 50 pontos até que tenhamos consistência nos dados, tanto em termos de atividade quanto de inflação abaixo do esperado. Nesse sentido, devemos ficar atentos hoje para a divulgação do IBC-Br de julho, que serve como uma proxy/estimativa do PIB, podendo refletir o impulso positivo do volume de serviços durante o mês. A mediana das projeções indica um aumento de 0,35% na comparação mensal. Um resultado acima das expectativas poderia afetar negativamente a curva de juros do mercado, reduzindo a probabilidade de um ritmo acelerado de flexibilização.

· 01:31 — É dada a largada para a reunião do Fed

Nos Estados Unidos, as ações encerraram praticamente estáveis ontem, antes de uma semana agitada. O Federal Reserve é o foco central das discussões ao longo desta semana. Com praticamente todos prevendo que os decisores do Fed manterão as taxas de juros inalteradas na reunião desta semana do Comitê Federal de Mercado Aberto, parece que a conferência da Fed em setembro está menos relacionada ao presente e mais voltada para o futuro.

A maior parte dos investidores tem estado obcecada com a questão da hipótese de outro aumento de 25 pontos antes do final do ano, conforme sugerido no mais recente Resumo das Projeções Econômicas (SEP) do FOMC. No entanto, isso ignora o ponto real: a trajetória da política do Fed em 2024 e posteriormente. A meta da taxa do Fed está atualmente entre 5,25% e 5,5%. As autoridades indicaram em junho que viam necessidade de outro aumento nas taxas antes do final do ano.

· 02:26 — E o que as projeções nos dizem?

Com a expectativa generalizada de que o Comitê Federal de Mercado Aberto mantenha as taxas inalteradas em sua reunião de quarta-feira, os investidores e economistas estarão atentos às projeções econômicas do Fed. Além disso, estarão de olho em quaisquer indicações sobre o provável caminho nas próximas reuniões do Fed, especialmente na última do ano, de 12 a 13 de dezembro. A maioria dos membros do banco central estadunidense tem ecoado a mensagem de seu presidente, Jerome Powell, sobre juros mais altos por um período prolongado, mas as projeções econômicas (“SEP”) fornecerão insights sobre a altura e a duração desse aumento.

É importante salientar que as projeções não representam decisões sobre a trajetória da taxa, mas sim refletem as expectativas individuais dos membros da Fed sobre a evolução da economia e da política. No SEP de junho de 2023, por exemplo, a projeção mediana da taxa dos fundos federais era de 5,5% para o final de 2023 e de 4,6% para o final de 2024, enquanto a taxa está atualmente entre 5,25% e 5,50%. No gráfico de pontos do Fed, em 2024, provavelmente veremos menos cortes nas taxas, o que já está sendo parcialmente precificado pelo mercado, embora não pareça ter sido totalmente absorvido nas expectativas dos investidores em relação às futuras taxas de juros.

No geral, a economia manteve uma notável resiliência. Um cenário de “hard landing” parece estar fora de cogitação no momento, mas prever a longo prazo pode ser desafiador, especialmente se o Fed demorar a reagir às condições econômicas (lembrando o infame apelo “transitório” de 2022). Como resultado, o gráfico de pontos do banco central para o próximo ano poderá ser mais cauteloso, uma vez que continua a monitorar a inflação e resistir a sinalizar qualquer coisa que possa levar os mercados financeiros a antecipar-se ao Fed em relação aos cortes das taxas. Todas essas informações estarão disponíveis amanhã.

· 03:46 — Chegando aos US$ 100

Com o preço de referência do petróleo Brent rondando os 95 dólares por barril, os investidores estão cada vez mais focados em quando os preços do petróleo poderão voltar a ultrapassar a marca dos US$ 100. Certamente, estamos avançando nessa direção, dado que a economia subjacente tem a capacidade de suportar esse aumento de preços. Enquanto isso, os prêmios sobre os barris físicos estão aumentando globalmente, à medida que as refinarias lutam para produzir diesel suficiente antes de um aumento sazonal na demanda.

Os cortes na produção estão se acumulando, ao passo que o mercado está cada vez mais atento aos estímulos na China. Apesar das perspectivas incertas para economias de regiões como a Zona do Euro, que teve projeções de PIB para 2023 e 2024 revisadas pela OCDE, que agora prevê uma recessão na Alemanha este ano. As empresas petrolíferas estão se adaptando bem a essa nova realidade, com exemplos como a BP mostrando progresso significativo. Estou prevendo que o preço do barril se manterá em patamares elevados por mais alguns meses, sem uma perspectiva sustentada de queda.

· 04:30 — E como fica o mercado de shadow banking na China?

A segunda maior economia do mundo está enfrentando desafios financeiros crescentes, o que está resultando em sérios problemas para o setor de bancos paralelos, também conhecido como shadow banking. As famílias chinesas estão reduzindo seus gastos, a produção industrial está diminuindo e as empresas estão investindo a um ritmo mais lento do que no ano anterior. O desemprego entre os jovens está aumentando a ponto de Pequim decidir parar de divulgar os dados. Além disso, o mercado imobiliário está enfrentando uma queda acentuada, com os preços das casas em declínio e grandes empreendedores entrando em situação de inadimplência.

Os bancos paralelos, ou empresas fiduciárias, que operam principalmente fora do sistema bancário formal, desempenham um papel financeiro crucial na China. Estas instituições facilitam a transferência de fundos dos investidores para infraestruturas, propriedades e outras áreas da economia. Os bancos apoiados pelo governo chinês historicamente mantêm taxas de juros muito baixas nos depósitos bancários, o que permite que esses trustes, frequentemente oferecendo taxas entre 6% e 8%, atraiam investidores com a perspectiva de retornos mais altos.

Por anos, esses trustes desfrutaram da reputação de serem investimentos seguros, resguardados contra perdas de capital. No entanto, agora, devido aos problemas econômicos na China, alguns trustes foram à falência e outros estão sobrecarregados com o risco de grandes perdas financeiras, colocando bilhões de dólares em jogo em meio a uma economia em dificuldades. O aumento do risco tem levantado preocupações de que uma crise financeira significativa esteja se aproximando.

Um exemplo recente é o caso da Zhongrong, um dos maiores trustes do país que gerenciava cerca de US$ 87 bilhões em fundos para clientes corporativos e indivíduos ricos no final de 2022 e que deixou de fazer pagamentos aos clientes em agosto. Existe o receio de que a queda desses trustes possa potencialmente desencadear um efeito cascata, afetando a economia global. É uma situação complexa que levanta questionamentos sobre como o governo irá apoiar esse setor.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.