Bom dia, pessoal. O dia atual ganha destaque por conta da decisão do Federal Reserve, seguida da tradicional coletiva de imprensa liderada pelo seu presidente, Jerome Powell. A expectativa é de que a taxa de juros não seja elevada hoje, mas os indicadores sobre os próximos passos serão cruciais para compreender a direção que os EUA estão tomando com sua política monetária. Manter os juros no nível atual ainda implica em uma postura contracionista por parte do banco central americano (além disso, a política quantitativa da Fed envolve a retirada de liquidez). Agora, a incerteza reside na seguinte dúvida: por quanto tempo os juros permanecerão elevados?
Na Ásia, a maioria das ações apresentou queda nesta quarta-feira, pois os mercados se mantiveram predominantemente cautelosos antes da decisão de taxa de juros do Fed. Durante a madrugada, o Banco Popular da China (PBoC) manteve as taxas de juros de referência (LPR) para um ano em 3,45% e para cinco anos em 4,2%, conforme o esperado, sem fornecer estímulos adicionais.
Por outro lado, os mercados europeus iniciam o dia em alta, antecedendo a decisão do Banco da Inglaterra prevista para amanhã. Na agenda, os investidores estão absorvendo a inflação global dos preços ao consumidor no Reino Unido e os preços ao produtor na Alemanha. No cenário local, temos também a reunião do Copom para acompanhar.
· 00:43 — E depois dos 50 pontos?
No Brasil, além de acompanharmos os acontecimentos internacionais, temos nossa própria dinâmica a seguir. Após o fechamento do mercado, a atenção recai sobre o Comitê de Política Monetária (Copom), que provavelmente realizará um corte de 50 pontos-base na taxa Selic, levando-a a 12,75%. Considerando os recentes indicadores econômicos, apesar do IPCA de agosto ter ficado abaixo das expectativas, não é esperada uma alteração drástica na comunicação.
Atualmente, a maioria dos investidores locais antecipa cortes consecutivos de 50 pontos-base, com uma probabilidade implícita na curva de cerca de 10% para uma possível aceleração nos cortes (um cenário de atividade econômica mais robusta do que o previsto reduz também essa possibilidade). A autoridade monetária tem justificativas para essa decisão, começando pelo preço do petróleo, que exige cautela na redução da Selic (uma correção nos preços da gasolina pode acelerar a inflação para o consumidor). Por outro lado, a queda nos custos dos alimentos deve compensar essa pressão.
Além disso, o quadro fiscal é um ponto de atenção, pois parece não apresentar muitas perspectivas, já que há descrença em relação ao cumprimento da meta do governo. A Fazenda promete não alterar a meta, pelo menos por enquanto. No entanto, para acalmar o mercado, é necessário apresentar um plano crível para os próximos meses, o que ainda não foi feito.
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· 01:39 — Manter parece ser o caminho, mas e depois?
Nos Estados Unidos, há expectativa de que o Federal Reserve pause os aumentos das taxas de juros nesta quarta-feira, pela segunda vez este ano, em resposta à desaceleração da inflação. A intenção é manter a taxa na faixa de 5,25% a 5,5%, o que representa o maior nível em 22 anos, deixando aberta a possibilidade de outro aumento em novembro. O presidente Jerome Powell provavelmente indicará que outros membros do Fed preferem aguardar para avaliar o impacto dos aumentos anteriores na economia, à medida que se aproximam do término da campanha de elevação das taxas.
Embora a inflação permaneça consideravelmente acima da meta de 2% estabelecida pelo comitê, e a economia dos EUA mantenha sua resiliência, as autoridades poderão incluir mais um aumento em suas projeções trimestrais. Além disso, há desafios no âmbito fiscal dos EUA, com o Congresso tendo menos de duas semanas para acordar um orçamento para o governo federal antes do prazo final de 1º de outubro. Adicionalmente, a greve dos Trabalhadores Automotivos dos EUA está impactando a situação. Independentemente do desfecho, mesmo se houver outro aumento em novembro, o Fed está nos estágios finais de sua campanha de aperto monetário.
· 02:37 — A razão pela qual os juros estão elevados
E o que justifica as taxas de juros tão altas? No epicentro dessa discussão está a inflação nos EUA, que registrou um aumento de 3,7% em agosto em comparação com o ano anterior, marcando uma aceleração pelo segundo mês consecutivo, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor mais recente. Os preços aumentaram 0,6% na comparação mensal, frente ao aumento de 0,2% em julho. Por outro lado, a inflação subjacente nos EUA, que desconsidera a volatilidade nos preços dos alimentos e da energia, continuou a desacelerar.
A última divulgação dos dados de inflação mostrou que ainda há um esforço real a ser feito para trazer a inflação de volta à meta de 2% estabelecida pelo Fed. A inflação no atacado também acelerou pelo segundo mês consecutivo, atingindo 1,6%. Os aumentos de preços chegaram a 0,7% mensalmente, marcando o maior ganho em um mês desde junho de 2022. Isso indica que as pequenas empresas estão enfrentando pressão de preços consistentemente altos.
Assim, embora a inflação esteja muito mais baixa do que no ano passado, permanece significativamente acima da meta de 2% estipulada pelo Fed, conforme reafirmado pelo presidente Jerome Powell no mês passado no simpósio anual do banco central em Jackson Hole, Wyoming. A tarefa mais desafiadora é reduzir a inflação de 3% para 2%. Portanto, é esperado que as taxas de juros permaneçam altas pelo menos até meados do próximo ano, momento em que a economia provavelmente terá desacelerado consideravelmente.
· 3:32 — Os fatores que estão botando medo nos investidores
São diversos os elementos que têm gerado inquietação entre os investidores. Inicialmente, destaca-se a saúde da economia chinesa, que se tornou uma séria fonte de preocupação para os investidores nos Estados Unidos. A deterioração da segunda maior economia do mundo suscita temores de que essa fraqueza possa repercutir nas perspectivas globais. Recentemente, os gastos do consumidor, a produção industrial e os investimentos em ativos fixos na China têm desacelerado ainda mais.
Além disso, as tensões entre os Estados Unidos e a China têm aumentado, à medida que as duas maiores economias do mundo se veem envolvidas em conflitos abrangentes, que abordam desde questões comerciais e tecnológicas até a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Falando nesses conflitos, não podemos ignorá-los. A inflação global está, finalmente, diminuindo, mas o aumento das tensões geopolíticas ameaça elevar os preços dos alimentos e do petróleo em todo o mundo. A invasão da Ucrânia pela Rússia continua a alimentar preocupações com o aumento dos preços das commodities, a instabilidade econômica global e a incerteza relacionada à segurança.
Dois outros pontos de preocupação originam-se no risco de uma desaceleração abrupta da economia americana (uma economia superaquecida, em um cenário de “no landing”, também seria muito prejudicial) e a persistência dos temores de contágio em torno da crise bancária regional nos Estados Unidos. Estes são alguns dos fatores internacionais que têm deixado os investidores globais apreensivos.
· 04:18 — A fala do Sul Global
O discurso proferido ontem pelo presidente Lula na Assembleia Geral da ONU reflete as recentes iniciativas relacionadas ao Sul Global. Destaca-se entre elas a formação dos novos BRICS-11, que representarão uma parcela substancial dos principais recursos globais: i) 42% do abastecimento global de petróleo; ii) 72% dos minerais de terras raras, com três das cinco nações possuindo as maiores reservas; iii) 75% do manganês mundial; iv) 50% do grafite global; e v) 28% do níquel.
É altamente provável que uma abordagem mais coordenada em relação às restrições de exportação para o resto do mundo possa agora evoluir entre os BRICS-11. No domínio da energia, o grupo engloba tanto grandes produtores de petróleo e gás como dois dos maiores importadores, China e Índia. Isso incentiva os membros a estabelecerem mecanismos de comércio de mercadorias independentes do setor financeiro do G-7. Ademais, o grupo possui um dos atores fundamentais para a próxima década na transição energética e no potencial do mercado de carbono: o Brasil.
A expansão dos BRICS é um sintoma da renúncia dos EUA à liderança global em prol do nacionalismo econômico. Enquanto Washington anteriormente promovia acordos de comércio livre, agora foca em restrições às importações e em uma inclinação para adquirir produtos americanos. Contudo, os BRICS-11 enfrentam seus próprios desafios. É improvável, por exemplo, que o dólar seja substituído por pressões do grupo para adotar alternativas. Além disso, existem tensões entre os próprios membros, como as disputas fronteiriças entre Índia e China.
Mesmo assim, o grupo parece ganhar relevância em uma dinâmica global multipolar.