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Super Quarta traz decisão de juros nos EUA e no Brasil; confira também discurso de Lula na ONU sobre BRICS-11

A formação dos novos BRICS-11 representará uma parcela substancial dos principais recursos globais

Por Matheus Spiess

20 set 2023, 08:34 - atualizado em 20 set 2023, 08:38

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Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. O dia atual ganha destaque por conta da decisão do Federal Reserve, seguida da tradicional coletiva de imprensa liderada pelo seu presidente, Jerome Powell. A expectativa é de que a taxa de juros não seja elevada hoje, mas os indicadores sobre os próximos passos serão cruciais para compreender a direção que os EUA estão tomando com sua política monetária. Manter os juros no nível atual ainda implica em uma postura contracionista por parte do banco central americano (além disso, a política quantitativa da Fed envolve a retirada de liquidez). Agora, a incerteza reside na seguinte dúvida: por quanto tempo os juros permanecerão elevados?

Na Ásia, a maioria das ações apresentou queda nesta quarta-feira, pois os mercados se mantiveram predominantemente cautelosos antes da decisão de taxa de juros do Fed. Durante a madrugada, o Banco Popular da China (PBoC) manteve as taxas de juros de referência (LPR) para um ano em 3,45% e para cinco anos em 4,2%, conforme o esperado, sem fornecer estímulos adicionais.

Por outro lado, os mercados europeus iniciam o dia em alta, antecedendo a decisão do Banco da Inglaterra prevista para amanhã. Na agenda, os investidores estão absorvendo a inflação global dos preços ao consumidor no Reino Unido e os preços ao produtor na Alemanha. No cenário local, temos também a reunião do Copom para acompanhar.

· 00:43 — E depois dos 50 pontos?

No Brasil, além de acompanharmos os acontecimentos internacionais, temos nossa própria dinâmica a seguir. Após o fechamento do mercado, a atenção recai sobre o Comitê de Política Monetária (Copom), que provavelmente realizará um corte de 50 pontos-base na taxa Selic, levando-a a 12,75%. Considerando os recentes indicadores econômicos, apesar do IPCA de agosto ter ficado abaixo das expectativas, não é esperada uma alteração drástica na comunicação.

Atualmente, a maioria dos investidores locais antecipa cortes consecutivos de 50 pontos-base, com uma probabilidade implícita na curva de cerca de 10% para uma possível aceleração nos cortes (um cenário de atividade econômica mais robusta do que o previsto reduz também essa possibilidade). A autoridade monetária tem justificativas para essa decisão, começando pelo preço do petróleo, que exige cautela na redução da Selic (uma correção nos preços da gasolina pode acelerar a inflação para o consumidor). Por outro lado, a queda nos custos dos alimentos deve compensar essa pressão.

Além disso, o quadro fiscal é um ponto de atenção, pois parece não apresentar muitas perspectivas, já que há descrença em relação ao cumprimento da meta do governo. A Fazenda promete não alterar a meta, pelo menos por enquanto. No entanto, para acalmar o mercado, é necessário apresentar um plano crível para os próximos meses, o que ainda não foi feito.

· 01:39 — Manter parece ser o caminho, mas e depois?

Nos Estados Unidos, há expectativa de que o Federal Reserve pause os aumentos das taxas de juros nesta quarta-feira, pela segunda vez este ano, em resposta à desaceleração da inflação. A intenção é manter a taxa na faixa de 5,25% a 5,5%, o que representa o maior nível em 22 anos, deixando aberta a possibilidade de outro aumento em novembro. O presidente Jerome Powell provavelmente indicará que outros membros do Fed preferem aguardar para avaliar o impacto dos aumentos anteriores na economia, à medida que se aproximam do término da campanha de elevação das taxas.

Embora a inflação permaneça consideravelmente acima da meta de 2% estabelecida pelo comitê, e a economia dos EUA mantenha sua resiliência, as autoridades poderão incluir mais um aumento em suas projeções trimestrais. Além disso, há desafios no âmbito fiscal dos EUA, com o Congresso tendo menos de duas semanas para acordar um orçamento para o governo federal antes do prazo final de 1º de outubro. Adicionalmente, a greve dos Trabalhadores Automotivos dos EUA está impactando a situação. Independentemente do desfecho, mesmo se houver outro aumento em novembro, o Fed está nos estágios finais de sua campanha de aperto monetário.

· 02:37 — A razão pela qual os juros estão elevados

E o que justifica as taxas de juros tão altas? No epicentro dessa discussão está a inflação nos EUA, que registrou um aumento de 3,7% em agosto em comparação com o ano anterior, marcando uma aceleração pelo segundo mês consecutivo, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor mais recente. Os preços aumentaram 0,6% na comparação mensal, frente ao aumento de 0,2% em julho. Por outro lado, a inflação subjacente nos EUA, que desconsidera a volatilidade nos preços dos alimentos e da energia, continuou a desacelerar.

A última divulgação dos dados de inflação mostrou que ainda há um esforço real a ser feito para trazer a inflação de volta à meta de 2% estabelecida pelo Fed. A inflação no atacado também acelerou pelo segundo mês consecutivo, atingindo 1,6%. Os aumentos de preços chegaram a 0,7% mensalmente, marcando o maior ganho em um mês desde junho de 2022. Isso indica que as pequenas empresas estão enfrentando pressão de preços consistentemente altos.

Assim, embora a inflação esteja muito mais baixa do que no ano passado, permanece significativamente acima da meta de 2% estipulada pelo Fed, conforme reafirmado pelo presidente Jerome Powell no mês passado no simpósio anual do banco central em Jackson Hole, Wyoming. A tarefa mais desafiadora é reduzir a inflação de 3% para 2%. Portanto, é esperado que as taxas de juros permaneçam altas pelo menos até meados do próximo ano, momento em que a economia provavelmente terá desacelerado consideravelmente.

· 3:32 — Os fatores que estão botando medo nos investidores

São diversos os elementos que têm gerado inquietação entre os investidores. Inicialmente, destaca-se a saúde da economia chinesa, que se tornou uma séria fonte de preocupação para os investidores nos Estados Unidos. A deterioração da segunda maior economia do mundo suscita temores de que essa fraqueza possa repercutir nas perspectivas globais. Recentemente, os gastos do consumidor, a produção industrial e os investimentos em ativos fixos na China têm desacelerado ainda mais.

Além disso, as tensões entre os Estados Unidos e a China têm aumentado, à medida que as duas maiores economias do mundo se veem envolvidas em conflitos abrangentes, que abordam desde questões comerciais e tecnológicas até a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Falando nesses conflitos, não podemos ignorá-los. A inflação global está, finalmente, diminuindo, mas o aumento das tensões geopolíticas ameaça elevar os preços dos alimentos e do petróleo em todo o mundo. A invasão da Ucrânia pela Rússia continua a alimentar preocupações com o aumento dos preços das commodities, a instabilidade econômica global e a incerteza relacionada à segurança.

Dois outros pontos de preocupação originam-se no risco de uma desaceleração abrupta da economia americana (uma economia superaquecida, em um cenário de “no landing”, também seria muito prejudicial) e a persistência dos temores de contágio em torno da crise bancária regional nos Estados Unidos. Estes são alguns dos fatores internacionais que têm deixado os investidores globais apreensivos.

· 04:18 — A fala do Sul Global

O discurso proferido ontem pelo presidente Lula na Assembleia Geral da ONU reflete as recentes iniciativas relacionadas ao Sul Global. Destaca-se entre elas a formação dos novos BRICS-11, que representarão uma parcela substancial dos principais recursos globais: i) 42% do abastecimento global de petróleo; ii) 72% dos minerais de terras raras, com três das cinco nações possuindo as maiores reservas; iii) 75% do manganês mundial; iv) 50% do grafite global; e v) 28% do níquel.

É altamente provável que uma abordagem mais coordenada em relação às restrições de exportação para o resto do mundo possa agora evoluir entre os BRICS-11. No domínio da energia, o grupo engloba tanto grandes produtores de petróleo e gás como dois dos maiores importadores, China e Índia. Isso incentiva os membros a estabelecerem mecanismos de comércio de mercadorias independentes do setor financeiro do G-7. Ademais, o grupo possui um dos atores fundamentais para a próxima década na transição energética e no potencial do mercado de carbono: o Brasil.

A expansão dos BRICS é um sintoma da renúncia dos EUA à liderança global em prol do nacionalismo econômico. Enquanto Washington anteriormente promovia acordos de comércio livre, agora foca em restrições às importações e em uma inclinação para adquirir produtos americanos. Contudo, os BRICS-11 enfrentam seus próprios desafios. É improvável, por exemplo, que o dólar seja substituído por pressões do grupo para adotar alternativas. Além disso, existem tensões entre os próprios membros, como as disputas fronteiriças entre Índia e China.

Mesmo assim, o grupo parece ganhar relevância em uma dinâmica global multipolar.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.