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RANI3: comprar ou vender ações da Irani?

Após re-IPO, Irani tem mais liquidez e já possui grandes projetos no horizonte

Por Matheus Egydio

11 fev 2021, 08:19

As ações da Irani Papel e Embalagem (RANI3) são indicadas na série Ações Exponenciais, liderada por Henrique Florentino, desde julho de 2020.

Neste artigo, vamos te apresentar tudo que você precisa saber sobre a empresa por trás de RANI3 e a tese do nosso analista, aqui na Empiricus, acerca desse ativo. Para facilitar sua leitura, o conteúdo foi dividido em:

O que é a Irani (RANI3)?

O início da Segunda Guerra Mundial, lá em 1939, abalou, também, as dinâmicas de exportação e importação. Na época, o Brasil importava muito papel e pasta de celulose, ou seja, dependia de outros países para suprir a demanda interna.

Só que os navios mercantes eram, constantemente, vítimas de submarinos bélicos…

Enquanto isso, o mercado de vinhos finos também ia mal — podemos dizer que as bebidas chiques não eram as prioridades das pessoas naqueles momentos de tensão.

Então, a Companhia Vinícola Rio Grandense de Caxias do Sul, que trabalhava justamente com vinhos finos, correlacionou as duas coisas: a demanda de um mercado estava diminuindo, mas a de outro estava aumentando.

Foi aí que decidiram investir na indústria de papel e celulose, ainda pequena na época.

Fábrica da Celulose Irani

A primeira fábrica da Celulose Irani, em 1941

Desde sua criação até os anos 2000, a Celulose Irani expandiu e consolidou a si mesma, assim como o próprio mercado de papel e celulose nacional. As estratégias da empresa, ora orgânicas, ora inorgânicas — fusões e aquisições —, contribuíram para colocar o Brasil numa posição privilegiada no ranking de maiores fabricantes de papel do mundo.

Nesse ínterim — em 1977, para sermos específicos —, a Irani (RANI3) passou a ser listada na Bolsa de Valores brasileira. Apesar de seu êxito como empresa, sua liquidez sempre foi bastante baixa.

Essa situação se arrastou até 2020, quando ela realizou um follow-on primário, ou seja, emitiu novas ações no mercado.

Sobre isso, podemos destacar três pontos: i) a liquidez de RANI3 aumentou consideravelmente, já que o follow-on foi tão expressivo (captação de R$ 405 milhões) que pareceu até mesmo um re-IPO; e ii) por ser primário, esse movimento destinou todo o dinheiro para o caixa da empresa, possibilitando reinvestimentos robustos nas suas operações.

Por fim, a Irani conclui 2020 com a transição para o Novo Mercado, o grupo especial da B3 que é reservado para as empresas que adotam, voluntariamente, o mais alto grau de governança corporativa.

As linhas de negócio da empresa

Nesse ponto, você já conhece a origem e a trajetória da empresa, caso cogite virar sócio dela. Agora, nos aprofundaremos sobre suas operações.

Para começar, vamos dimensionar sua presença:

Presença nacional da Irani

Fonte: Irani

Vale destacar uma atualização que a imagem não contempla: a fábrica de embalagens na capital de São Paulo foi fechada por não ser suficientemente rentável, concentrando a demanda na de Indaiatuba.

E antes de irmos às linhas de negócio, há mais um ponto importante sobre a produção: quando destrinchamos a fonte da produção, ou seja, de onde vem a matéria-prima utilizada pela Irani (RANI3), temos uma divisão 70/30.

A maior parcela é representada pelas fibras recicladas, também chamadas de “aparas”. As embalagens produzidas com as aparas são versáteis, podendo ser utilizadas em diversos segmentos — exceto embalagens que terão contato direto com alimentos, como sacos de pão.

Aparas de papelão e de papel

Aparas de papelão e de papel, principais matérias-primas da Irani

A menor parcela da produção da Irani é representada pelas fibras virgens, ou seja, que estão sendo usadas pela primeira vez. Para isso, a companhia extrai a madeira de suas florestas, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, produzindo celulose de fibra longa e convertendo em embalagens.

Florestas da Irani

A Irani (RANI3) conta com florestas próprias para ajudar a suprir suas operações

E esses bastidores operacionais da Irani (RANI3) são sintetizados em três áreas de atuação, que abordaremos por ordem de peso na receita.

A primeira delas é a de papelão ondulado, utilizado nos segmentos alimentício, frigorífico, fruticultura e laticínios. Trata-se do segmento mais relevante da empresa, que representou cerca de 57% da receita líquida no 3T20.

Portfólio da linha de papelão ondulado da Irani

Portfólio da linha de papelão ondulado da Irani

Depois, temos a área de papel para embalagens, como sacolas, sacos de pães e envelopes. Aqui, estamos falando de uma contribuição na receita líquida na casa dos 36% no 3T20.

Portfólio da linha de papel para embalagens da Irani

Portfólio da linha de papel para embalagens da Irani

Por fim, a área de resinas e venda de madeira para o mercado, que é o segmento menos expressivo da Irani (RANI3). Sua participação na receita líquida da companhia foi de cerca de 7% no 3T20.

Acreditamos que as outras linhas de negócio são bastante claras, ao passo que “resina” é um tanto quanto exótico nas nossas rotinas. Por isso, vamos explicar essa parte melhor.

As árvores da floresta da Irani possuem, predominantemente, uma madeira chamada Pinus. Dela, a empresa extrai a resina terebintina, que é usada, principalmente, como solvente das tintas a óleo.

Bloco de resina da Irani

A capacidade anual de produção de resinas da Irani é de 10 mil toneladas

Se você chegou até aqui, você, investidor, já sabe o perfil da Irani (RANI3) e tem uma base de como suas operações funcionam. Na próxima seção, vamos entender os motivos pelos quais devemos comprar RANI3.

Por que RANI3 pode ser uma ação exponencial?

Na série do Henrique, Ações Exponenciais, ele escolhe, com precisão cirúrgica e profundidade técnica, as ações com maiores chances de se multiplicar inúmeras vezes e garantir riqueza aos seus investidores.

Estamos falando, portanto, de ativos que, normalmente, passam despercebidos ou são rejeitados pelo mercado, seja pelo histórico turbulento, dívidas desproporcionais e outros fatores superficiais que uma análise rápida pode trazer, mas uma profunda pode desmascarar.

Assim, ele até brinca: “uma ação dificilmente tem potencial exponencial com uma história linda, tendo mais caixa do que dívida e tudo muito bonito”, como é o caso de RANI3.

Agora que você sabe disso, talvez se pergunte o motivo pelo qual Henrique recomendou as ações da Irani na sua série, ou seja, porque ele acredita que ela pode ser uma ação exponencial.

E o questionamento faz todo o sentido. Nesta seção, vamos às quatro principais justificativas.

A primeira delas foi a emissão de R$ 505 milhões em debêntures, lá em 2019. A taxa de remuneração foi de CDI + 4,5%, com um período de carência de três anos para o pagamento do principal — já parcelado em três vezes, para os meses de julho de 2023, 2024 e 2025.

Não entendeu nada? Nós traduzimos.

“Esse alongamento, conjuntamente com a queda nas taxas de juros, permite à Irani ter sobra de caixa para investir e amortizar sua dívida gradativamente”, aponta Henrique. Assim, estamos falando de certa tranquilidade financeira no presente e fôlego em relação ao endividamento.

O segundo ponto já foi brevemente comentado anteriormente, consistindo no follow-on primário, lembra?

Como dito, a liquidez de RANI3 aumentou muito após esse movimento de re-IPO. Vamos tangibilizar isso abaixo, analisando a estrutura societária da Irani através da boa e velha comparação entre antes e depois. 

Antes:

Composição Acionária da Irani antes do re-IPO

*Grupo Habitasul – Família Druck

Depois:

Composição Acionária da Irani após o re-IPO

*Grupo Habitasul – Família Druck

No cenário atual, portanto, a liquidez do ativo se torna atrativa para investidores institucionais e, com eles no jogo, quem comprou antecipadamente sai ganhando.

Como dito, a captação da Irani, com isso, foi de R$ 405 milhões para o seu caixa, permitindo investimentos em grandes projetos. O que não expusemos, no entanto, é que esses projetos já têm nome e sobrenome.

E eles nos levam à terceira justificativa.

A Irani (RANI3) “tem projetos engatilhados que demandam cerca de R$ 1 bilhão em investimentos”, explica Henrique. E “a entrada de caixa do [re-IPO] possibilitará o início desses investimentos e o restante virá de novas dívidas e geração de caixa da empresa”, conclui ele.

Entre as iniciativas, podemos destacar:

  • Caldeira de recuperação na Plataforma Gaia, que utiliza o licor negro (resultado da produção de celulose) para a produção tanto de valor, quanto de energia para alimentar a fábrica de papel; e

  • Expansão da planta de embalagem em Santa Catarina, que envolve a troca da principal máquina de papel.

Vale destacar que a novidade na Plataforma Gaia vai aumentar a geração de energia própria em 56%, reduzindo os custos com energia — que hoje representam 10% do custo na produção de papel para embalagem.

A quarta e última justificativa em prol de RANI3 como uma ação exponencial é a nova situação do top management.

Para Henrique, “a Irani deixou oportunidades para trás nos últimos anos, já que seu controlador tinha interesse em vender a empresa”.

O problema, nessa época, é que era difícil pensar em futuro e planejamento considerando que o Grupo Habitasul estava em processo de venda da companhia.

Os projetos ficaram parados.

Mas quando o controlador não recebeu uma proposta a altura do valor da Irani, decidiu focar no re-IPO para captar recursos e voltar a crescer.

“Dessa forma, o management terá mais margem de manobra para tocar o plano de negócios da empresa. Agora, com o novo foco, acreditamos que a Irani volte aos trilhos do crescimento e maior rentabilidade”, diz Henrique.

O princípio da escassez…

Na pandemia, a Irani faz parte do grupo minoritário de empresas que não sofreram tanto. No caso dela, a comparação trimestral nos mostra que a área de embalagens de papelão ondulado cresceu (+31%), ao contrário da de papel para embalagens (-9,8%) e de resinas e venda de madeira (-20,4%).

Receita Líquida da Irani no 3T19, 2T20 e 3T20

Ainda assim, a receita líquida total cresceu 8,5% frente ao trimestre anterior

Fonte: Irani | Elaboração: Empiricus

O cenário pode ser explicado pela explosão de demanda acerca das caixas de papelão do mercado, comportamento explicado pelo isolamento social da pandemia (mais consumo no mercado, menos em restaurantes).

A baixa demanda por sacolas usadas em lojas de rua e shoppings explica o recuo da área de papel para embalagens, enquanto o confinamento mostra sua outra face sobre RANI3: pouca procura por madeiras e tintas (feitas de resinas), consequência da paralisação da construção civil.

Precisamos ressaltar, também, que houve aumento nos preços da principal matéria-prima da Irani, ou seja, as aparas. Assim, a restrição de oferta ajudou a reduzir a margem da empresa no 3T20, um golpe paralelo às baixas demandas supracitadas.

Vale a pena comprar RANI3?

A Irani (RANI3) é uma empresa consolidada no mercado de papéis e celulose, com caixa robusto e sadio após o re-IPO e planos ambiciosos para o futuro de curto e médio prazo.

Aqui na Empiricus, acreditamos que os investimentos da Irani serão gradativos e em compasso com os resultados operacionais. Ainda assim, “vislumbramos a companhia permanecendo com uma alavancagem relevante nos próximos anos e, portanto, a paciência será necessária”, explica Henrique.

Também devemos acompanhar “se a oferta de aparas sofrerá alterações bruscas por períodos longos, o que pode acarretar na diminuição da produção pela companhia, além de aumentar os custos”, alerta Henrique.

Mas a situação, até o momento, é boa. Henrique mesmo tranquiliza: “têm-se uma noção, no setor, de que a quantidade de aparas disponíveis é próxima da quantidade de papelão expedido no terceiro mês anterior”. Assim, “dados os grandes volumes apresentados nos últimos meses, acreditamos que não teremos alterações drásticas na disponibilidade do material”, conclui ele.

Nossa recomendação, portanto, é a de que você compre RANI3 e garanta esse ativo no seu portfólio.

Mas nós, na Empiricus, vamos além disso para você, investidor.

A dica de ouro: vale a pena comprar RANI3 até R$ 9,10.

Para os leitores mais técnicos, Henrique explica que chegou nesse valor após um extenso cálculo que compara os múltiplos de negociação da Klabin (KLBN4) entre 2010 e 2013.

Dito isso, boas compras.

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.