Bom dia, pessoal. As notícias relacionadas à política monetária estão em evidência ao redor do globo. Somente hoje, teremos três decisões de autoridades, uma na Inglaterra, outra na Turquia e mais uma na África do Sul. O cenário é altamente volátil e agitado. Ontem, durante a chamada “Super-Quarta”, testemunhamos o encerramento das reuniões dos Bancos Centrais do Brasil e dos EUA, que resultaram em decisões conforme o esperado, mas com um tom um tanto mais conservador e cauteloso. No cenário americano, ainda é possível que ocorra uma elevação adicional, mesmo que marginal, nas taxas de juros, enquanto aqui no Brasil reduzimos a possibilidade de um eventual corte de 75 pontos-base até o final do ano (o ritmo atual deverá ser mantido).
Refletindo os sinais negativos de Wall Street no encerramento de ontem, os mercados asiáticos fecharam em baixa nesta quinta-feira, em grande parte devido às renovadas preocupações sobre as perspectivas das taxas de juros, após o Federal Reserve dos EUA sinalizar a manutenção das taxas em níveis elevados até 2024 (a próxima reunião de política monetária do Fed está marcada para 31 de outubro a 1º de novembro). Os mercados europeus também começam o dia em queda e o mesmo ocorre com os futuros das bolsas americanas. Antevê-se que não seja uma quinta-feira muito frutífera. Até as commodities não escapam da desvalorização nesta manhã, com queda nos preços do barril de petróleo e do minério de ferro.
A ver…
· 00:42 — A nossa querida âncora monetária
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) seguiu o previsto e reduziu a taxa Selic em 50 pontos-base, levando-a para 12,75%. A decisão em si não surpreendeu, sendo destaque o tom do comunicado, que adotou uma linguagem ligeiramente mais cautelosa (“hawkish”). Em comparação com a reunião anterior, tivemos poucas alterações na mensagem, mas foram mencionados novos riscos relacionados à China, EUA e à situação fiscal local. As mudanças nas taxas dos títulos do Tesouro dos EUA e a questão fiscal no Brasil parecem fundamentais para entender esse movimento.
Uma diferença significativa foi a indicação explícita de possíveis cortes adicionais da mesma magnitude para as próximas reuniões (sim, plural), esvaziando a possibilidade de um corte de 75 pontos até dezembro, visto que até lá dois diretores do BC serão substituídos. Antes, alguns investidores consideravam como possível um corte mais expressivo.
Com a reunião, o Banco Central enfatizou implicitamente a importância da âncora monetária (na falta de previsibilidade fiscal), apontando para uma Selic de 11,75% ao final do ano, o que pode gerar um ajuste nas expectativas de mercado hoje, que estavam precificando quedas mais acentuadas nos juros — embora 75 pontos de corte em dezembro não sejam impossíveis, são considerados altamente improváveis.
Isso não altera a previsão de uma provável Selic de 9% até o final de 2024, considerando a dinâmica de crescimento aparentemente mais forte e as expectativas de inflação para os próximos anos. A leitura indica que uma política monetária ainda contracionista é necessária, especialmente diante de um processo de desinflação possivelmente mais lento, influenciado por fatores internacionais, como a alta do petróleo e do dólar.
O Copom deverá detalhar esse movimento na Ata da próxima semana, com foco nas projeções de inflação e nos impactos econômicos, como o PIB robusto no segundo trimestre. É importante lembrar que um choque negativo de curto prazo não deve alterar a tendência positiva de um ciclo de flexibilização no longo prazo.
· 01:59 — “Higher for longer”
Nos Estados Unidos, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) do Federal Reserve optou por manter a sua meta para a taxa de juros dentro da faixa-alvo de 5,25% a 5,50%, ao mesmo tempo em que enfatizou a contínua robustez da economia americana. Esta postura indica uma perspectiva cada vez mais agressiva para o futuro em termos de política monetária de curto e médio prazo, como evidenciado tanto pelo presidente do Fed, Jerome Powell, quanto pelo resumo das projeções econômicas apresentadas pelos responsáveis.
Esse posicionamento reflete um crescimento econômico mais vigoroso e uma taxa de desemprego mais baixa do que o inicialmente estimado pelo Fed, após os aumentos consecutivos da taxa de juros em mais de cinco pontos percentuais desde março de 2022. A projeção do Fed para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 foi revisada para 2,1%, em comparação com a estimativa anterior de 1,0% feita em junho.
Além disso, os decisores políticos reduziram suas previsões para a taxa de desemprego para 3,8%, frente ao 4,1% anterior (o que manteria a taxa estável em relação aos 3,8% registrados em agosto). Isso tende a gerar maior inflação e, consequentemente, implica em taxas de juros mais altas, deixando no ar a possibilidade de uma leve elevação de 25 pontos-base até o final do ano.
· 02:46 — A volta dos IPOs… Pelo menos nos EUA…
Ontem, a Klaviyo Inc., empresa de marketing e automação de dados, teve uma boa alta em seu primeiro dia de negociação após sua oferta pública inicial (IPO), com um preço acima da faixa original em que havia sido oferecida. As ações encerraram o dia com uma valorização de mais de 9%, atingindo US$ 32,76.
Em outro exemplo, a Instacart, uma empresa de entrega de alimentos, também teve um início de negociação interessante nesta semana, começando com um prêmio de 40% em relação ao preço do IPO. Embora parte desse aumento tenha sido revertido ao longo do dia, a empresa ainda terminou o primeiro dia com um ganho de mais de 10%, demonstrando força.
Atualmente, há um entusiasmo generalizado pelos IPOs, que tiveram uma semana excepcional após a listagem da fabricante de chips Arm Holdings, como mencionado anteriormente. Essa estreia na semana passada marcou o fim de uma seca de quase dois anos sem novas listagens significativas nas bolsas dos EUA.
É evidente que há uma demanda para que novas empresas entrem no mercado. As receitas provenientes de IPOs este ano já dobraram em relação ao ano passado, que registrou uma queda de 90% em 2021. Contanto que não tenhamos uma safra desfavorável como a de 2021, o ciclo pode ser positivo para as ações.
· 03:35 — E os ingleses?
A decisão tomada hoje pelo Banco da Inglaterra (BoE, em inglês) foi um desafio. Os dados recentes de inflação ainda apontam para pressões consideráveis no país, e parte da recente queda na inflação pode ser atribuída a componentes voláteis. Além disso, houve uma revisão significativa para cima no crescimento econômico.
Diante desse cenário, o mercado indicava uma probabilidade substancial de mais um aumento na taxa de juros, de 25 pontos-base, elevando-a para 5,5% ao ano. Acabou que o BoE manteve a taxa inalterada em 5,25% ao ano, mas a decisão não foi unânime.
Não podemos ignorar o risco de um “excesso de zelo”; afinal, um remédio em excesso também pode prejudicar o paciente. Considerando a sequência de 14 aumentos consecutivos nas taxas de juros, muitos acreditam que o Banco da Inglaterra poderia ter encerrado o ciclo de aperto monetário, seguindo a abordagem adotada pelo Banco Central Europeu na semana passada. Isso não altera a perspectiva de que as taxas de juros deverão permanecer em níveis elevados por vários meses adicionais.
· 04:23 — Quebrando o gelo
Após a reunião bilateral entre Lula e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky ontem, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, anunciou que terá uma conversa pessoal com o chanceler russo, Sergei Lavrov. O Brasil se candidatou para mediar as negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, gerando otimismo de que a conversa com Zelensky, que inicialmente hesitava em aceitar a abordagem de Lula, possa representar um avanço nesse sentido.
Uma observação feita por Lula parece bastante pertinente: “negociação em uma mesa sai muito mais barato que uma guerra, não tem vítima, não tem morte e não tem tiro.” No entanto, é evidente que o presidente brasileiro não tem sido um exemplo coerente nesse diálogo, defendendo valores democráticos ao mesmo tempo que mantém uma relação com o colega autocrático Putin. Pelo menos esse primeiro encontro com o presidente ucraniano conseguiu amenizar a tensão, uma vez que a relação estava um tanto conturbada desde o problema com a agenda durante o G7 no Japão.