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Ata do Copom, IPCA-15 de setembro, pessimismo no exterior e mais: veja os destaques do mercado nesta terça-feira (26)

Detalhes específicos da ata do Copom podem oferecer uma visão mais clara ao mercado sobre a dependência dos dados pelo BC

Por Matheus Spiess

26 set 2023, 08:59 - atualizado em 26 set 2023, 08:59

Imagem representando o mercado a termo. ata copom ipca-15

Bom dia, pessoal. Os investidores internacionais estão observando com apreensão essa nova realidade na qual enfrentaremos juros mais altos por um período prolongado. Christine Lagarde, presidente do BCE, reiterou ontem a importância da “dependência de dados” pela autoridade monetária, enquanto Neel Kashkari, presidente do Federal Reserve regional de Minneapolis, sugeriu um possível aumento adicional nas taxas. Esse cenário de incerteza está exercendo pressão sobre a curva de juros nos Estados Unidos, fortalecendo o dólar globalmente e afetando ativos de risco, como as ações.

Durante o pregão desta terça-feira, a maioria das ações na Ásia registrou queda, com a perspectiva de taxas mais elevadas nos EUA impactando especialmente o setor de tecnologia. Além disso, as preocupações contínuas com a desaceleração econômica na China mantiveram os investidores cautelosos em relação aos mercados regionais. O mercado europeu também iniciou o dia em baixa, alinhado ao desempenho dos futuros americanos. Prevê-se que o dia seja particularmente desafiador.

A ver…

· 00:37 — Tentando uma solução

No Brasil, durante o dia, estaremos analisando atentamente a ata do Copom, divulgada nesta manhã. Não se espera uma mudança significativa no tom por parte da autoridade, que já descartou a possibilidade de acelerar o ritmo ainda em 2023. No entanto, detalhes específicos podem oferecer uma visão mais clara sobre a dependência dos dados pelo BC. Nossa previsão é que encerraremos o ano com a taxa Selic em 11,75%, mas isso não descarta a possibilidade de um movimento mais assertivo em direção a 9% até o final de 2024. Portanto, estamos atentos também ao IPCA-15 de setembro, fornecendo uma prévia da inflação oficial até o momento neste mês.

Outro ponto de foco local é a situação fiscal, com o Ministério da Fazenda explorando alternativas em paralelo com sua extensa agenda de microrreformas. É interessante observar que mais da metade das 17 medidas propostas não necessitam da aprovação do Congresso, o que não deve impactar muito o cronograma dos trabalhos legislativos. Essas medidas abordam crédito, seguro, previdência, tributação e mercado de capitais, incluindo a ampliação do acesso ao crédito consignado para trabalhadores do setor privado e modificações na política de investimento de fundos de pensão e seguradoras.

Por fim, é importante mencionar a iniciativa do governo de recorrer ao STF para revisar o pagamento das dívidas judiciais da União. Desde o governo Bolsonaro, foi estabelecido um teto anual para as despesas com precatórios. Agora, o Ministério da Fazenda busca resolver essa questão e planeja quitar uma fatura acumulada de R$ 95 bilhões (R$ 65 bilhões referentes a precatórios não pagos e a previsão para 2024), propondo alterações na forma como esses pagamentos são contabilizados no âmbito federal, permitindo ao governo honrar seus compromissos sem infringir as regras fiscais.

· 01:46 — A curva de juros está pesando

Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 interrompeu a sequência de quatro dias de quedas ontem, encontrando apoio na marca de 4.300 pontos. Surpreendentemente, o sentimento de compra se fortaleceu nesse nível, mesmo diante do aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano (impulsionado pela postura do Federal Reserve de manter as taxas de juros mais altas por um período prolongado). No dia anterior, os rendimentos voltaram a subir, com os títulos de 10 anos atingindo 4,54%, o nível mais alto desde 2007.

Entre as notícias positivas, destaca-se o acordo provisório entre os roteiristas de Hollywood e os estúdios para encerrar a greve que já durava quase cinco meses. Há expectativa de que esse acordo sirva de catalisador para negociações futuras, incluindo aquelas entre o sindicato dos atores e, eventualmente, entre as montadoras e o sindicato United Auto Workers, aliviando a pressão sobre a economia real dos EUA. Além disso, aguardamos dados do mercado imobiliário, incluindo as vendas residenciais de agosto e o Índice de Confiança do Consumidor para setembro.

· 02:25 — Um impasse sem fim

Nos Estados Unidos, uma das agências de classificação de crédito mencionou a possibilidade de rebaixar a classificação do país devido à nova ameaça de paralisação do governo. O impasse orçamentário nos EUA não mostra sinais de resolução iminente, aumentando a chance da primeira paralisação do governo desde 2019, pois os republicanos mais inflexíveis continuam postergando a aprovação de uma lei provisória de gastos.

O financiamento atual para as operações federais se esgotará em 1º de outubro. Caso o Congresso não chegue a um acordo sobre os gastos até essa data, milhares de funcionários federais podem ser colocados em licença não remunerada. O presidente da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, está planejando apresentar um ambicioso plano esta semana, visando a aprovação de quatro grandes projetos de lei que englobam financiamento militar e de segurança interna.

O intuito é persuadir os republicanos a apoiar uma lei provisória de gastos, também conhecida como resolução contínua. Os republicanos mais inflexíveis estão buscando cortes de despesas muito mais acentuados do que os previamente acordados, apontando para cerca de US$ 120 bilhões em cortes adicionais apenas para o novo ano fiscal. Antecipa-se que a paralisação do governo será de curta duração e seu impacto mais amplo provavelmente será limitado. No entanto, a situação está gerando apreensão.

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· 03:11 — Um setor estressado

As ações no setor imobiliário da China atingiram o ponto mais baixo em nove meses, gerando inquietação entre os investidores sobre uma possível liquidação da empresa China Evergrande. As ações desta companhia despencaram 22% em resposta a uma decisão de última hora de cancelar encontros com credores. Este declínio ocorre em um momento em que o setor está sendo impactado por uma série de notícias negativas. O regulador de valores mobiliários da China afirmou na semana passada que está investigando a Ping An Real Estate em relação a um pagamento de empréstimo vencido não divulgado. Além disso, a China Oceanwide Holdings revelou na segunda-feira que está enfrentando liquidação, depois que um tribunal nas Bermudas emitiu uma ordem nesse sentido.

A crise na Evergrande Group piorou quando a unidade continental da empresa anunciou que não poderia efetuar o pagamento de uma obrigação onshore, acrescentando uma nova camada de incerteza sobre o futuro do empreendedor. O plano de reestruturação com seus credores offshore não está progredindo como se esperava. A construtora no epicentro da crise imobiliária chinesa informou que sua subsidiária, Hengda Real Estate Group Co., não conseguiu pagar US$ 547 milhões de principal mais juros, com vencimento em 25 de setembro. Dessa maneira, o mercado imobiliário chinês pode levar anos para se recuperar.

· 04:03 — Uma temática nuclear

A Arábia Saudita expressou sua concordância com uma fiscalização mais rigorosa de suas atividades nucleares, um passo que poderia desbloquear as negociações com os EUA para estabelecer uma operação de enriquecimento de urânio no país. Ao dar poderes mais abrangentes aos inspetores nucleares para inspecionar suas atividades nucleares, a Arábia Saudita ofereceria à comunidade internacional uma garantia mais sólida de que suas instalações nucleares estão voltadas exclusivamente para fins pacíficos, afastando suspeitas de produção de combustível nuclear para armas.

A Agência Internacional de Energia Atômica tem pressionado a Arábia Saudita para atualizar seu acordo de supervisão há anos, à medida que o país busca desenvolver um programa nuclear civil de forma mais aberta. Essa atualização do acordo ocorre em um momento em que o Irã reduziu a velocidade de enriquecimento de urânio para níveis quase adequados para armas, de acordo com um relatório da agência de vigilância nuclear da ONU obtido pela Associated Press. Isso pode indicar uma tentativa de Teerã de melhorar as relações com os EUA após anos de tensões entre os dois países. Há um sentimento mais agradável dos americanos no Oriente Médio.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.