Bom dia, pessoal. O último dia de negociações da semana começa com uma perspectiva positiva. Na agenda, os investidores estarão de olho no conhecido PCE de agosto nos EUA, a métrica preferida do Fed para medir a inflação. Dependendo dos números, essa tendência positiva pode continuar. Ontem, os dados do PIB do segundo trimestre nos EUA trouxeram algum alívio para a curva de juros, possibilitando uma pequena alta em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil. Na sexta-feira, a maioria das ações asiáticas fechou o pregão em alta, se recuperando das perdas acentuadas desta semana (a desaceleração da inflação no Japão foi evidente com a medida dos preços ao consumidor para setembro).
Os mercados europeus estão em alta, assim como os futuros nos EUA. Os investidores estão assimilando os números de inflação na França e na Itália, que ficaram abaixo e acima das expectativas, respectivamente, seguindo a desaceleração significativa dos dados de inflação na Alemanha ontem. Em geral, embora com exceções, isso deveria indicar outra desaceleração nos números preliminares globais da Zona Euro para setembro. As principais commodities, como petróleo e minério de ferro, também estão em alta, o que abre espaço para otimismo em mercados como o Brasil.
A ver…
· 00:47 — O orçamento precisa ser executado
Aqui, seguimos a trilha do cenário internacional e recuperamos a marca de 115 mil pontos ontem, apesar do tom mais conservador percebido na declaração de Roberto Campos Neto durante sua entrevista na quinta-feira. Hoje, o mercado não apenas não espera mais um corte de 75 pontos-base para dezembro de 2023 ou janeiro de 2024, mas também já inclui a possibilidade de uma redução para 25 pontos na conta. Sim, uma alteração na dinâmica dos cortes pode ocorrer, mas a trajetória permanece a mesma. Continuo prevendo uma Selic de 11,75% ao ano para 2023, rumando para um dígito até o final de 2024, o que deve ser benéfico para os ativos de risco locais.
No entanto, as incertezas estão começando a se acumular. Temos um cenário internacional bastante complexo, especialmente devido à pressão da curva de juros nos EUA, que traz implicações para os mercados emergentes, além dos desafios fiscais brasileiros. Uma nuvem densa de incertezas paira sobre a execução do orçamento para 2023, gerando cautela entre os agentes de mercado. É do interesse do Banco Central, que busca reduzir as taxas de juros, que as medidas de arrecadação sejam aprovadas no Congresso. Com a confirmação destas, a tendência é que a situação fiscal melhore. Em relação a este tema, na próxima semana teremos a votação do Desenrola, do Marco de Garantias e da taxação de offshore e fundos exclusivos.
· 01:42 — Apenas em cinco anos…
Recentemente, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, mencionou que a comercialização do petróleo da Margem Equatorial, onde está localizada a bacia da Foz do Amazonas, só deve ocorrer no mínimo cinco anos após uma possível autorização do Ibama.
Esse prazo pode se estender ainda mais, pois, mesmo se a perfuração for aprovada, é necessário, em primeiro lugar, confirmar a existência de óleo na região e, posteriormente, avaliar se a exploração é economicamente viável. Somente então seria viável construir uma plataforma para a operação.
Em resumo, a licença e perfuração de um poço não significam que a Petrobras começará a produzir imediatamente. Não seria surpreendente se esse prazo de cinco anos fosse estendido para oito anos para ter o primeiro óleo na área, se a empresa receber a licença ainda este ano ou no início do próximo ano.
Se essas previsões se concretizarem, a comercialização do petróleo extraído nessa nova fronteira exploratória começaria entre 2028 e 2031, coincidindo com o final da década crucial para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os piores impactos das mudanças climáticas. Resta esperar que os preços do petróleo permaneçam altos até esse momento…
· 02:49 — Ansiedade para o PCE
Nos Estados Unidos, setembro se revelou desfavorável para o mercado acionário. Até o pregão de ontem, o S&P 500 havia registrado uma queda de 5,2% no mês, enquanto o Nasdaq recuou 6,7%. Os investidores estão ansiosos para deixar para trás esse mês difícil. Hoje, semelhante ao cenário de ontem, as ações apontam para um dia positivo, já que os mercados parecem estar potencialmente “sobrevendidos” e os rendimentos dos títulos do Tesouro estão cessando sua escalada implacável. Mesmo diante da tensão em torno da aparente falta de acordo entre os congressistas americanos para evitar um shutdown do governo no domingo, os mercados indicam um dia favorável (o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, afirmou que o Congresso chegará a um consenso).
Os investidores podem encontrar algum alívio amanhã se o índice de despesas de consumo pessoal, ou PCE, continuar a mostrar uma inflação moderada. O PCE é o índice de referência do Fed para monitorar a inflação. A expectativa é que o núcleo do PCE, excluindo os preços de alimentos e energia, tenha aumentado 3,9% em relação ao ano anterior. Isso representaria o nível mais baixo desde setembro de 2021.
Contudo, as preocupações recaem sobre o preço do petróleo, que atingiu seu nível mais alto em muito tempo, registrando um aumento de mais de 30% em apenas quatro meses. Portanto, a divulgação do PCE será acompanhada de perto por um mercado que está nervoso desde a última decisão do Fed sobre política monetária há mais de uma semana. Além do núcleo, que já foi mencionado, a estimativa consensual é que o índice cheio do PCE aumente 3,4%, após um ganho de 3,3% em julho. Eventuais surpresas terão um impacto significativo no mercado.
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· 03:36 — A dinâmica britânica
Os dados referentes ao PIB do segundo trimestre do Reino Unido foram recalculados, revelando que o primeiro trimestre foi mais robusto do que inicialmente previsto. Isso sinaliza uma mudança considerável na narrativa pós-pandemia sobre o crescimento no país. O investimento desempenhou um papel mais significativo no impulsionamento do crescimento, indicando que as empresas não compartilhavam do pessimismo inicial em relação à economia britânica. Apesar disso, a Standard and Poor’s estima que o crescimento do Reino Unido permanecerá moderado até 2024, influenciado pela persistente alta da inflação e pelas taxas de juros que se tornarão cada vez mais restritivas em termos reais à medida que a inflação diminui.
A projeção é que o PIB do Reino Unido avance 0,3% em 2023 e 0,5% em 2024. Enquanto isso, a inflação deve manter-se alta, com um aumento de 6,7% em agosto na comparação anual. No entanto, a expectativa é que diminua gradualmente, aproximando-se da meta no segundo semestre de 2024. Isso sugere a possibilidade de que o Banco da Inglaterra (BoE) já tenha concluído suas elevações de juros neste ciclo, embora essa afirmação esteja condicionada à desaceleração do crescimento salarial. O crescimento dos salários reais tornou-se positivo, o que, junto com a previsão de um mercado de trabalho resiliente conforme os padrões históricos, deverá mitigar um cenário de crescimento que, de outra forma, seria limitado. Resta aguardar para ver se o Reino Unido superará essa aparente fragilidade.
· 04:33 — Petróleo, um caso geopolítico
As mudanças mais significativas nos preços do petróleo ao longo da última década foram predominantemente impulsionadas por fatores geopolíticos em vez das forças tradicionais de oferta e demanda nos mercados financeiros internacionais. Em 2014, as decisões da OPEP causaram grande impacto global, amplamente interpretadas como uma tentativa de punir os operadores de xisto, elevando os preços do petróleo a um patamar que tornaria a operação desses produtores menos rentável. Em 2020, outro colapso ocorreu devido a desentendimentos entre a Arábia Saudita e a Rússia. E, é claro, a invasão da Ucrânia claramente desencadeou o aumento no início do ano passado.
A mais recente recuperação dos preços também está fortemente relacionada à geopolítica. Desta vez, a aliança entre a Arábia Saudita e a Rússia, apelidada por alguns de “Pacto de Aço”, em referência à aliança pré-guerra entre Alemanha e União Soviética, teve um papel importante. Os EUA responderam ao aumento dos preços do ano passado recorrendo à sua reserva estratégica de petróleo, que tinha sido acumulada justamente para um momento como esse. Essa ação impediu a Rússia de usar o petróleo como ferramenta de pressão no mundo ocidental. No entanto, após essa utilização inicial, os EUA não têm a opção de esgotar novamente suas reservas. Os estoques de petróleo dos Estados Unidos estão atualmente em níveis consideravelmente mais baixos devido ao esgotamento dessas reservas.