Investimentos

Burger King (BKBR3): comprar ou vender?

A pressão vendedora nos ativos do BK Brasil foi exagerada, entenda a oportunidade

Por Matheus Egydio

10 mar 2021, 06:11

As ações do Burger King Brasil (BKBR3) são indicadas pelo nosso sócio e analista Max Bohm, na sua série Microcap Alert desde janeiro de 2020.

Neste artigo, vamos te explicar a história por trás dessa rede de fast-food e tudo que você precisa saber sobre a tese por trás da sugestão, ou seja, os motivos pelos quais você deve ter hambúrgueres como fonte de renda.

Para facilitar a leitura, estruturamos o conteúdo da seguinte forma:

O que nunca te contaram sobre a história do Burger King (BKBR3)

A primeira unidade do fast-food foi aberta em 1953, por Keith e Matthew, na Flórida, sob o nome Insta-Burger King. No entanto, os tempos difíceis aliados ao primeiro ano nada incrível de operações obrigou os fundadores a venderem o restaurante para James e David.

O nome escolhido após a aquisição foi uma abreviação do original: Burger King.

A aposta dos novos donos foi o sistema de franquias, que aplicaram logo depois da renomeação. Na segunda unidade, os hambúrgueres e milk-shakes eram vendidos por — acredite se quiser — 18 centavos de dólar.

Em 1957, o Whopper, criação mais icônica da marca, ganha vida

A ideia deu certo e o Burger King prosperou nas próximas décadas, mas sem donos muito permanentes: a empresa mudou de administração quatro vezes. Em 2004, chegou ao Brasil com franquias subordinadas à marca global (Burger King Corporation) e, em 2006, passa a ter capital aberto na NYSE, Bolsa de Valores americana.

Em 2010, os empresários brasileiros por trás do grupo 3G Capital — Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles — entram na jogada ao comprar a totalidade das ações da empresa por US$ 3,26 bilhões.

Já no ano subsequente, finalmente surge a empresa sediada no Brasil cuja ação sugerimos.

Isso porque, em 2011, o Burger King Corporation (a multinacional, sob controle do 3G Capital) se uniu ao fundo Vinci Capital (hoje, Vinci Partners) para criar a joint venture Burger King Brasil, com o objetivo de que esta atuasse como uma master franqueadora.

Se você não nunca ouviu falar dos termos joint venture ou master franqueadora, não precisa sair correndo, porque nós vamos explicar de um jeito simples.

O primeiro conceito é a parceria entre duas ou mais empresas para criar outra, dividindo, assim, riscos, investimentos e, claro, conhecimento. É o caso, por exemplo, da joint venture entre Apple e Hyundai para o desenvolvimento do Apple Car.

O segundo, mais útil para entender as operações do BK no Brasil, é o título premium que uma franquia ganha, o que envolve muito mais direitos do que o normal sobre a marca, mas os poderes também trazem mais deveres.

No caso do Burger King Brasil, enquanto a franquia master tem exclusividade contratual de 20 anos (vencimento em 2031, sujeito a prorrogação por mais 20 anos), ela também deve se responsabilizar pela abertura de um número pré-determinado de restaurantes próprios ou “sub-franquias” (ou seja, arranjar franqueados que respondam para ela) ao longo de sua vigência.

Em outras palavras, o BK Brasil passou a ser o dono da marca no Brasil por um tempo, mas recebeu uma meta para cumprir.

Antes de prosseguirmos, vale destacar que “a exclusividade de administração da marca é limitada ao segmento de hambúrgueres, o que permite que a companhia opere outras marcas e/ou segmentos no país, como, por exemplo, a marca Popeyes, que atua na linha de frango frito”, como diz nosso analista Sérgio Oba.

A estratégia, daí em diante, foi expandir a marca de todas as formas possíveis: inauguração de lojas próprias, realização de contratos com novos franqueados e até a aquisição de franquias “legado” (abertas antes da joint venture).

Em 2017, o movimento foi turbinado através da captação de R$ 900 milhões no IPO da companhia (BKBR3).

Atualmente, o Burger King Corporation (NYSE: QSR) tem mais de 15 mil lojas, das quais 900 estão no Brasil sob a supervisão do Burger King Brasil (BKBR3).

Os reis do Burger King

Você, agora, conhece a trajetória dessa icônica marca de fast-food, mas… quem são os donos por trás da empresa (além do já citado 3G Capital, é claro)?

Acreditamos que, nesse caso, uma imagem vale mais que mil palavras:

Assim, o protagonismo fica para o BKC e Vinci Partners, participantes iniciais da joint venture. Não podemos deixar de ressaltar, no entanto, que o bloco de controle é bem diversificado e até mesmo equilibrado entre os sete players envolvidos.

Por dentro dos bastidores do BK Brasil

Na Empiricus, acreditamos que o academicismo não é tudo e a prática tem um enorme valor para as nossas experiências como investidores (e no geral).

Dessa forma, Max e Guilherme, ao sugerirem BKBR3 na série Microcap Alert, fizeram a lição de casa seguindo um dos ensinamentos de Peter Lynch, ou seja, “as maiores ferramentas para a análise de empresas são os olhos e os ouvidos”, destaca Max.

Talvez não os olhos e ouvidos

Além de experimentar os produtos em primeira mão, nossos analistas entenderam e explicaram as operações do Burger King Brasil que, por meio das marcas BK e Popeyes, dividem sua presença em:

  1. Mall, lojas localizadas nas praças de alimentação dos shopping centers;

  2. Dessert Centers, quiosques que você encontra nos corredores dos shoppings;

  3. Free Standing, lojas na rua com drive-thru; e

  4. In Line, lojas na rua sem drive-thru.

A expansão dos restaurantes, para sermos sinceros, tem sido bastante agressiva (antes da pandemia), ritmo que pode ser compreendido pela união entre a meta imposta como condição pelo título de master franqueadora e a cultura espartana do grupo 3G Capital:

É importante ressaltar, também, que o Burger King Brasil deve pagar uma taxa de abertura e repassar royalties para a empresa matriz, o Burger King Corporation. Isso se aplica tanto para a inauguração de lojas próprias quanto para franquias:

Nessa relação entre a marca global, que trabalha com dólar, e a marca brasileira, surge a pergunta: a variação cambial impacta os negócios do BK Brasil?

Não muito.

Max nos explica que “parte da matéria-prima, como a batata frita é importada e, por isso, é impactada negativamente pela valorização do dólar”. Em contrapartida, “os royalties são primeiro calculados em reais e, em seguida, convertidos para a moeda americana, o que não pressiona as margens da companhia”, ele conclui.

Isso significa que a valorização da moeda americana pode trazer uma pressão de margem momentânea para o Burger King Brasil, mas ela é pequena quando comparada ao faturamento da companhia:

A concorrência

Alguns passos para trás e vemos que o mercado de fast-food possui baixa penetração (22%) no setor de alimentação fora de casa e se encontra altamente fragmentado, ou seja, “é dominado por bares, cafés e restaurantes como um todo (muitos desses ainda operando na informalidade), que representam 78% do mercado total”, aponta Sérgio Oba.

Dessa pequena parcela de 22%, 14% corresponde ao segmento burger e apenas 1% ao de frango, que, entretanto, demonstra um dos ritmos mais rápidos de crescimento anual (7,2%).

A iniciativa do restaurante Popeyes surfa no crescimento do consumo de frango

E nesse pequeno espaço de ocupação, a briga é de gente grande e envolve três players principais no segmento burger: McDonald’s, Burger King e Bob’s.

Mas Sérgio destaca que o destaque vai mesmo para os dois primeiros lugares do pódio, com “McDonald’s e Burger King se tornando cada vez mais absolutos no segmento de hambúrgueres, com quase 90% do mercado”.

Tudo isso nos faz aferir que: i) as avenidas de crescimento são enormes, uma vez que o fast-food representa menos de 1/5 da alimentação fora de casa; e ii) os rivais já são bem conhecidos.

A estratégia para crescer e superar os adversários, simultaneamente, é o marketing.

Para Sérgio, “a companhia é referência na área, com campanhas assertivas que sempre visam capturar assuntos do momento (inclusive os mais polêmicos) e datas comemorativas, por exemplo”.

A propaganda do Burger King no final do filme IT cutuca diretamente o McDonald’s

Os esforços para isso, aliás, são universais: no contrato de franquia, há o chamado “fundo de marketing”, ao qual cada loja deve destinar 5% da receita líquida em investimentos relacionados a essa área.

E os dados nos indicam que está funcionando.

O reconhecimento da marca (brand awareness) do BK tem sido expressivo

No mais, a companhia vem abocanhando, ano a ano, a posição já estabelecida dos seus dois principais concorrentes, fato bem tangível quando analisamos o gráfico abaixo:

Fonte: Burger King Brasil e Euromonitor

Conclusão: vale a pena comprar no Burger King (como investidor)?

No começo de 2020, Max já esperava números menos expressivos do BK Brasil durante o ano quando comparado com o consolidado de 2019, porque considerava a “pressão no preço das proteínas animais”.

Mas como vimos, o buraco foi ainda mais embaixo.

A pandemia veio com tudo e causou um impacto direto nas operações da companhia, que apresentou um prejuízo líquido expressivo de R$ 105 milhões.

Ainda assim, o management foi rápido na estratégia de transição para o digital, migrando as operações para três canais digitais: o delivery, que dispensa explicações; os totens, que são grandes telas nos restaurantes que permitem o autoatendimento; e o BK Express, aplicativo próprio da marca.

Aliadas, elas atingiram um faturamento de R$ 136,3 milhões no 3T20, o que significa um crescimento de 220% na comparação anual e representa 22,7% do faturamento do período.

Só que, para Max, a punição do mercado sobre BKBR3 foi muito exagerada, o que ele destaca ser comum em momentos de pânico e euforia.

“Há um ano, essa ação valia mais de R$ 20”, ele aponta.

A pergunta que ele faz aos investidores, portanto, é: será que o pior resultado de 2020 justifica uma queda de 50% no valor de mercado da companhia?

Para responder isso, ele ponderou que as vias de crescimento do segmento burger estão dispostas para o BK, que já aproveita a oportunidade. Além disso, o mercado de fast-food com carne de frango, representado pela marca Popeyes, apresenta um forte potencial de crescimento.

Assim, fica claro que a resposta da pergunta é não. E exageros significam oportunidades.

Ele conclui que o Burger King Brasil (BKBR3) possui todos os pilares qualitativos que desejamos ver em uma microcap da sua carteira: posição de liderança, solidez financeira, governança corporativa, controladores comprometidos e foco em gerar retorno aos acionistas.

Não poderíamos, portanto, desejar mais nada.

Assim, aos preços atuais, BKBR3 “não condiz com as oportunidades e as avenidas de crescimento que a empresa deve entregar no próximo ano”, ele explica.

O balanço sólido, aliado às potenciais melhorias de resultados nos próximos trimestres e o preço descontado da ação fazem com que BKBR3 se torne extremamente atrativo.

As contas dele, aliás, indicam que o preço justo do ativo está na casa dos R$ 18 e, dessa forma, estamos falando de um upside (potencial de valorização) de cerca de 100% no momento em que criamos este artigo.

Sim, é possível dobrar o capital investido ao virar sócio do BK Brasil.

Ao concluirmos que o rei não vai perder sua majestade, nossa sugestão é que vale a pena comprar BKBR3.

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.