Os bilionários, quase que por consequência inerente à posição, se tornam famosos. Afinal, quem nunca ouviu falar de Jeff Bezos, Elon Musk, Bill Gates, Jorge Paulo Lemann e José João Abdalla Filho, não é mesmo?
No caso do último nome, vamos ser sinceros: quase ninguém.
Por isso, neste artigo, vamos te apresentar esse bilionário brasileiro muito discreto e peculiar, assim como seus investimentos relevantes no mercado financeiro. Para facilitar a leitura, dividimos o conteúdo nos seguintes tópicos:
A história dos bilhões: de pai para filho
A fortuna de J.J. Abdalla Filho, também conhecido como Juca, precede sua própria história e, portanto, vamos seguir a máxima do follow the money e começar a trajetória pelo seu pai.
O José João Abdalla (sênior) foi… bem, muitas coisas: médico, político, empresário, banqueiro e sempre bastante polêmico, como veremos mais adiante.
Em 1920, já se mostrava um empresário de destaque por meio das suas empresas Argos Industrial e Tecelagem Japi, pioneiras da industrialização em Jundiaí e que chegaram a empregar mais da metade da força de trabalho da cidade na década.
E assim, J.J. Abdalla começou a construir seu império sob o nome Grupo JJ Abdalla.
Na década de 40, aproveitou a tendência dos mais ricos do país e montou seu próprio banco — a paleta mexicana da época. O movimento foi importante porque a holding, agora, possuía um braço financeiro próprio: o Banco Interestadual.
Então, o empresário realizou a aquisição da Companhia de Cimentos Portland Perus, que se mostrou como uma das mais importantes da sua trajetória. A rentabilidade da empresa ganhou destaque porque, naquele momento, era a primeira fabricante de cimento do Brasil.
Nessa altura do jogo, ele tinha mais de 20 empresas de diversos segmentos, o que incluía até mesmo uma indústria açucareira e uma companhia de importação e exportação. Tudo isso, claro, precisava de muitos trabalhadores.
E aqui, Abdalla “sênior” se torna uma figura polêmica.
A imagem que se projetava dele, enquanto patrão, era bem ruim: nesses trinta anos, enfrentou mais de 500 processos, foi indiciado por crime contra a economia popular e por apropriação indébita.
Para piorar, foi processado e preso em 1969, quando o Estado acusou mais de 32 empresas sob sua holding de não pagarem impostos.
Em 1988, sua história chega ao fim e uma herança vultosa cai no colo de seu filho, Juca. Além dos imóveis, terrenos e negócios, o filho também recebeu uma ação na Justiça contra o Estado de São Paulo.
A alegação da família era de que havia sido lesada na desapropriação do terreno de mais de 717 mil metros quadrados que originou o Parque Villa-Lobos, na capital paulista. Em outras palavras, o governo pegou a propriedade deles e, agora, eles queriam que os danos fossem reparados.
A família venceu o processo e o acontecimento até gerou certa atenção para Juca, uma vez que, com o evento, ele foi a pessoa que recebeu a maior indenização já paga por desapropriação de imóvel no Brasil: R$ 2,5 bilhões, pagos em dez parcelas anuais.
A vida de Juca, no entanto, é bem mais modesta e, dessa forma, não rende tantas linhas. Durante sua trajetória, se formou em Economia pela Universidade Mackenzie e criou o Banco Clássico, que serve como instrumento para administrar a herança do pai.
Em 2006, tentou entrar na política brasileira como suplente de senador na chapa de Teresa Surita, de Roraima, mas foi derrotado nas eleições.
Não que isso tenha sido um grande problema: a Forbes indica que seu patrimônio, em 2021, está na casa dos U$S 2,3 bilhões.
E, exceto isso, sabemos pouco sobre a vida pessoal do bilionário brasileiro que mora no Rio de Janeiro.
O banco de um cliente
A fortuna de Juca era tão grande que ele passou a usar o Banco Clássico para aplicá-la e preservá-la. Por meio desse corpo institucional, ele tinha mais autonomia nas suas finanças e investimentos do que os bancos da época (1989) proporcionavam.
A ideia não era expandir o negócio e, assim, o único cliente do banco é o próprio dono
Desde então, ele partiu para a ofensiva e tenta multiplicar seu patrimônio — e influência — ao investir em empresas estatais, de preferência nas ações ordinárias (terminadas com o número três e que garantem voz ativa no conselho de administração).
As prioridades de Juca como investidor
O intuito de Juca nos investimentos é aumentar seu dinheiro ao mesmo tempo em que ganha voz nos negócios do Estado, estratégia que, talvez, tenha se mostrado como a alternativa mais viável de ganhar influência política depois de falhar nas eleições em 2006.
Podemos aferir, em maior ou menor grau, que deu certo.
Sob a ótica financeira, os investimentos de Juca por meio do Banco Clássico transformaram cerca de R$ 5 bilhões em mais de R$ 8 bilhões.
Mas quando recorremos à sua relevância no conselho das estatais, o resultado não foi tão positivo: apenas 4% da Petrobras, 5% da Eletrobrás e 7% do Cemig.
Vale destacar que estamos falando de uma parcela pequena de muita coisa, ou seja, existe valor financeiro e político nesse portfólio. Ainda assim, não se trata de posições que consumam o objetivo planejado por Abdalla.
Ainda que a prioridade do bilionário consista nas estatais, podemos destacar investimentos relevantes dele em empresas de energia, tais como a Engie Brasil (cerca de 10% do capital total) e Kepler Weber (cerca de 5% do capital total); e no clube da elite carioca Country Club, em Ipanema (o título de sócio é de “meros” R$ 400 mil e mensalidade está na casa dos R$ 1.200).
Podemos concluir, portanto, que a figura de Juca Abdalla é enigmática, mas ele é suficientemente rico para se dar esse luxo.