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Investimentos

Google (GOOGL e GOGL34): transformando buscas e cliques em dinheiro

Entenda como o maior buscador do mundo se encaixa no seu portfólio

Por Matheus Egydio

17 mar 2021, 06:24

As ações do Google (Nasdaq: GOOGL; B3: GOGL34) são indicadas nas séries MoneyRider e As Melhores Ações do Mundo, ambas lideradas pelo nosso analista João Piccioni.

Neste artigo, vamos nos aprofundar na empresa que você usa todos os dias de uma perspectiva diferente: a do investidor. Aqui, entenderemos a história e os bastidores do Google, assim como as expectativas sobre ele enquanto uma ação no seu portfólio.

Vamos lá?

A história do Google: todo o conhecimento do mundo ao seu alcance

A popularização da internet, ainda no século passado, nos conectou de forma sem precedentes com praticamente toda informação que procurássemos — desde que, com uma pitada de sorte, achássemos ela.

Tudo era muito novo e pouco explorado, então não tinha muita sofisticação aqui, ainda.

Para que a experiência digital fosse mais simples e eficiente, muitas startups se dedicaram no mercado de search engines, ou seja, mecanismos de busca. A ideia era aperfeiçoar algoritmos para que gerassem as melhores respostas quando alguém buscasse algo na internet.

Os resultados não foram muitos satisfatórios, para dizer o mínimo.

Até meados da década de 1990, pesquisar uma informação na internet era como pedir o tênis da vitrine para o lojista: ele volta com quinze caixas e, é claro, nenhuma delas com o modelo e/ou número que você pediu.

Então, entram em cena Larry Page e Sergey Brin, que dedicavam-se a um projeto com uma missão ambiciosa, mas totalmente viável para eles após o advento da internet: “organizar toda a informação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil”.

Buscando coerência entre o nome e a missão da empresa, a dupla de empreendedores se inspirou no termo “googol”, criado por um matemático americano na década de 1930. Tratava-se de um nome mais prático para um número enorme: 10100.

Assim, em 1998, surge o Google.

Da missão ao nome, a startup assumia que seu fundamento era a abrangência — quase inconcebível pela mente humana — de informações.

Não obstante, desenvolveram um algoritmo de ranqueamento que organizava todos esses dados de forma inteligente e, agora, era como se o lojista te trouxesse exatamente o tênis que você pediu.

Parece agradável, nós sabemos, mas nem por isso foi fácil fazer o projeto deslanchar.

Eles tinham, no início, mais inteligência e disposição do que dinheiro. Isso significa, em termos práticos, computadores ruins que dificultavam o processamento de dados, retardando o crescimento — e até colocando em risco a sobrevivência — do projeto.

Então, usaram a inteligência e disposição para conseguir o que faltava, ou seja, captar recursos de investidores. Page e Brin conseguiram chamar a atenção de tubarões que colocavam muita fé nessa tal de internet, dentre os quais podemos destacar Jeff Bezos.

Sim, o atual homem mais rico do mundo foi um dos primeiros investidores do Google, aportando US$ 250 mil nas mãos dos fundadores, ainda em 1998.

Depois desse momento, a dupla fundadora da startup tinha tudo que eles precisavam para se estruturar e começar a crescer com consistência.

Em 2001, contrataram o competente Eric Schmidt para ser o CEO da companhia

A principal fonte de receita da empresa era fruto das ferramentas de marketing digital vendido para as empresas, algo que, como Piccioni destaca, “ainda não havia sido migrado de forma inteligente para a internet”.

Antes do Google, as empresas anunciavam seus produtos e serviços por meio dos odiados pop-ups

Isso fez com que a companhia conquistasse grande parte do orçamento das empresas destinado à publicidade, tornando-se referência no assunto e, assim, conquistando mais clientes. O ciclo virtuoso gerava mais dinheiro para pagar programadores que, por sua vez, revolucionavam cada detalhe técnico possível da internet, desde a criação de websites até serviços de streaming.

Além de inovadoras, as soluções do Google também eram secretas, o que se provou um diferencial competitivo no tempo: “a estratégia de ocultação promovida por Schmidt até o IPO, em 2004, fazia com que seus concorrentes não conseguissem copiar as mesmas táticas utilizadas pela empresa”, destaca Piccioni.

Assim, oferecendo um buscador verdadeiramente eficiente e formas criativas de marketing digital para todos, o Google transformou cada computador do mundo em uma potencial máquina de vendas.

Nasce uma big tech, com capacidade de avaliar 20 petabytes (cerca de 20 milhões de gigabytes) da internet e produzir respostas precisas no momento da busca dos usuários.

Ao revisitarmos a missão do Google, quando fundado, podemos dizer, em maior ou menor grau, que deu certo.

Alphabet Inc

A empresa se tornou grande demais e, para tornar tudo ainda mais complexo, investia em diversas outras companhias tão grandes quanto. Só que o Google era uma empresa aberta e, como tal, precisava ser mais transparente com seus acionistas.

Então, em 2015, criou-se a Alphabet como uma holding que controla tanto o Google Services quanto o segmento Other Bets, portfólio formado por empresas investidas pela big tech.

O movimento cumpriu o objetivo e deixou a estrutura do conglomerado bastante clara para todos que se interessarem no assunto:

A estrutura da Alphabet

A principal fonte de receitas da companhia continua vindo dos seus serviços “tradicionais” (mas irreplicáveis, vale destacar), como o Google, YouTube, Gmail, Maps e tantos outros. Essa linha de negócio representa 90% das receitas da Alphabet.

O restante é fruto do segmento mais disruptivo e ousado da big tech, que conta com mercados ainda incipientes que, no entanto, podem revolucionar a sociedade em escala global no futuro. Não se trata de exagero: estamos falando de iniciativas focadas em carros autônomos, inteligência artificial e até mesmo a extensão da vida humana por meio do combate à velhice.

São projetos que vão florescer nas próximas décadas e precisamos ficar de olho.

As vertentes diversificadas e bilionários do Google a colocam numa posição de alta vantagem competitiva, tornando até difícil imaginar que essa big tech seja vencida por outros players. Entretanto, a concorrência não é amadora, tampouco pequena, como veremos na próxima seção.

A concorrência crescente

A internet não é mais um nicho incompreendido, situação aproveitada pelo Google em 1998. Atualmente, nós vemos tecnologias que desafiam a soberania do Google — ainda que não de forma letal — por meio de startups tão ousadas quanto a criada por Page e Brin; e outras big techs.

Podemos destacar, por exemplo, uma ameaça à principal fonte de receita que, além disso, levantou o império do Google: o advertising.

As empresas, cada vez mais, percebem que publicidade online é o divisor de águas nas propostas de valor e, assim sendo, grandes players já disputam esse market share com o Google, dentre os quais podemos destacar marketplaces como Amazon, Facebook e Mercado Livre.

Por qual motivo anunciar seu produto e pagar por cliques, se você pode anunciá-lo gratuitamente em outras plataformas e pagar apenas quando a venda for concretizada?

Ambas as opções, é claro, possuem seus prós e contras, mas, ainda assim, uma coisa é certa: o Google não é mais o único barco nesse oceano que, aliás, está cada vez mais vermelho. No entanto, para sermos justos, a predominância do Google nas buscas ainda garante certa tranquilidade frente aos concorrentes:

O market share do Google, no segmento de buscas, revela um monopólio

Podemos citar, também, iniciativas que atacam a liderança do Google de forma mais lateral, como o Spotify. A startup começou a abocanhar um market share rapidamente no serviço de streaming, rivalizando diretamente com o YouTube.

Mas o Google não está dormindo.

No caso do YouTube, “a empresa vem buscando inovar na monetização, criando, por exemplo, produtos relacionados (Music, Premium, TV)”, explica Piccioni. Ainda assim, é difícil mensurar o desempenho da reação, já que os números do segmento não são disponibilizados.

O que vimos em 2020

Podemos dizer que a pandemia foi um serial killer que ceifou milhares de negócios e impactando negativamente muitos outros. Aqui, o Google também sofreu, ainda que momentaneamente.

Sua principal fonte de receita, isto é, a publicidade online, passou por tempos ruins porque… bem, não há motivos para anunciar seus produtos e serviços no Google se a sua empresa declara falência.

O pior momento veio no 2T20, que, em números, significou:

  • Receita de US$ 38,3 bilhões (-1,6% vs. 2T19);

  • A publicidade online gerou US$ 29,9 bilhões (-8% vs. 2T19);

  • Aumento de 7,2% nos custos e despesas; e

  • Lucro operacional de US$ 6,4 bilhões (-30% vs 2T19).

Mas nem tudo foi trevas para o Google, o que nos mostra que houve certo equilíbrio nos impactos negativos (fechamento de negócios e isolamento social) e positivos (mais pessoas em casa usando a internet).

A frente de computação em nuvem, por exemplo, registrou um aumento de 43,1% na comparação anual, assim como as assinaturas do YouTube e do Google Play mostraram uma alta de 25,6% frente ao 2T19.

GOOGL trouxe menos resultados para o investidor no 2T20

Entretanto, o leitor mais atento pode ter notado que começamos esta seção dizendo que o Google sofreu momentaneamente. Nos próximos trimestres, o que vimos foi um crescimento agressivo e, para quem segurou sua posição em GOOGL, lucrativo.

Todos os negócios do Google Services registraram um crescimento brutal, elevando a receita desse segmento em 41,3% na comparação com o 3T20. No segmento Other Bets, por outro lado, houve um prejuízo que quebrou o ritmo lento de crescimento:

O protagonismo do Google ainda reside no segmento Google Services

Por fim, o Google fechou o ano positivamente para os investidores, com um lucro líquido de US$ 15,3 bilhões, o que pode ser traduzido como US$ 22,30 por ação (+45,3% vs 4T20).

A tendência de crescimento no lucro por ação (GOOGL) continua

Assim, os impactos do segundo trimestre foram pontuais e, quando diluídos no desempenho da big tech durante o ano inteiro, vimos que se tratou de uma pequena marola incapaz de desacelerar o crescimento de longo prazo da companhia.

Veredito: comprar ou comprar?

Para Piccioni, podemos avaliar o Google de duas formas: a extremamente simples e a técnica. Explicaremos, portanto, ambas as análises.

Iniciando pelo método mais simples, devemos nos questionar: existirá tecnologia capaz de destituir a posição do Google como fonte de informações (sejam elas publicitárias, de localização, informação, visualização, etc)?

Acreditamos que, muito provavelmente, não.

A Alphabet é um verdadeiro ecossistema tecnológico que se faz presente em diversos setores da economia, assim como possui robustez financeira. A barreira de entrada, portanto, não consiste em derrubar uma frente ou outra do conglomerado, mas a holding inteira.

Portanto, podemos continuar seguros de que “mais e mais companhias utilizarão os serviços do Google para lutar pelos espaços disponíveis para suas marcas e produtos”, pontua Piccioni.

Partindo, agora, para o método mais técnico, precisamos revisar e nos aprofundar nos negócios da empresa.

O carro-chefe, como dito, é o Google Services, segmento responsável por 90% das receitas da companhia. Aqui, as marcas são verdadeiros monstros em seus respectivos mercados.

A ferramenta de busca com o nome da companhia, por exemplo, possui 92% do market share e, dessa forma, se torna líder absoluta no segmento. Para se ter noção, to google virou um verbete do prestigioso Dicionário Oxford.

Na linha de sistemas operacionais, temos o Android, uma alternativa universal que rivaliza com o iOS da Apple e se sustenta por meio de uma capilaridade maior de smartphones que utilizam esse software (em oposição à Apple, limitada aos iPhones).

Ainda que menos prestigioso, o Android é líder no seu mercado

No mercado de navegadores web, não é diferente: o Google Chrome registra um crescimento estratosférico, saltando de 1,5% de market share em 2009 para 55% nos últimos anos.

No segmento de navegadores web, a liderança também reside no Google Services

Por fim, o YouTube, que já contabilizou mais de 1,5 bilhão de usuários assistindo, no mínimo, 60 minutos de conteúdo em seus aparelhos. Para monetizar a plataforma, oferecem anúncios que atingem 95% da audiência da plataforma e novos serviços, como o YouTube TV e o YouTube Red.

Mais um nicho que o Google participa e adivinhe quem é o líder?

Isso tudo sem contar o segmento Other Bets, que representa um portfólio cheio de potenciais fatores exponenciais (leia-se multiplicação absurdamente agressiva de capital, aqui).

Vimos que esse grupo é mais volátil e de longuíssimo prazo, mas são mercados emergentes que, sem dúvida, farão parte do nosso futuro. Imagine se você pudesse ter participado do mercado de petróleo quando ele ainda era novidade, por exemplo.

Investir no Other Bets, em segmentos como carros autônomos e inteligência artificial, é quase a mesma coisa.

Tudo isso já está acontecendo e o Google se manifesta quase que de forma absoluta em vários mercados nos quais se faz presente. Em termos financeiros, a companhia é robusta; quando olhamos o top managament, então, nem precisamos nos aprofundar: Larry Page e Sergey Brin continuam ligados à companhia que criaram, garantindo que a visão de 1998 se perpetue.

Por esses motivos, entendemos que GOOGL e GOGL34 são excelentes ativos e, sem dúvidas, devem permanecer no seu portfólio nos próximos vários anos.

A diferença entre GOOGL e GOGL34

Primeiro, vamos explicar a estrutura do conglomerado de um ponto de vista acionário: não existe uma ação da Alphabet e do Google.

Trata-se de um único ativo para ambas as companhias, de modo que a nossa vida fica mais fácil.

Assim, temos o GOOGL, negociado na Bolsa de Valores de tecnologia americana, a Nasdaq e aqui no Brasil, temos o BDR da companhia, novamente simbolizado por um único ativo, o GOGL34, negociado na nossa Bolsa de Valores, a B3.

Os valores e variações de ambas são muito parecidos, então nossa sugestão vale para os dois ativos. Ainda assim, existem diferenças relevantes entre uma ação do exterior e um BDR, que você pode entender melhor neste artigo.

Após entender a diferença, temos duas vias: i) compre GOOGL por meio de uma corretora internacional (sugerimos a Avenue Securities, que dá suporte em português); ou ii) compre GOGL34 em qualquer corretora brasileira.

Independente da sua escolha, a tese que construímos ao longo desse artigo e nos relatórios do João Piccioni mostram que vale a pena investir no Google (Nasdaq: GOOGL ou B3: GOGL34).

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.