Investimentos

Na contramão da Europa e dos EUA, Brasil encerra outubro em clima tenso; saiba mais

As tensões fiscais estão novamente minando a confiança nas expectativas locais.

Por Matheus Spiess

31 out 2023, 08:51 - atualizado em 31 out 2023, 08:51

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Bom dia, pessoal. Os investidores brasileiros estão experimentando uma dinâmica desvinculada dos movimentos internacionais, principalmente devido às tensões fiscais que estão novamente minando a confiança nas expectativas locais. Apesar dos índices em alta na Europa e nos futuros dos EUA, as coisas não devem ser tão fáceis por aqui.

Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez uma tentativa de suavizar a situação após os comentários de Lula na sexta-feira (27), mas seus esforços não surtiram efeito. O ministro não conseguiu convencer o mercado.

Além disso, no cenário internacional, estamos digerindo os resultados da reunião do Banco do Japão (BoJ), que não trouxe novidades, e a queda do índice PMI na China, o que afeta negativamente os preços das commodities nesta manhã e pode ter impactos no Brasil.

Na agenda internacional, os investidores estão acompanhando os dados de inflação e do PIB do terceiro trimestre na Zona do Euro, que ficaram aquém das expectativas. Além disso, todos estão ansiosos pela reunião do Federal Reserve (Fed) nos EUA, que começa hoje e termina amanhã. Atualmente, a ferramenta da CME Group indica uma probabilidade de 98% de que o Fed manterá as taxas inalteradas esta semana. No entanto, o que realmente importa é o comunicado que acompanhará essa decisão.

A ver…

· 00:46 — Palavras ao vento

Na realidade, a declaração do ministro Haddad na manhã de ontem não teve qualquer impacto significativo por aqui. O ministro parecia visivelmente preocupado e até ficou irritado com as perguntas sobre a possibilidade de mudança na meta fiscal. Em outras palavras, seus esforços não conseguiram convencer o mercado, que continua sem saber qual direção o governo tomará nas próximas semanas. O clima está tenso, mas isso não significa que o jogo terminou.

Durante a coletiva, Haddad mencionou ter identificado alguns dos principais problemas na arrecadação, que continua em declínio mesmo com o crescimento do PIB. Ele destacou duas distorções fiscais que remontam a 2017: i) a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que excluiu o ICMS da base de cálculo do PIS/Confins; e ii) o sistema de subvenção do ICMS, que permite que as empresas descontem os incentivos fiscais concedidos pelo ICMS. De fato, essas questões são fundamentais para explicar a queda na arrecadação, mas não são as únicas, uma vez que várias outras variáveis também estão influenciando esse cenário.

Em busca de avanços na agenda fiscal, o presidente Lula está se envolvendo diretamente para apoiar Haddad nas negociações. Como parte disso, o líder do governo na Câmara convocou líderes para uma reunião com Lula e Haddad nesta manhã. Lula pretende aproveitar esse encontro com os líderes para discutir a aprovação da medida provisória (MP) que trata da subvenção de ICMS.

Caso o Congresso não aprove o texto, o Ministério da Fazenda está considerando recorrer ao STF, uma vez que as mudanças nas subvenções de ICMS são consideradas pela equipe econômica como uma das principais medidas para eliminar o déficit primário do próximo ano. Além disso, durante essa reunião, Lula poderá reafirmar seu apoio ao ministro, após tê-lo constrangido na sexta-feira. Ainda há o parecer preliminar do projeto de lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, que nem mesmo foi debatido esta semana. É uma corrida contra o tempo e a curva de juros sabe disso.

· 01:59 — A situação do BC

Certamente, esta semana todos os olhares estão voltados para o Banco Central devido à reunião de Política Monetária (Copom), que começou hoje e terminará amanhã. No entanto, as recentes nomeações para as diretorias do Banco Central nem receberam a devida atenção. Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira foram apresentados antes da coletiva de ontem, numa tentativa de melhorar o ambiente, mas essa iniciativa não surtiu o efeito desejado. Infelizmente, no contexto geral, o mercado não deu a devida importância a essas nomeações, por mais positiva que tenha sido a sinalização.

Paulo Picchetti é um economista amplamente reconhecido, especializado em econometria e análises quantitativas. Por sua vez, Rodrigo Teixeira é menos conhecido, mas é um profissional de carreira do próprio Banco Central. Ele desempenhou um papel importante na reestruturação das carreiras dos servidores públicos da prefeitura de São Paulo e, espera-se que faça o mesmo no BC, que enfrenta um clima ruim entre seus funcionários, que estão desmotivados. As nomeações afastam os receios de que o Copom pudesse adotar uma postura mais dovish com novos diretores com abordagens heterodoxas. Se essa tendência continuar no próximo ano, não devemos esperar surpresas nesse sentido.

· 02:47 — Um início de semana não tão ruim quanto a semana passada

Nos Estados Unidos, as ações iniciaram a semana com sólidos ganhos em todos os setores, recuperando-se das quedas da semana anterior. O Dow Jones Industrial Average registrou um aumento de 1,6%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq Composite subiram 1,2%. Todos os 11 setores do S&P 500 fecharam o dia em território positivo, após o índice ter sofrido quedas superiores a 2% nas últimas duas semanas.

Os investidores receberam de forma positiva os resultados de empresas como McDonald’s e Pinterest. No entanto, mais resultados ainda estão por vir ao longo desta semana, com empresas como Apple, Advanced Micro Devices, Caterpillar, Pfizer, Airbnb, CVS Health, PayPal Holdings, ConocoPhillips, Eli Lilly e Starbucks na agenda.

No entanto, o foco principal está no Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), que iniciou hoje sua reunião de dois dias para determinar os rumos da política monetária. O destaque será amanhã, em conjunto com diversos dados relacionados ao mercado de trabalho que estarão em destaque nesta semana.

Hoje, especificamente, temos a divulgação do índice de confiança do consumidor para o mês de outubro e o Termômetro Empresarial de Chicago para o mesmo mês. Embora esses dados sejam secundários em comparação com outros eventos desta semana, eles ainda têm sua relevância.

· 03:34 — E a tal da greve? 

A General Motors finalizou um acordo contratual provisório com o sindicato United Auto Workers, encerrando uma greve de seis semanas que causou perturbações na produção de automóveis nos Estados Unidos e acarretou em prejuízos consideráveis para a indústria. Os termos do acordo se assemelham aos acordos previamente celebrados pela Ford Motor e Stellantis, incluindo um aumento salarial de 25% por hora, juntamente com benefícios relacionados ao custo de vida durante o período contratual, que abrange mais de quatro anos.

Esses acordos, vistos como conquistas significativas pelos trabalhadores, agora aguardam ratificação, um processo que é esperado ocorrer nas próximas semanas. Entretanto, nem todas as notícias são positivas para as ações das empresas automobilísticas. Alguns analistas mais pessimistas estimam que o acordo com o sindicato custará anualmente à Ford pelo menos 1 bilhão de dólares. Se essas projeções pessimistas (e agressivas) se concretizarem, é evidente que a empresa enfrentará desafios significativos para melhorar seus resultados financeiros, considerando o lucro operacional norte-americano da Ford em 2022, que foi de aproximadamente US$ 9,2 bilhões.

· 04:28 — Nada de novo na terra do sol nascente

As bolsas japonesas registraram ganhos após a divulgação de dados econômicos fracos e a postura pacífica do Banco do Japão. A autoridade monetária optou por manter as taxas de juros negativas e realizou apenas ajustes mínimos em sua política de controle da curva de rendimento, apesar de ter indicado que permitirá maior flexibilidade nas suas operações conhecidas como “Yield Curve Control” (Controle da Curva de Juros). Entretanto, essa decisão desapontou consideravelmente os investidores que aguardavam por uma abordagem mais agressiva na política monetária. O Banco do Japão também afirmou que continuará com seu atual ritmo de compras de ativos.

Essa postura do Banco do Japão gerou um grande alívio nos mercados acionários japoneses, uma vez que sugere condições monetárias frouxas para o futuro imediato. Essa perspectiva contrasta com o aumento das taxas de juro que tem sido observado na maioria das outras principais economias. As ações locais conseguiram superar as notícias de que a produção industrial e as vendas no varejo cresceram menos do que o esperado em setembro. Além disso, os investidores em grande parte ignoraram os avisos de que a inflação superaria as projeções iniciais e que o crescimento econômico tende a ter um viés negativo nos próximos anos.

· 05:12 — Consolidação em um setor importante

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.