Investimentos

Irani (RANI3) atravessa ressaca do segmento de papel e papelão ondulado com margens sólidas no 3T23

Enquanto o mercado ainda tenta encontrar um equilíbrio, a companhia conseguiu manter margens decentes no trimestre, com uma estratégia de preservação de preços e bom controle de despesas. 

Por Ruy Hungria

31 out 2023, 14:50 - atualizado em 31 out 2023, 14:50

Irani (RANI3)
Imagem: Divulgação

Como temos comentado há vários trimestres, depois de um “boom” de preços na pandemia que ajudou muito as margens das empresas do segmento de papel e papelão ondulado, o setor continua mostrando sinais de estabilização, com redução de preços e volumes. Mesmo assim, a Irani (RANI3) tem conseguido atravessar essa ressaca com margens muito sólidas. 

Papelão ondulado

No segmento de Papelão Ondulado, o volume de vendas em m2 caiu -6,3% na comparação com o 3T22, mais do que o mercado, que apresentou recuo de -1,4%. 

Tudo indica que a perda de share está relacionada à estratégia de preservação de preços e margens em um ambiente um pouco mais competitivo, o que trouxe bons resultados como veremos adiante. 

Papel

O segmento de Papel, que produz além do papel utilizado na produção do Papelão Ondulado próprio e de terceiros (rígidas), como também papel para embalagens flexíveis (flexíveis) mostrou um pequeno recuo de -1,1% na produção na comparação com o 3T22. Além da redução no volume de Rígidas por conta da estratégia de manutenção de margens no segmento de Papelão Ondulado, como comentamos anteriormente, a produção de Flexíveis acabou impactada pelo startup de Gaia I no trimestre. 

Fonte: Irani.

Apesar do efeito negativo dos preços de venda, é importante destacar que o custo das aparas, matéria prima da produção de papelão, recuou ainda mais forte (-20% vs 3T22), crucial para as margens do trimestre. Mesmo com a redução de preços, a margem bruta permaneceu em 46,7%, apenas -0,2 ponto percentual abaixo do 3T22. 

Evolução do preço das aparas de Irani (RANI3)
Fonte: Irani.

Despesas, Ebitda e lucro líquido

Além disso, a companhia também mostrou bom controle de despesas com vendas e administrativas recorrentes, com recuo de -R$ 2 milhões (-3,5%) na comparação anual. 

Mesmo com recuo de preços e volumes, o Ebitda recuou apenas -3%, para R$ 133 milhões, com ganho de margem inclusive, o que mostra uma boa execução mesmo com o encolhimento do mercado. 

Apesar do bom desempenho operacional, o resultado final acabou sendo afetado pelo maior endividamento em função do projeto Gaia  e, consequentemente, maior pagamento de juros no trimestre. Com isso, o lucro líquido caiu -32%, para R$ 64 milhões. 

Endividamento

A alavancagem de Irani atingiu 2,1x  no trimestre, mas deve se estabilizar e voltar a cair em breve, já que os investimentos em Gaia diminuem ao mesmo tempo que começam a contribuir positivamente para a geração de Ebitda. 

Dívida líquida/Ebitda ajustado de Irani (RANI3)
Fonte: Irani.

Além disso, vale ressaltar o trabalho de gestão de dívida no 3T23, quando a companhia captou R$ 300 milhões com custo médio de CDI+1,8% para liquidar uma debênture de CDI+4,5%. 

Sobre a plataforma Gaia, Gaia I, II, III e VIII estão praticamente prontos, enquanto quase todos os outros devem ser finalizados até o fim do primeiro semestre de 2024. A exceção fica para a aquisição da nova impressora dual slotter (esperada para 2025) e repotencialização das hidrelétricas Cristo Rei e São Luiz, que ainda aguardam liberações ambientais. Cerca de 84% dos investimentos estimados já foram realizados. 

Fonte: Irani.

Ao que tudo indica, o setor ainda deve continuar pressionado pelo descasamento entre oferta e demanda, provocados pela desaceleração da atividade econômica e dos aumentos de capacidade após a forte demanda por embalagens durante a pandemia. 

Percepção da Empiricus Research sobre Irani (RANI3)

Enquanto o mercado ainda tenta encontrar um equilíbrio, a companhia conseguiu manter margens decentes no trimestre, com uma estratégia de preservação de preços e bom controle de despesas. 

Além disso, com a conclusão dos vários projetos Gaia, a expectativa é de ganhos de produtividade, maior eficiência de custos, e maior geração de caixa, o que ajudará os resultados, ainda que a ressaca do setor continue por mais algum tempo. 

Por 7x Valor da Firma/Ebitda e com melhorias operacionais pela frente, a Irani segue como uma recomendação da Empiricus Research.

Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.