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Novembro começa com Super Quarta e decisão da taxa de juros no Brasil e nos EUA; confira

Após o fechamento do mercado, tanto o Federal Reserve quanto o Copom realizarão reunião de política monetária para definir como ficam os juros.

Por Matheus Spiess

01 nov 2023, 09:05 - atualizado em 01 nov 2023, 09:05

Bom dia, pessoal. À medida que outubro terminou, percebemos que o mês foi essencialmente uma extensão dos mesmos temas que dominaram setembro, que por sua vez foi uma continuidade de agosto. Neste cenário, em que uma trágica guerra no Oriente Médio também está entre as preocupações, os investidores começam a focar na reta final do ano. Com apenas dois meses restantes em 2023, estamos ansiosos por uma possível redução nas taxas de juros de mercado nos EUA. Sem isso, nada será feito. Hoje, estão programados indicadores econômicos relacionados ao emprego e à atividade econômica nos EUA, antes do anúncio da decisão de política monetária pelo Federal Reserve, previsto para logo após o almoço.

Nos mercados asiáticos, a maioria das ações manteve-se em uma faixa estável com tendência a ligeiras quedas nesta quarta-feira. Esse comportamento se deve a dados desfavoráveis da China, já que o índice da indústria retornou à contração, o que provavelmente terá impacto negativo sobre os preços das commodities. Além disso, a antecipação em relação à decisão de política monetária nos EUA manteve o sentimento dos investidores em estado de fragilidade. Por outro lado, o Nikkei, no Japão, apresentou uma alta acentuada, após a autoridade monetária japonesa sinalizar novamente que fará poucas mudanças em sua política ultra-dovish. À medida que aguardamos a reunião do Federal Reserve, os mercados europeus estão em queda, refletindo a cautela, juntamente com os futuros das ações nos Estados Unidos.

A ver…

· 00:51 — Qual será o tom do BC?

No Brasil, estamos nos aproximando de nossa próxima reunião de política monetária, com a decisão programada para ser divulgada após o fechamento do mercado. É importante lembrar que amanhã teremos um feriado, o que pode levar os investidores a considerarem a realização de lucros, especialmente diante da série de eventos ocorrendo no cenário internacional e após o fechamento positivo do mês anterior pela famosa puxeta dos gestores.

Com relação ao Comitê de Política Monetária (Copom), a expectativa é de que haja mais um corte na taxa Selic, novamente de 50 pontos-base, levando-a a 12,25% ao ano. Teremos ainda mais uma reunião programada para dezembro, que também deve resultar em mais um corte de 50 pontos, encerrando o ano com juros a 11,75%. No entanto, a grande incerteza reside no tom do comunicado. Espera-se que ele seja mais conservador, com alertas sobre o cenário internacional, em particular devido ao aumento das taxas de juros no mercado americano e à situação no Oriente Médio, além de preocupações sobre a situação fiscal doméstica. Apesar dessas incertezas, é provável que mais cortes de 50 pontos ocorram em 2024.

Não acredito que a Selic vá terminar este ciclo em 11% ou 10,5%, como indicado pela curva de juros, muito por conta das turbulências recentes, tanto no cenário internacional quanto local. Estou mais inclinado a pensar que o Banco Central buscará uma taxa de juros de um dígito, em torno de 9%, entre o final de 2024 e o início de 2025, por mais gradual que seja esse processo. Além disso, não há grandes surpresas esperadas para hoje, a menos que Brasília decida nos surpreender. Na reunião com líderes do Congresso ontem, o presidente reafirmou que não planeja contingenciar gastos no próximo ano e deixou em aberto a possibilidade de revisar a meta fiscal, levando-a a um déficit de 0,25% ou 0,50% do PIB, o que está mais alinhado com as expectativas do mercado, embora ainda seja melhor do que a mediana das expectativas. Pelo menos Lula afirmou que não gastará um centavo a mais do que já prometeu. Vamos ver… O arcabouço que já não era ideal parece estar se mostrando ineficaz antes mesmo de ser implementado.

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· 01:42 — Os caminhos do Fed

Nos Estados Unidos, as ações registraram um ganho considerável ontem em mais uma recuperação ampla do mercado, à medida que os investidores se preparavam para o anúncio do Federal Reserve previsto para hoje, assim como para os dados de emprego e uma enxurrada de resultados corporativos. Pelo segundo dia consecutivo, todos os 11 setores que compõem o S&P 500 apresentaram ganhos, com 417 das suas ações fechando em território positivo. No entanto, esse movimento não foi suficiente para compensar o terceiro mês consecutivo de queda do S&P 500, algo que não ocorria desde março de 2020 (em outubro, o índice recuou 2,2%). Esse declínio pode ser explicado em parte pelos juros de mercado persistentemente elevados, a temporada agitada de resultados corporativos e a situação tensa na região do Oriente Médio.

Hoje, teremos mais um grande dia na temporada de resultados, com empresas como Airbnb, CVS Health, DuPont, Electronic Arts, Estée Lauder, Generac Holdings, Kraft Heinz, MetLife, Mondelez International, Norwegian Cruise Line, PayPal, Prudential, Yum! e Qualcomm divulgando seus resultados. Além disso, teremos a Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho e o Índice de Gerentes de Compras da Indústria. No entanto, o principal destaque está na decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto. A expectativa geral é que as taxas de juros permaneçam inalteradas. A grande incógnita reside na coletiva de imprensa de Jerome Powell que acontecerá após o comunicado.

Considero plausível que Powell mantenha um tom cauteloso, enfatizando a necessidade de manter as taxas de juros mais altas por um período prolongado e deixando a porta aberta para possíveis aumentos adicionais (no máximo um aumento de 25 pontos-base em dezembro ou janeiro, dependendo dos dados econômicos), semelhante ao que o Banco Central Europeu (BCE) fez recentemente. Qualquer sinal de alívio em seu discurso pode ser bem recebido pelos mercados, especialmente se ele notar uma desaceleração na economia nos dados ou argumentar que os juros de mercado já desempenharam um papel crucial na política do Fed. Além disso, para os meses de novembro e dezembro, a grande expectativa está em relação a uma possível desaceleração econômica, o que poderia aliviar a pressão sobre a curva de juros (alguns dados já indicam essa tendência).

· 02:56 — Um evento fora do radar

Ainda na terra do Tio Sam, além do Comitê Federal de Mercado Aberto, há um evento que está fora do foco geral, mas que pode ter um impacto direto na curva de juros e, por conseguinte, nos mercados globais. Pela manhã, a equipe do Tesouro liderada por Janet Yellen deve anunciar seus planos de captação de recursos para os próximos meses. Neste momento, o que Janet Yellen disser, dependendo do conteúdo, provavelmente terá mais importância do que qualquer coisa que Jerome Powell possa comunicar mais tarde. É importante notar que o último anúncio sobre o plano de oferta de títulos em 2 de agosto provou ser um dos eventos macroeconômicos mais significativos dos últimos três meses.

Naquela ocasião, o Tesouro dos Estados Unidos começou a oferecer títulos com prazos mais longos para financiar o déficit do governo em vez de títulos mais curtos. Desde então, os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos subiram consideravelmente, após terem permanecido estáveis durante 10 meses. Se houver uma reversão para menos oferta de títulos mais longos, poderemos ver uma pressão menor sobre a curva de juros. As notícias recentes sobre o assunto já foram positivas: o Tesouro anunciou que seu plano de captação para este trimestre será de apenas 776 bilhões de dólares, o que representa uma redução de 76 bilhões em relação à estimativa divulgada em agosto. Isso já é um passo na direção certa.

· 03:45 — Nem o Banco do Japão sabe para onde ele quer ir

Um dia após o Banco do Japão sugerir que os rendimentos dos títulos de 10 anos deveriam ser “cerca” de 1%, eles intervieram para manter esses rendimentos abaixo de 1%. O Ministério das Finanças do país revelou que não realizou intervenção cambial no mês passado, mas indicou que estava “preparado” para intervir. Essa ação foi bem recebida pelo mercado, resultando em um aumento no índice Nikkei 225, após o BOJ manter em grande parte sua postura altamente dovish.

Como mencionado ontem, a decisão do Banco do Japão de fazer apenas um pequeno ajuste em sua política de controle da curva de juros desapontou os investidores que esperavam medidas mais agressivas. Atualmente, o BoJ é o único grande banco central que mantém taxas de juros negativas, o que é considerado atípico no cenário global. Além disso, o banco reiterou seu compromisso com suas políticas de compra de ativos e flexibilização quantitativa.

É evidente que o presidente do banco, Kazuo Ueda, deve ter sido lembrado das complexidades que enfrenta ao tentar avançar com cautela em direção à normalização da política monetária sem perturbar os mercados. Essa transição provavelmente será muito gradual após décadas de políticas excessivamente frouxas.

· 04:39 — Ruídos sobre uma eventual escalada

Os rebeldes Houthis do Iêmen entraram no conflito que envolve Israel e o Hamas, mesmo que esteja acontecendo a uma distância de mais de 1.600 quilômetros de sua base em Sanaa. É importante destacar que não se trata do governo do Iêmen, mas sim de um grupo radical do país. Recentemente, os Houthis reivindicaram a responsabilidade por ataques com drones e mísseis contra Israel. Essa ação representa uma nova frente no conflito para os Houthis, que estão envolvidos em uma guerra desde 2014 contra uma coligação iemenita apoiada pela Arábia Saudita na região do Golfo.

Essa notícia surgiu enquanto o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, retornava a Israel após as primeiras incursões terrestres direcionadas em Gaza, alimentando preocupações sobre o prolongamento das semanas de conflitos. Autoridades de saúde na Faixa de Gaza, embora nem sempre confiáveis, relataram que o campo de Jabaliya foi atingido por uma série de ataques aéreos israelenses. As forças militares de Israel afirmam que seus alvos eram apenas infraestruturas do Hamas na área, resultando na morte de um alto líder do grupo terrorista. Os riscos de uma escalada do conflito ainda persistem e podem ter impacto no mercado de petróleo.

· 05:27 — Ainda dá tempo de comprar

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.